ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Escavação da Muralha.

POR ocasião do 500º aniversário da fundação da vila de São Cristóvão de Havana, o Gabinete do Historiador da Cidade está envolvido em ações para revitalizar a cidade. Com esse objetivo, há vários anos, alguns locais históricos vêm sendo recuperados, entre os quais a Muralha ou Muro de Havana, que em um dado momento delimitou o perímetro marítimo da cidade.

Esta muralha foi o mais importante elemento fortificado do século XVII na Ilha, e sua construção está relacionada a vários aspectos da história de Cuba e da Espanha.

A proteção da cidade foi uma importante razão para a construção da Muralha, no entanto, não foi a única, pois o abrigo da Carreira das Índias foi outro elemento levado em conta.

É bom lembrar que Havana tornou-se para os espanhóis o porto mais importante da América, porque aqui se reuniam as duas frotas que retornavam à Espanha com os tesouros coletados em suas colônias.

A partir de 1674 começaram os trabalhos, pelo menos aquele que chega até os nossos dias, e esse projeto foi dirigido pelo engenheiro militar Juan Císcara. O trabalho teve início no local chamado Trecho de Terra, que começou no castelo de La Punta e acabou em Tenaza, ou a área onde estava o Arsenal ou as Docas Reais da cidade. O principal motivo que favoreceu essa área foi a vulnerabilidade que a cidade apresentava nesses setores. Para 1698 acredita-se que findaram as obras nessa área.

Mas nesta fase inicial de construção determinou-se expandir alguns sectores marítimos: a partir do castelo de La Punta até perto ao castelo de La Fuerza, e da Tenaza para a área traseira da igreja de São Francisco de Paula.

Considera-se que foi em 1702 quando os trabalhos nesta seção foram concluídos, embora ainda ficassem alguns setores da margem portuária que não foram fortificados na época.

Houve um segundo ponto importante, entre 1733 e 1740, porque, especialmente na área do porto, a parede não tinha a qualidade técnica exigida pelo que se resolveu demolir alguns trechos e reparar outras seções. Depois, foi construída com uma estrutura melhor, com base em blocos de rochas extraídas de diferentes pedreiras.

Alguns autores sugeriram que o processo final de construção total da Muralha culminou em 1797, quando foram feitos alguns fossos. E esta é a Muralha que todos conhecemos.

Vestígios de cerâmica utilizados pelos moradores de Havana encontrados durante este processo.

Este empreendimento militar teve uma extensão total de cerca de 4.892 metros, tinha uma média de 1,40 metro de espessura e 10 metros de altura, e para sua defesa dispunha de uma força de 3.400 homens e um armamento de 180 peças. Essas muralhas se converteram em um ambiente característico da cidade.

Anos mais tarde e devido ao grande crescimento que teve Havana na época, e em consequência do crescimento da cidade fora desses muros e o surgimento de bairros fora das Muralhas, em 1863 foi decidido iniciar a demolição final desse muro, especialmente na seção de terra, tendo-se tornado um inconveniente para a comunicação correta da vila com a área externa. Além disso, a Muralha já não tinha nenhum significado militar e sua existência não era mais necessária.

Foi um processo que levou tempo, não foi totalmente eliminada em 1863, é feito por trechos e ainda no final do século XIX alguns trechos estavam no processo de demolição.

Roger Arrazcaeta Delgado, diretor do Departamento de Arqueologia e responsável pelo trabalho de pesquisa arqueológica na Muralha de Havana, explicou as razões para o resgate desta obra de engenharia:

«Resolveu-se procurar os restos da Muralha por causa do valor histórico que tem ela própria; além do patrimônio histórico e da coerência de uma explicação acerca dos antecedentes da cidade. Também é importante incluir um lugar tão relevante das fortificações de Havana ».

«A sua busca foi relativamente fácil», continua explicando, «porque tínhamos uma cartografia histórica de excelência. Estes dados expressam de forma clara e precisa todo o espaço ocupado pela Muralha. O que fizemos, no processo metodológico, foi usar todos esses planos e sobrepô-los a planos atuais e fotografias de satélite. Com todas essas informações chegamos a ter uma precisão de centímetros e marcar as ruas onde poderia ter estado esta fortificação, mas apenas em alguns pontos, porque grande parte da Muralha está atualmente sob alguns edifícios. Com a ajuda de equipamentos mecânicos quebrou-se todo o pavimento das ruas que faziam parte desse muro defensivo».

Ruínas da Muralha de Havana.

«Foi um longo processo, desde o início de 1980 até hoje. Trabalhou-se em diferentes setores da Avenida do Porto, procurando os vestígios deste muro. Primeiramente, trabalhou-se na Maestranza de Artillería; nas zonas que estão em frente ao antigo Seminário de San Carlos; o Boquete da peixaria, e, finalmente, o correspondente ao que foi a bateria de São Francisco Javier, que está em processo de preparação museológica e de apresentação ao público», diz.

Outro elemento a salientar neste resgate foi a descoberta, em torno das paredes da Muralha, dos restos de uma lixeira da cidade, que mostrou muita evidências do cotidiano dos moradores de Havana dos séculos XVII e XVIII. Entre eles, destacam-se restos orgânicos, sob condições anaeróbias, que permitiram a conservação destes. Achamos sementes de frutas, solas de sapatos, artefatos de madeira, cerâmica, e cascas de ovo, elementos que geralmente não são encontrados tão bem preservados, depois de tanto tempo».

«É muito importante para nós ter encontrado esses restos, porque permitem conhecer os alimentos consumidos pelos moradores da cidade, e nos permite comparar a documentação histórica com as evidências arqueológicas e incluir novas informações que não apareciam nos documentos históricos», acrescenta Roger.

Arrazcaeta Delgado também aponta que, a fim de salvar e resgatar a Muralha de Havana trabalha-se em converter a parede em um museu, que consiga explicar sua relevância e sua história. «Para fazer isso, com a ajuda de painéis e recursos virtuais, esperamos poder recriar alguns aspectos de como foi essa fortificação e suas principais características».