A sociedade Buena Vista Social Club fez 76 anos. Esta instituição foi fundada em 1939, no mesmo ano em que começou o famoso cabaré Tropicana. Reunia um grupo de membros que praticavam atividades relacionadas com música e dança, tendo grande popularidade em Cuba.
A sociedade teve um precedente, em 1932, que se perdeu no tempo e isso foi o que me motivou fazer um passeio pelo popular bairro de Buena Vista, em Havana, até chegar ao lendário e antigo clube social.
“Este foi um bairro muito pobre, com reputação de marginalidade, mas muito unido”, contou-me o último sobrevivente da Sociedade Buena Vista Social Club, Reinaldo Cabrera López, que me acompanhou até o lugar onde esteve localizada a sociedade, em 1932, na época na rua Consulado e Paisaje “A” (atualmente Rua 29, nº 6007, entre 60 e 60A), no bairro Marianao, onde funciona agora um consultório médico.
Era uma grande mansão de madeira, que quando ficou pequena, em 1939, foi transferida para a avenida 31, nº 4610, entre as ruas 44 e 48, no bairro Almendares, Marianao, em uma residência que, infelizmente, estava inutilizada.
Esta nova casa em Almendares tinha 15 metros de comprimento por 20 metros de largura. De um lado se encontrava a entrada dos carros.
A orquestra ou o conjunto tocavam no salão e dançavam, tanto no salão quanto no quintal de dez metros de comprimento e 15 de largura.
Nesta casa apresentaram-se as orquestras mais famosas da época, como as três grandes: a orquestra de Antonio Arcano y sus Maravillas; a de Arsenio Rodríguez e a Melodías del 40, de Regino Fraga, tornando-se famosa com seu guaguancó a Buena Vista.
Duas peças foram compostas e dedicadas a esta sociedade: “Buena Vista Social Club”, com a orquestra Arcaño y sus Maravillas, de Israel Lopez "Cachao" ícone do mambo ou novo ritmo. E “Buena Vista em guaguancó”, de Arsenio Rodriguez, emblema da nova sociedade.
A la la la la la la la
Ouçam este guaguancó
Ouçam este guaguancó,
Que agora eu lhes vou dedicar,
O Club Social de Buena Vista, senhores.
Porque Travieso, Julio Dueñas, Periquito,
Rengifo, Marino, Gustavo e Curbelo,
O terço social de Buena Vista.
A sociedade ganhou fama mundial novamente, em 1997, quando naquele ano foi indicado para um prêmio Grammy o álbum "Buena Vista Social Club", realizado pela banda Afro Cuban All Stars, prêmio que recebeu em 1998, na categoria de Música Tradicional.
A HISTÓRIA RECENTE
Na década de 1990, quase 50 anos depois que o clube social fechasse suas portas, uma gravação feita pelo músico cubano Juan de Marcos González inspirou o compositor, produtor e guitarrista americano Ry Cooder com os músicos tradicionais cubanos, reunidos na banda Afro Cuban All Stars, os cultivadores do son e vários ritmos cubanos de décadas anteriores, muitos deles ex-membros do clube, onde se apresentaram quando sua popularidade estava no auge.
A gravação, nomeada Buena Vista Social Club, em homenagem a esta instituição de Almendares, virou um sucesso internacional.
O disco foi produzido para a empresa World Circuit, de Nick Gold, da Inglaterra. Desde então, o nome de Buena Vista Social Club torna-se uma marca de qualidade e mundialmente famosa. Naquele ano, o grupo se apresentou com sua formação completa em Amsterdã, Holanda.
O diretor alemão Wim Wenders filmou a apresentação, seguido por um segundo concerto no Carnegie Hall, em Nova York, concerto que foi o topo do documentário que resultou do trabalho de Wenders.
O documentário também inclui entrevistas com os músicos, realizadas em Havana. O filme de Wenders, também chamado Buena Vista Social Club, foi aclamado pela crítica e foi nomeado para um Óscar como melhor documentário e inúmeros prêmios, incluindo Melhor Documentário no European Film Awards.
Tanto o sucesso do álbum quanto o do filme provocaram um grande interesse na música cubana tradicional e na música latino-americana, em geral, em todo o mundo. Alguns dos músicos cubanos lançaram álbuns em solitário que foram bem recebidos e gravaram outros em colaboração com várias estrelas da música internacional de diferentes gêneros.
A partir desse momento o nome “Buena Vista Social Club” se tornou um termo que abrange tais apresentações e lançamentos de colaboração, além de interagir como um rótulo, que identifica a “Idade de Ouro da música cubana”, entre 1930 e 1950.
O novo sucesso foi uma segunda chance para os integrantes do grupo: Manuel ‘Puntillita’ Licea, Compay Segundo, Ruben Gonzalez, Ibrahim Ferrer e Pio Leyva, apesar de que estes morreram alguns anos mais tarde, aos 73, 95, 84, 78 e 88 anos, respectivamente; Licea em 2000, Segundo e González em 2003, Ferrer em 2005 e Leyva em 2006.
Ainda existem outros membros importantes, como Omara Portuondo, Elíades Ochoa, o trompetista Manuel ‘Guajiro’ Mirabal, o percussionista Amadito Valdés, o laudista Barbarito Torres, o guitarrista Ry Cooder, seu filho o percusionista Joachim Cooder, o produtor Juan de Marcos González e o ‘tresero’ Papi Oviedo.
Em uma entrevista realizada a Arsenio, o sonero disse que a essas sociedades apenas assistiam as orquestras e conjuntos mais humildes; “As charangas danzoneras como Arcaño , La ideal de Joseíto Valdés, a Típica de Pedrito Calvo, Cheo Belen Puig, Aniceto Diaz, conjuntos como Modelo, Los Astros de René Alvarez e, na década de 1950, Chapottín y sus Estrellas”.
Para as pessoas pobres estes grupos eram os que faziam a música mais sincera, mais genuína e autêntica.
Após o sucesso mundial de Buena Vista Social Club, pela sociedade da Rua 41 passaram milhares de fãs da música cubana, foram realizados documentários e exposições fotográficas, é como chegar a um dos berçosa da música tradicional.