ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA

DESDE sua primeira edição a Mostra Jovem ICAIC tem sido polêmica. Tinha chegado a chamada era do audiovisual e pode dar-se um afastamento da indústria. Apareceram novos sujeitos no alvo das histórias e, ao mesmo tempo, uma marcante essência crítica, tendência que tem ido diminuindo e os realizadores encaminham-se para tópicos mais intimistas e até universais.

A Mostra, projeto belo, importante e transcendente, que nasceu a partir do Instituto Cubano da Arte e Indústria Cinematográficas (ICAIC) para que fosse conhecido um audiovisual que se fazia fora de seus prédios e permitiu descobrir novos talentos, novas abordagens, é hoje umâmbito legitimado pelos jovens realizadores como espaço de encontro e a possibilidade de ver projetada sua obra dentro da magia da sala escura.

Teve um percurso acidentado às vezes, com avanços e desencontros, como todo processo de buscas, de criação, e ainda mais de criação jovem, irrequieta, inconformada, mas em cada Mostra dando provas de busca de temas profundos e de melhorar as técnicas, as estéticas.

A Mostra converte-se, também, no espaço que cada ano dá a possibilidade de confronto entre os próprios jovens e ao mesmo tempo oferece acesso a um diálogo, um intercâmbio, com outras gerações de cineastas, incluídos os agora mestres da cinematografia cubana, novíssimos quando no mesmo 1959 foi fundado o ICAIC.

Em uma extensa entrevista coletiva no Centro Cultural Fresa y Chocolate, para falar acerca da 15ª Mostra Jovem ICAIC (5 a 10 de abril), sua diretora, Marisol Rodríguez, lembrou que no ano 2000 nasceu o Programa de atenção a jovens realizadores e um ano mais tarde a primeira Mostra de Jovens Realizadores, que depois mudou seu nome para o atual.

Dessa forma, alargava-se o panorama audiovisual cubano, pois muitos jovens começaram a aceder às novas tecnologias como meio de expressão. Muitos deles provinham, em primeiro lugar, por exemplo, da Escola Internacional de Cinema de San Antonio de los Baños (EICTV), depois da Faculdade de Audiovisuais do Instituto Superior da Arte (ISA), ou simplesmente aqueles que já possuíam uma câmera.

Hoje o número de fitas que se apresenta chega à centena, mas o Comitê de Seleção para o Concurso, — que existe como em qualquer festival ou evento de cinema— determinou escolher 53 obras, 27 delas de ficção, 17 documentários e nove de animação, porém, devido à co-autoria de algumas, o número de realizadores é de 61, entre eles, e isso é novidade para a Mostra e para o cinema cubano, em geral, 22 são mulheres.

   A Mostra, logicamente, renova-se continuamente e nesta 15ª edição encoraja ainda mais os jovens, a partir do seu próprio lema: Suelten amarras, para onde? “Rumo à criação, a imaginação, o inconformismo, a abulia”, acescentou com a conversa com a imprensa o jovem cineasta e membro de seu Comitê, Juan Carlos Calahorra.

   Devido a que somente o Comitê de Seleção viu as obras no concurso, a interrogante era inevitável: as principais temáticas? “O tom afasta-se das incidências agressivas e há uma exploração na hora de narrar. Destaque para a abordagem feminina dos temas rurais, o relacionamento dos casais, a sexualidade, a violência de gênero, as masculinidades, o suicídio. Outro conjunto encaminha-se a representar conflitos do passado, personalidades com um amplo trajeto de vida. Uma abordagem audaz de múltiplos tópicos.

Para a inauguração na Sala Chaplin — um indício à crítica e ao público? — foram selecionados o animado No country for old squares, de Yolanda Durán; o documentário El outro viaje, de Damián Saínz, e o curto de ficção Con sana alegria, de Claudia Muñiz.

Entre os múltiplos debates que ao longo de 15 edições e fora delas, tem propiciado a Mostra Jovem ICAIC, abriu-se um acerca de se a onda de jovens realizadores é ruptura ou continuidade na história fílmica da Ilha.

Adverte-se, graças à programação, outro indício que praticamente inclui resposta à polêmica: a “abertura fílmica” na própria Sala Chaplin prévia à oficial: a exibição de obras de dois mestres da cinematografia cubana: Aplausos, curta-metragem de Enrique Pineda Barnet, e o longa Últimos dias en La Habana, de Fernando Pérez.

Já hoje a Mostra é um fato consolidado. Um encontro de cinema Jovem, onde certamente predomina a diversidade temática, mas que precisa ir à procura de uma estética de qualidade, que será o que lhe conceda — como prova a obra imarcescível de Enrique Pineda e de Fernando Pérez— transcendência artística.