ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA

CARLOS Acosta estrela do ballet mundial apostou em uma seleção de obras contemporâneas para a apresentação em Havana (8 de abril) de sua companhia Acosta Danza, e uma superlotada sala Lorca, do Grande Teatro de Havana Alicia Alonso, o apoiou.

Para o primeiro confronto, ao subir as cortinas, o novo diretor pose dizer-se que apostou ao certo, com Alrededor no hay nada, coreografia, vestuário e luzes do espanhol Goyo Montero, quem teve a satisfação de sair ao palco para uma ovação final.

A peça carece de música, os dançarinos são acompanhados pelas inflexões das vocês de Joaquín Sabina e Vinícius de Moraes dizendo seus poemas. São dez dançarinos no palco, cada um com algo distinto que contar e, diante da ausência da música, tal como disse o próprio Montero: “dança a voz”.

Desde sua primeira versão titulada, El día de la creación, prêmio do Concurso Internacional de Coreografia CIC 2006 e estreada nesse ano pelo Ballet Nacional de Cuba, foi um sucesso, repetido agora com Alrededor no hay nada

Fauno, coreografia de Sidi Larbi Cherkaoui, um dos referentes atuais mais relevantes da dança contemporânea (quem prometeu uma peça original para Acosta Danza, para o próximo mês de outubro), foi a segunda proposta da noite.

Com a música de Claude Debussy e adicional de Nitin Sawhneym, a peça é um dueto para dançarino e dançarina, assumido aqui por Yanelis Godoy e Julio León (dois bailarinos procedentes do companhia Danza Contemporánea de Cuba).

Fauno, como se pode adivinhar por seu título, tem no começo da execução a celebre coreografia criada e interpretada por Nijinsky para os balês russos, através do poema de Stéphane Mallarmé L'Après-midi d'un faune (A sesta de um fauno). Uma peça sensual e apropriadamente interpretada, que empolgou o teatro.

Antes de um prolongado intermezzo, o programa propôs a estreia mundial da peça, De punta a cabo, do cubano Alexis Fernández (Maca), com uma excelente mistura musical devida a Kumar, Kike Wolf —através de La Bella Cubana, de José White— e Omar Sosa. Uma coreografia ambiciosa.

Para fechar a noite da inauguração chegou a muito esperada versão de Carmen, do próprio Carlos Acosta, estreada pelo Royal Ballet de Londres no ano passado.

A música de Georges Bizet continua sendo surpreendente e a Carmen Suíte, de Rodion Shchedrín é mágica. A orquestra sinfônica do Grande Teatro de Havana Alicia Alonso, regida por Giovanni Duarte, esteve ao nível da obra.

Para seu ballet em um ato. Acosta levou a história de Carmen, da novela homônima de Prosper Mérimée, a um triângulo amoroso de ciúmes e vingança e para isso ele utiliza um vocabulário dançarino que mistura elementos contemporâneos, do flamenco e do ballet clássico.

A cenografia, mínima, atrai imediatamente a atenção com seu enorme círculo vermelho (a praça de touros?) dominando a ação e a imponente figura do touro-destino.

Sem dúvida, impacta o início com Carmen dançando em um semicírculo de homens que, pouco a pouco, vão tirando das roupas; e posteriormente o pas de deux Carmen-Don José, engenhosamente presos nas grades do imaginário cárcere.

Laura Treto (procedente de Danza Contemporánea de Cuba) foi Carmen; Javier Rojas (recém graduado da Escola Nacional de Ballet de Cuba) foi Dom José e Luis Valle (ex-dançarino principal do Ballet Nacional de Cuba) assumiu o papel de Escamillo.

O vestuário de Tim Hatley resultou quando menos surpreendente, porém, às vezes incongruente; por exemplo Dom José vestido apropriadamente de soldado; mas o toureiro Escamillo, com camisa e gravata.

A estreia de Acosta Danza foi muito aplaudida pelo público (incluídos inúmeros dançarinos, coreógrafos e diretores de várias companhias cubanas), que lotou a sala Lorca.

Não pode deixar de significar-se que teria sido empolgante a presença no palco de Carlos Acosta, uns dos dançarinos do ballet mais aclamados do mundo da dança. Todos esperavam que assumisse o papel de Dom José, que sucumbe aos encantamentos de Carmen ou; ainda melhor, no papel de Escamillo, personagem que se corresponde com sua maravilhosa técnica e forte impacto cênico. Desta vez ele ficou nos bastidores.

A promessa esta feita, Carlos Acosta sairá ao palco na temporada clássica. Com Acosta Danza se ampliou qualitativamente o vasto âmbito de companhias com o qual conta Havana.