ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Rubén Darío Salazar junto aos fantoches Pelusín del Monte e a avó de Pelusín (no centro).

O grupo Teatro de las Estaciones, fundado em 1994 e dirigido desde então por Rubén Darío Salazar, tem um estilo inconfundível: uns textos muito bem elaborados, magnífico design cênico, excelente trabalho dos atores e eficiente trilha sonora.

Seu universo é a arte dos fantoches, cuidando das tradições e assumindo as técnicas de animação mais experimentais. Sempre de estreias em sua sede, a sala Pepe Camejo, em Matanzas, cidade de rios e pontes, a uns 100 quilômetros de Havana.

Com seus maravilhosos espetáculos nos quais misturam o boneco originário em retábulo, com a presença ao vivo do ator, apresentaram-se em Festivais Internacionais de fantoches da Espanha, Itália, Estados Unidos, México e a França.

Suas propostas, caracterizadas pelo melhor gosto estético, profusão de delicadeza, ternura, precisão, domínio do palco, vão encaminhadas a todas as idades e atingem o objetivo final, a comunicação com o público.  

Como se tudo o anterior não fosse suficiente, em Teatro de las Estaciones a investigação é condição ‘sine qua non’: “primeiramente, nosso patrimônio nacional, as correntes contemporâneas, a nova linguagem da dramaturgia, e as relações com todas as artes”, afirmou Rubén Darío Salazar, em um breve diálogo nos jardins da sala Llauradó, em Havana, propiciado pela muita próxima 12ª Oficina Internacional de Fantoches, em Matanzas (19- 24 de abril).

Como aprecia os avanços da Oficina, depois de 22 anos de permanência?

“Eu acho que o que aconteceu com a Oficina é essa possibilidade de compartilhar nossa experiência e receber o que se faz no mundo. Sem esta ponte que temos estendido para todos não teríamos tido a graça imensa de ver entre nós mestres dos fantoches da França, México, Japão, a índia, Brasil. Vêm a Cuba e é uma chance de ver o mundo do fantoche, que as pessoas saibam que o fantoche não é simplesmente algo simples e fofinho para as crianças, é uma arte de alcance maiúsculo. Este ano nos visitam nove grupos estrangeiros: a Companhia Teatral Fernán Cardama (Argentina), Teatro de Danny e Dessy (Bulgária), Companhia Maria Baric (Finlândia), Theatre da Massue (França), Teatro La Maga (Costa Rica), Companhia de Fantoches Titerike (Chile), Conjuro Teatro e CREATI AC (Mexico), Y no había luz (Porto Rico) e Guiñol La Roulette (Suiza)”.

Precisamente vocês apostaram e ganharam com o fantoche…

“Não sei se teremos ganhado tudo o que temos sonhado, mas, pelo menos temos conquistado um espaço de respeito, de dignidade, de reconhecimento para uma arte que tem muito tempo, que tem sido muito pouco valorizada por ser desconhecida, que tem sido muito desprestigiada por ignorância de muitas pessoas. Se eu lhe contasse quantas pessoas brilhantes dedicaram um olhar belo aos fantoches, falaria de Stravinsky, com Petrouchka; Coppelia, de Delibes; Shakespeare contra Shaw, de Bernard Shaw, para fantoches; La pájara pinta para fantoches, de Rafael Alberti, Prokofiev com Pedro y el lobo, até Tchaikovski com uma obra como Quebra-nozes, uma história de figuras, objetos.”

O século 21 é do audiovisual, dos computadores, dos videogames. Como encaram esta problemática?

R: “A competição atual do teatro de figuras, com todo o desenvolvimento tecnológico, é forte, agressiva, então aí os que se dedicam aos fantoches, com experiência da vida toda, têm que fazer maravilhas, roubar a atenção da infância e do adulto. É uma competição muito desleal, o qual trouxe também mudanças nos espetáculos, por exemplo, projeções, artefatos tecnológicos potentes, outro tempo, uma dinâmica que se pareça com o mundo da computação. É preciso ser inteligente, saber como funciona esta tecnologia para agilitar o nosso, sem que perca essência, encanto nem magia”.

Na Ilha toda existem inúmeras companhias de fantoches…

R: “Certo, e à Oficina foram convidados 16 grupos cubanos: Nacional de Guiñol, La Proa, La Salamandra, El Arca, Adalett y sus fantoches, Compañía de Marionetas Hilos Magicos, La Isla Secreta (todos de Havana); Los Cuenteros (Artemisa); Papalote, Las Estaciones, Mirón Cubano (todos de Matanzas); Retablos (Cienfuegos); Los Pintores (Villa Clara); Tuyo (Las Tunas) e Andante (Granma)”.

A Oficina foi dedicada aos 60 anos de Pelusín del Monte…

R: “Temos uma linhagem cubana, de 60 anos, que é nada comparada com os asiáticos, hindus, europeus, mas a gente tem que se orgulhar do seu. Pelusín é uma criança de 60 anos, que continua sorrindo, tal como quando Dora Alonso o criou e a desenhou Pepe Camejo. Qual é o boneco que se pode gabar neste país de se manter no repertório ativo da literatura e a televisão? Portanto, é preciso comemorar isso. Celebrando Pelusin celebramos o legado muito cubano dos Camejo e a incrível Dora Alonso”.

Deram um passo mais além da Oficina: uma Rede de festivais da região?

R: “Temo-los denominado Festivais Internacionais de Fantoches das Américas (FINTLA) e é também a possibilidade de que não sejam desaproveitados alguns grupos quando atuem em qualquer país, que não passem despercebidos na região. Vamos fazer as ligações para que os Festivais se comuniquem entre eles e em nível econômico possam ajudar-se para que se vejam as maravilhosas encenações que trazem”.

Falemos de Teatro de las Estaciones neste ano 2016…

R: “Estreamos em janeiro e continua no cartaz Los dos príncipes, de José Martí (sobre um poema da norte-americana Helen Hunt Jackson). É uma proposta que eu chamo de romance entre sombras e luzes. Há muito tempo eu vinha procurando armar um espetáculo para fazer em sombras, não é uma técnica para ser usada com qualquer coisa. De onde vem a sombra? Do Oriente e nasceu, diz a lenda, em consequência do falecimento de uma imperatriz chinesa. Quero dizer, é uma técnica que tem a ver com a morte, com os espectros, os espíritos, os fantasmas e Los dos príncipes vinha a calhar. Para torná-lo contemporâneo lançamos mão da técnica do ‘prequel’, eu conto de maneira fabulada e respeitosa o que aconteceu com essas duas crianças, por que morrem. Contamos que aconteceu antes dessas duas mortes, em sombras, com luzes, e não as sombras à maneira oriental, mas sim sombras em qualquer lado, nos vestuários, os elementos. Tudo é luz e sombras. Fazemo-lo com a música do barroco, que maravilha para mim poder mostrar às crianças cubanas Albinoni, Corelli, Telermann. Acrescentamos a música original para esta encenação do compositor cubano Reynaldo Montalvo, inspirada na barroca. Aqui meus atores cantam a quatro vozes, fazem uma missa de defuntos, um réquiem. As crianças têm que ter acesso a todos os temas. Já José Marti o fez em 1881, em La Edad de Oro, com o poema homônimo. Não é preciso limitar-se para falar da ausência, do ciclo vital da vida. Mais adiante no ano quero resgatar um texto como La virgencita de bronce, nossa versão para fantoches de Cecilia Valdés, que Norge Espinosa nos fez em uma versão fabulosa para retábulo. Depois, saímos para uma digressão pela Colômbia, Brasil e os Estados Unidos”.

É preciso lembrar que Teatro de las Estaciones foi galardoado neste ano com quatro dos prêmios que concede a Associação de Cronistas de Espetáculos (ACE), de Nova York.

Há vários anos, em outra conversação com Rubén Darío Salazar, comentei-lhe que suas maravilhosas encenações e designs, todos seus sucessos, os tinha conseguido desde Matanzas, sem aborrecidos temores provincianos… Disse-me então: “Eu estreio em Matanzas como se estreasse em Paris. Assim preparo meus espetáculos”.

Nada mudou. Conservam o requinte em cada detalhe de suas obras e um estilo reconhecível, mantêm-se na vanguarda da arte das figuras em Cuba e propiciam ao público o encontro com muito do melhor que se faz atualmente no mundo, graças à já estabelecida Oficina Internacional de Fantoches em Matanzas e o novo sonho, uma Rede de festivais da região.