
UM novo filme cubano chega às salas de estreia. É o tempo de Esteban, obra-prima de Jonal Cosculluela, digna de receber uma salva de palmas, começando pela escolha do tema. O cineasta se afastou da violência e o sexo para contar uma história bela e comovente.
O filme teve a estreia na sala de cinema Chaplin, de Havana, e antes desse momento da verdade com os espectadores, o cineasta se reuniu com a imprensa no Centro Cultural Cinematográfico Fresa y Chocolate e explicou sua vontade de ratificar que o mais importante é sempre lutar por aquilo que nos apaixona. É que a fita Esteban aborda, em 90 minutos, a história de um garoto de nove anos que sonha com tocar piano, mas é incompreendido.
Como protagonista do filme o diretor selecionou o menino Reynaldo Guanche, “questão que — disse Cosculluela — requeriu de uma exaustiva preparação porque ele não vinha de uma escola de música ou de atuação”.
A reconhecida e versátil atriz, Yuliet Cruz interpreta a personagem Miriam, a mãe pragmática que se opunha às aulas de piano porque em seu lugar devia pagar os tênis da criança para ir à escola.
Graças ao seu talento e demonstradas capacidades histriônicas, Yuliet Cruz é capaz de interpretar outra mãe, pois já no multipremiado filme Conducta, de Ernesto Daranas, faz a mãe de Chala, outro menino protagonista.
Os atores cubanos Manuel Porto, Raúl Pomares e Corina Mestre, também intervêm no longa-metragem produzido pela casa discográfica Colibrí, RTV Comercial e a empresa espanhola Mediapro.
A história, a música, criada e interpretada pelo pianista cubano Chucho Valdés (vencedor de quatro prêmios Grammy), e as atuações, contribuem à aceitação que teve Esteban entre os espectadores cubanos.
Desde princípios de ano tiveram sua estreia mais dois filmes La cosa humana, do conhecido diretor Gerardo Chijona e outra obra-prima em ficção, Café amargo, do documentarista Rigoberto Jiménez.
Apesar de que seus dois últimos filmes Boleto al paraíso e Esther en alguna parte não estão no plano de seu gênero preferido, a comédia pungente e comprometida com a crítica social, Gerardo Chijona volta à comicidade (é o autor da clássica (Adorables mentiras) com La cosa humana). Em um tom leve ou de duplo sentido este filme aborda as virtudes e defeitos da condição humana, daí o título.
Entre as singularidades do filme, produzido pelo Instituto Cubano da Arte e Indústria Cinematográfica (ICAIC), está explícita a homenagem ao cinema, particularmente, o cinema dos irmãos Coen, à lenda de O Chefão ou o seriado Os Sopprano.
La cosa humana tem muito do melhor do cinema cubano nos aspectos técnicos: o diretor de fotografia Raúl Perez Ureta; o músico Edesio Alejandro; e a montagem de cargo de Miriam Talavera. Não obstante, no elenco radica o maior atrativo do filme. Inclui o jovem ator Héctor Medina o qual assume a interpretação da personagem que o experiente Vladimir Cruz (lembrado co-protagonista de Fresa y Chocolate) desempenhou; a estes se acrescenta o primeiro ator Enrique Molina.
Para esta comédia cruel se unem no elenco Carlos Enrique Almirante, Amarilys Núñez, Marielis Ceja, Mario Guerra e Osvaldo Doimeadiós, artistas todos de alto profissionalismo, todas suas interpretações são impecáveis, de todos os pontos de vista.
A outra estreia, Café amargo obra-prima do documentarista Rigoberto Jiménez, aborda a história de quatro irmãs que moram sem companhia em um cafezal na Serra Maestra.
O filme é narrado em dois tempos, a juventude destas mulheres (interpretadas por Yudexi de la Torre, Yunia Jerez, Janet Batista e Venecia Lanz) é ambientada nos finais da década dos anos 50 e a segunda parte do filme (protagonizado por Coralia Veloz, Adela Legrá, Oneida Hernández e Mirelys Echenique) nos 90 do passado século. O elenco varonil é a cargo do jovem Carlos Mendez e Raúl Capote.
O roteiro de Café amargo, de Arturo Arango e Xenia Rivery, venceu o prêmio no certame Fazendo cinema, na mostra jovem ICAIC e o filme foi realizado de forma independente, mas com o apoio do ICAIC, da Escola Internacional de Cinema, da Televisão Serrana e do Centro Martin Luther King,
Ainda sem ter sido exibida nos circuitos de estreia do país, mas exibida na Mostra Jovem ICAIC 2016, está o longa-metragem de ficção, Últimos dias en La Habana, a mais recente proposta do multipremiado diretor Fernando Pérez, uma coprodução cubano-espanhola.
Prêmio nacional de cinema, Pérez é um cineasta que cativou a atenção dos espectadores desde sua opera prima Clandestinos (1987), e teve sucessos com outros filmes Hello Hemingway (1990), sua antológica Madagascar (1994) La vida es silbar (1998), Suite Havana (2003), José Martí: El ojo del canario (2011), La pared de las palabras (2015).
“Últimos dias en La Habana é uma obra minimalista e muito narrativa e nela— disse o próprio Pérez — como em todos meus filmes me propus desafios. Neste caso o desafio de maior foi desenvolver o drama das personagens 75% do tempo em só um local. Foi algo que nunca fiz e me interessava muito experimentar”.
O filme aborda a relação com seu entorno e seus familiares, de um homem na etapa final da vida, após uma infecção por HIV/Aids. Os conhecidos atores Jorge Martínez e Patricio Wood são os protagonistas da história.
Nos fins do mês de maio já se anuncia a estreia de Leontina, um longa-metragem de Rudy Mora (Y sin embargo..., 2012) interpretada por conhecidos atores, entre eles Corina Mestre, Fernando Hechavarría e Blanca Rosa Blanco.
Inclui-se no gênero fantástico, não muito usual no cinema cubano, e a sinopse antecipada diz: “Pela vontade de aventuras, uma criança organiza uma expedição até El Legionário, uma loja afastada na qual oferecem doces a uma hora especifica. Na travessia descobre raridades no modo de vida do povo e tem impedimentos que são interpostos por alguns moradores poderosos do lugar. O caráter peculiar de Rodrigo, o dono de O Legionário, e a atmosfera de seu local, criam nas crianças grande encantamento, conseguindo mudar o destino e o estado das coisas”.
Por outra parte, o cineasta cubano Lester Hamlet acabou de completar a rodagem de seu terceiro longa-metragem de ficção Ya no es antes, com Isabel Santos e Luis Alberto García, na interpretação protagonizada (em parceira desde o já clássico filme Clandestinos).
O filme volta ao tema de êxodo e a família isolada, dos assuntos em várias ocasiões tratados por o cinema cubano. Esta inspirada na obra teatral Weekend em Bahia, de Alberto Pedro, um dos maiores sucessos da dramaturgia cubana nos anos oitenta.
Com fotografia de Raúl Pérez Ureta (habitual trabalhador de Fernando Pérez e Gerardo Chijona), Ya no es antes é uma produção do ICAIC.
As estreias continuaram, pois Esteban Insausti (Larga distancia, 2010) já começou a rodagem de outra longa de ficção Clube d jazz, também produzido pelo ICAIC.
A trama — diz o site do ICAIC — desenvolve-se em torno de um velho clube de jazz que está a ponto de ser derrubado e durante alguns minutos se lembra sua história, através da vida de três músicos de diferentes gerações. Álvaro Rodríguez, Raúl Capote, Yasel Rivero, Héctor Noas, Samuel Claxton, Yailene Sierra, Alicia Hechavarría, Mario Balmaseda e Luis Alberto García são alguns dos atores e atrizes que trabalham no filme.
Estreias, filmes, recentemente rodados, filmes em pós-produção, filmes em processo de rodagem. Neste ano, tudo assim indica, haverá um bom ano para a cinematografia cubana.