
CONCLUIU a Feira Internacional do Livro de Havana, Cuba 2019. É um epílogo sui generis, pois este evento anual agora começa seu caminho por outras 15 cidades do país, até sua conclusão em 14 de abril, na cidade oriental de Santiago de Cuba.
Nesta 28ª edição, a antiga fortaleza militar de San Carlos de la Cabaña, Havana, tornada recinto de exposições há várias edições, recebeu dezenas de lançamentos de livros, simpósios, conferências, prêmios, estandes e livrarias.
O Granma Internacional lhe oferece a abordagem de alguns elementos para vislumbrar o que aconteceu lá.
Eduardo Heras León: escritor, jornalista, editor, crítico literário e de balé; Prêmio Nacional de Literatura 2014, a quem a Feira é dedicada. Além do Colóquio na sala Nicolás Guillén sobre a vida e obra de quem é bem reconhecido como o Chinês Heras, para os leitores foi gratificante a reedição de seus títulos mais importantes: La guerra tuvo seis nombres e Los pasos en la hierba, bem como o encontro com outros novos títulos como El libro de los elogios, El libro de las entrevistas e El libro de las presentaciones.
Mirta Yañez: A Feira foi honrada com a entrega do Prêmio Nacional de Literatura 2018, à escritora, filóloga, professora e membro da Academia Cubana da Língua.
Considerada uma das intelectuais mais importantes de sua geração, Mirta Yañez (Havana, 1947) se destacou em praticamente todos os gêneros: poesia, histórias, romances e ensaios. Entre seus títulos de narrativa destacam o romance Sangra por la herida, os contos Todos los negros tomamos café, La Habana es una ciudad bien grande, e El diablo son las cosas; os livros de poemas Un solo bosque negro, e Las visitas y otros poemas.
Foi uma das principais pesquisadoras do discurso feminino na literatura cubana, e é coautora, com a também narradora e poeta Marilyn Bobes, da antologia Estatuas de sal.
500º aniversário da fundação de Havana: A data levou à emissão de mais de uma dúzia de livros com temas havaneses, um programa liderado por Ediciones Boloña, do Gabinete do Historiador. Seis novos títulos foram lançados na rua de Madera do Centro Histórico de Havana, Patrimônio da Humanidade.

Assim podemos encontrar obras clássicas como o romance Cecilia Valdés o la Loma del Angel, de Cirilo Villaverde; a antologia Crónicas habaneras, de Alejo Carpentier, quem — diz que sua apresentadora Graziella Pogolotti —«contribuiu para a construção do mito de Havana» e Cuadernos de historia habanera, volumes IV, V, VI, VII, VIII, IX e X, devidos a Emilio Roig de Leuchsenring, Historiador da Cidade de Havana, entre 1935 e 1964. Aos três primeiros volumes, apresentados em 2018, somam-se agora outros sete volumes, que compilam os cadernos de 11 a 36.
Dois eventos editoriais: A reedição pela editora Letras Cubanas, de Oppiano Licario, o romance inacabado de José Lezama Lima, e pela coleção Clássicos da literatura latino-americana da instituição cultural cubana Casa das Américas da obra colossal de Julio Cortázar, Rayuela.
Publicada em primeira edição em 1977, um ano após a morte de Lezama, Oppiano Licario agora foi lançada, depois de 40 anos, no Centro Cultural Dulce María Loynaz, enquanto Rayuela, com o estudo de Lezama Lima para a primeira edição, exatamente meio século depois, a Casa acolheu.
Argélia, País Convidado de Honra: Chegou à Feira com uma delegação de 30 escritores, montando em La Cabaña um belo pavilhão, onde mostrou cerca de 200 volumes sobre herança, história, livros infantis e romances.
A Feira apresentou 18 títulos de autoras e autores argelinos, incluindo os romances Tierra de mujeres, de Nassira Belloula; El viento del sur, de Abdelhamid Benhadouga; Un mar sin gaviotas, Djilali Kellas, e El juramento de Atocha por seu autor, agora ministro da Cultura da Argélia, Azzedine Mihouni.

El juramento de Atocha é uma séria reflexão sobre o fenômeno da violência coletiva, com episódios que continuam acontecendo hoje em qualquer lugar do mundo e sobre ela disse Mihoubi «deve ser entendido como uma mensagem em favor da paz e da necessidade de promover o diálogo e a compreensão entre os povos, porque a cultura constrói pontes».
Números desta festa cultural: 1.300 ações literárias e artísticas, mais de 80 conferências, 50 painéis, 45 prêmios e homenagens, mais de uma centena de leituras de poesia e mais de 150 lançamentos de livros, concertos, mostras de filmes e exposições de Artes visuais.
Fechando a Feira em La Cabaña (17 de fevereiro), Juan Rodríguez Cabrera, presidente do Instituto Cubano do Livro, anunciou que mais de quatro mil títulos e cerca de quatro milhões de cópias já estão disponíveis para os leitores; o público adquiriu cerca de 409.395 exemplares, valor superior a 5 mil ao alcançado na última edição do evento. Aqui, para festejar ao leitor cubano, pode-se citar o imenso argentino Jorge Luis Borges: «Deixem os outros se gabarem das páginas que escreveram; estou orgulhoso do que eu li».
Outros prêmios: A Porta de Papel, instituído para realçar os melhores títulos publicados pelos 22 selos que integram o Sistema de Edições Territoriais, foi para Las memorias vacias de Solange Bañuelos, de Maité Hernández-Lorenzo (Ediciones Matanzas); Prêmio ao Leitor, os títulos com maiores vendas em um ano, foi para o livro Biografia a Duas Vozes, por Ignacio Ramonet (Editora Nuevo Milenio e Gabinete de Publicações do Conselho de Estado), e o Prêmio Portas de Espelho, do Programa Nacional pela Leitura, da Biblioteca Nacional de Cuba José Martí, foi para a escritora e jornalista Marta Rojas por El equipaje amarillo, o mais solicitado pelos leitores em 2018.
O intelectual cubano Miguel Barnet, Prêmio Nacional de Literatura 1994, fez uma interessante reflexão sobre a passada 11ª edição da Feira de Havana, cujo trabalho foi dedicado: «Acho que as feiras do Livro crescem em Cuba e no mundo, porque o livro não pode ser substituído por qualquer coisa, estabelece uma ligação íntima, forte, ardente, sensual e erótica com as pessoas que não pode acontecer com uma fria tela».
Apesar da influência de novas e variadas tecnologias digitais e anúncios do fim do mundo, o livro ainda é desejado. 409.395 cópias vendidas em La Cabaña entre 7 e 17 de fevereiro podem permitir-nos um certo sorriso...?