(...) Uma profunda reflexão coletiva tem sido promovida entre nós em relação aos desafios enfrentados pela cultura cubana nos tempos atuais, intimamente ligada àqueles que enfrenta hoje a Revolução. Várias questões essenciais têm estado presentes em todos os momentos: como podem os escritores e artistas agrupados na União dos Escritores e Artistas de Cuba (Uneac) ajudar mais o nosso país na atual conjuntura? Como podemos contribuir mais ativamente para a melhoria de nossa política cultural? Como podemos combater mais eficazmente as tentativas de nos dividirem e o impacto da onda global de colonização na sociedade cubana? Que propostas podemos fazer que nos aproximem da conquista de novos espaços para o crescimento da vida espiritual da nação?
O governo dos Estados Unidos ressuscitou a Doutrina Monroe e a filosofia do macarthismo (...). Derrotar a Revolução Cubana é uma das suas principais obsessões (...).
(...) Os escritores e artistas cubanos sempre foram defensores da causa da Revolução em todos os palcos nacionais e internacionais. A linguagem da arte e dos nossos intelectuais chegou muitas vezes onde os representantes diplomáticos e oficiais do país não podem acessar. Agora as circunstâncias exigem mais de nós.
II
Estamos comprometidos com a vocação de resistência e transformação revolucionária da nossa sociedade. O legado da geração histórica que nos levou até aqui é fortalecido e multiplicado. Raúl, à frente do Partido, é o repositório da tradição emancipatória que constantemente nos conclama juntos.
(...) Os escritores e artistas têm o dever de ajudar desde a criação e o pensamento até a materialização das aspirações do povo cubano.
Somos encorajados pelo interesse de sermos mais úteis e de consolidar um diálogo sistemático, frutífero e proativo com a vanguarda política e outras instâncias do governo e da sociedade civil. Queremos contribuir com maior inteligência e responsabilidade para a melhoria contínua e implementação de nossa política cultural e das áreas que se interrelacionam de forma inseparável com a cultura, como a educação, as ciências sociais e a mídia.
As tentativas dos inimigos de Cuba de criar uma quinta-coluna intelectual contra a Revolução fracassaram durante todos estes anos e estão destinados a continuar fracassando. Os poucos que conseguiram recrutar não significam nada dentro do poderoso movimento cultural cubano, que também inclui muitos e muito valiosos criadores residentes fora da Ilha, comprometidos com o destino da nação.
III
A União dos Escritores e Artistas de Cuba defende os espaços de liberdade para a criação artística e literária. Trabalha dia a dia pela união de intelectuais e artistas e canaliza sua participação ativa, crítica e comprometida na construção do nosso socialismo.
Damos prioridade ao diálogo franco e aberto com as instituições culturais e reconhecemos como essencial a presença de uma institucionalidade aliada ao talento, afastada essencialmente pelo sectarismo e pela burocracia.
A Uneac aceita o papel do mercado nacional e internacional como forma legítima de circular a arte; mas se recusa a colocar nas mãos da lógica comercial o estabelecimento de hierarquias artísticas e, como um todo, a política cultural, que não pode ser privatizada.
A arte, por sua natureza, não pode ser reduzida a fórmulas. Se aspiramos a uma arte viva, autêntica, que aborde conflitos e contradições, que nos compulse e enriqueça, da Uneac teremos que fazer muito mais por proteger e incentivar talentos, combater o facilismo, o acomodamento e a mediocridade, promover verdadeiras propostas artísticas, incentivar a originalidade, resolver as deficiências e fraquezas no exercício da crítica e colocar os valores da cultura acima de tudo.
A política cultural da Revolução, que optou desde sua criação pela democratização do acesso à cultura, pela defesa da identidade nacional e do patrimônio, sempre levou em conta a participação dos intelectuais e artistas.
IV
Pensar nesta nação, que foi forjada numa luta sustentada contra o colonialismo e o neocolonialismo, contra intervenções e interferências, é outro dos nossos grandes e inadiáveis desafios.
Falando no congresso de fundação da Uneac, seu primeiro presidente, Nicolás Guillén, reclamou trabalhar por uma «cultura para nos dar caráter e espírito próprios (...), uma cultura que nos liberte e exalte e distribua o pão e a rosa juntos, sem vergonha ou medo».
Se concordarmos que o ser humano é, ao mesmo tempo, protagonista e principal beneficiário de nossa sociedade, e o entendemos como um portador da cultura e identidade cubanas, tudo o que façamos a partir da criação e do pensamento terá que prestar homenagem à sua dignidade, igualdade e liberdade plenas.
Se aspirarmos que cada cidadão incorpore em suas atividades diárias a ética da solidariedade, do humanismo, da justiça e da equidade, e rejeite e combata o materialismo vulgar, o comportamento marginal, o egoísmo, a discriminação e a intolerância; devemos nos conscientizar de que a cultura é um terreno fértil para o desenvolvimento de tais valores.
Quando Fidel, no Congresso da Uneac de 1993, pediu para salvar a cultura, não se referia em sentido estrito à proteção de obras, programas e instituições; mas à vida espiritual dos cubanos, concentrada em expressões e valores culturais. Efetivamente, a cultura é a primeira coisa que deve ser salva, porque a cultura é o imaginário e a memória da nação, o núcleo de sua resistência e futuridade.
(Excertos das palavras proferidas na sessão de encerramento do 9º Congresso da Uneac)




