
SE lembrar é retornar ao que foi vivido, então isso foi o que fez o dr. Eusebio Leal Spengler quando chegou, como fez em seus primeiros anos, ao jornal Granma, onde foi convidado, em 23 de julho, de manhã, para acompanhar os trabalhadores do jornal oficial do Partido Comunista de Cuba, nos festejos do 66º aniversário de 26 de Julho.
É difícil acreditar que este homem de essências ilustres, capaz de fazer tremer com sua palavra e seu trabalho até os mais impenitentes, chegava a este jornal em sua juventude, tímido e esperando, para entregar suas «humildes crônicas», criadas a partir das visões de uma criança que viu o colapso da velha sociedade e notou o potencial surgimento da «Revolução, com a fascinante figura de Fidel à frente».
«As noites no jornal foram muito importante», disse Leal, pouco depois de iniciar sua palestra, em que evocou figuras como Emilio Roig, José Zacarías Tallet, José Antônio Portuondo, Conrado Massaguer... todas elas fontes de conhecimento e de pensamento. Logo a plateia adverte que a conversa vai passar por aquelas salas distantes quando o lendário Agustin Pi corrigia suas «falhas» estilísticas e «uma garota adorável» chamada Marta Rojas tomou conta dele lá.
Daqueles primeiros dias, em contato com o universo jornalístico, é inevitável evocar o capitão Jorge Enrique Mendoza, «aquele que fez jornalismo na Serra», o «homem sentencioso que ouvira quando criança na Rádio Rebelde à noite, para capturar seu sinal»; e que disponibilizou para nós a página ideológica, marcada com o número dois, aquela que «sempre mostrava a posição do jornal em relação ao acontecimento político».
Aqui Leal aprendeu das hierarquias de notícias, o valor das manchetes, a emoção de ver um pensamento escrito em tinta de impressão e da substância da notícia, o valor da palavra escrita, a busca angustiante da verdade, tão essencial na profissão do repórter.
Como uma consigna mantém em sua memória, «que está aqui no jornal», ter sido capaz de ouvir a voz de Celia, com seu sotaque particular, chamando-o de Eusebito, e tendo encontrado neste local os grandes heróis da epopeia revolucionária dirigida pelo Comandante-em-chefe Fidel Castro.
Uma profunda admiração por esses homens liderados pelo líder da Revolução é observada a partir das anedotas oportunas para fazer rir um público que no meio da espantosa atenção começou a «sofrer» por causa de um som alto vindo de fora, que interrompe a nitidez de sua voz: «Não os assuste o barulho do mundo, porque no meio do mundo temos que viver». Trata-se, é, de conviver com a realidade, de explicá-la, de saber o que está acontecendo. E inclusive, ficar felizes de que esteja acontecendo. Porque o silêncio é ruim. «Ontem, hoje e amanhã sempre haverá, diante de qualquer criação e de qualquer trabalho, grandes contradições», explica ele na mais perfeita demonstração de serenidade diante do adverso.
A paixão, tão natural em sua fala, torna-se gigante quando fala do evento que mudou a vida de um golpe para seus contemporâneos: «foi a Revolução a grande, a grande, a que pôs a minha geração, cheia de desejos..., a trabalhar por ela, lutar por ela».
Leal fala do extraordinário significado de estar em Cuba hoje, no momento em que vivemos. Ele não pode conceber o pensamento sem retornar de novo e de novo a Fidel, em um retrato em que o líder emerge em suas dimensões naturais.
Da difícil tarefa desempenhada pelo Comandante-em-chefe de administrar um Estado e uma Revolta atacada e atacada, onde sempre tudo teve que ser calculado, absolutamente tudo, Leal aludiu: «Fidel era um mestre na arte da política externa e entendeu que a direção principal dessa batalha estava nas relações entre Cuba e os EUA., um país que «nunca quis a independência de Cuba», precisou.
Após a morte de Fidel, um vazio experimentado pelos melhores filhos de Cuba, «uma figura relevante entra em cena na história do movimento», disse, para fazer uma referência óbvia ao general-de-exército, Raúl Castro Ruz.
Em uma bem elaborada síntese, Leal retratou o homem que não falhou em nenhuma das tarefas que lhe foram confiadas, ao menino a quem o irmão insurgente foi procurar o lar e, desde então, cresceu, por via de continuidade, «uma vocação que transcendeu a fraternidade puramente fraterna»; «o adolescente da bandeira do dia glorioso do enterro da Constituição»; «o mais jovem que aparece na foto do Moncada»; o criador do Segundo Front; «o primeiro a entrar no quartel Moncada, seguindo a ordem de Fidel»; aquele que arrebatou da parede, pisoteou o retrato do ditador e causou o colapso moral de todos aqueles que haviam assassinado seus próprios companheiros ali.
Raúl — continuou — tendo Fidel e Vilma doentes, «assumiu a difícil liderança do Estado e do Partido», e é o mesmo que «conseguiu colocar o Estado em condições regulares, que renegociou a dívida externa, porque na época em que ele o fez foi possível; o autor da lei de imigração, da distribuição de terras; a regularização do trabalho autônomo; o autor, fundamentalmente do texto constitucional, tendo presidido a comissão de redação, «aquele que deixou o Estado organizou e organizou e soube encontrar, na massa dos dirigentes do PCC, o jovem presidente Miguel Díaz-Canel».
A maneira pela qual nos honra a lealdade de Raúl aos ideais fidelistas foi sublinhada pelo palestrante, que lembrou o general-de-exército como protagonista da histórica conversa com o presidente Barack Obama, em 17 de dezembro de 2014, e advertiu que, mesmo que os momentos atuais sejam muito difíceis, a Revolução Cubana é um evento irredutível.
Leal considerou ser um homem de sorte, que foi capaz de encontrar tantos líderes do ato revolucionário no jornal: «Tenho orgulho de ser filho do meu tempo. Filho da Revolução e ter acessado a ela em meio a uma total falta de preparação», disse, lembrando-se da «ordem» benevolente que recebeu desses fundadores: «Consagre seus esforços e sua espiritualidade em um trabalho. Treine, estude».
Tal como queria Fidel, Leal foi para a Universidade: «Depois muitos prêmios vieram, mas nenhum vale o que eu vi. Se eu ficasse cego, a luz do meu tempo estaria dentro. A memória de tais heróis nunca será estranha para mim».




