Dentro do esquema editorial cubano temos um mecanismo que em 13 de agosto passado completou seus 20 anos, o Sistema de Edições Territoriais (SET). A proposta de que em todas as províncias se pudesse visibilizar o talento local, bem como os conteúdos próprios dos diferentes pontos da geografia nacional, escritos por autores dessas paragens, nasceu de alguém que pediu ao povo – do qual seria para sempre o líder – que não acreditasse, mas que lesse, convencido do efeito liberador da leitura e do conhecimento.
A ideia teve lugar na Expocuba. Reunido ali com os diretivos municipais da Cultura, Fidel Castro se referia à necessidade de difundir as criações literárias, e comentava que os nascentes escritores, ao não terem a possibilidade de difundir sua obra, podiam ser absolutamente desconhecidos. E a seguir, pediu que lhe informassem quais eram os recursos que se precisavam para que cada província cubana tivesse sua própria casa editora.
Chamado também Riso – por causa das máquinas Risograph, que foram então instaladas – o SET entrou com passo firme ao mundo da cultura cubana, e hoje são 22 as casas editoras que o conformam.
Não somente de números inspiradores dizem respeito estes 20 anos de vida, mas também que, em plenos dias da pandemia, quando o país está envolvido no combate à Covid-19, chegam boas novas para estas casas «produtoras» de literatura. Para revelá-las, e conhecer mais de perto os rumos dessa realidade cultural, Juan Rodríguez Cabrera, presidente do Instituto Cubano do Livro (ICL), conversou com o Granma Internacional.
«Estas casas editoras que vieram trabalhando com um equipamento nem sempre idôneo, e recebem constantemente manutenção para poder publicar os livros, serão beneficiadas com novas máquinas Riso, para cada uma das províncias. O processo de distribuição está agora mesmo acontecendo. Também foi dado às províncias o papel e os insumos que estavam atrasados durante dois anos, e aquilo que está sendo entregue abrange metade da dívida atual. Trabalha-se duro para cumprir o que está faltando», explica Rodríguez Cabrera.
Acerca do processo produtivo na Riso, o diretivo indica que à casa editora «lhe foi dado o equipamento para fazer o livro nessa pequena indústria. Diferentemente do que acontece com os títulos que vão à grande indústria, nestas o processo começa e termina na própria casa editora. Têm guilhotina, encadernadora, impressora, tudo. Com elas não somente foram dados a conhecer vários autores, muitos que atingiram renome, mas também se formaram editores, designers, encadernadores. A diferença com a grande indústria é que na Riso são feitos livros de pequenas tiragens, e livros que não tenham mais de 110 páginas, porque essa é a capacidade de sua máquina».
«A Riso pode mostrar hoje seus frutos. Nestes 20 anos foram impressos mais ou menos 4.300 títulos e 4,2 milhões (4.200.000) de exemplares. Em torno de quatro mil escritores publicaram suas obras; muitos deles, em mais de uma ocasião».
Algumas províncias têm mais de uma casa editora, o resto ao menos uma. Das 22, cinco delas pertencem à Associação Hermanos Saíz (AHS) e se encontram em Isla de la Juventud, Cienfuegos, Villa Clara, Holguín e Matanzas. Nelas, embora possam publicar autores estabelecidos, são priorizados os autores mais jovens».
«O sistema não somente serviu para fazer literatura pura de Cuba», refere Rodríguez Cabrera, mas também «permitiu demonstrar o desenvolvimento de cada território a partir das suas publicações com pesquisas históricas, científicas e textos que acompanharam os distintos gêneros. Muitas destas casas editoras não têm nada a invejar a uma editora nacional, porque há cinco anos foi tomada a decisão de que, além de fazer as pequenas tiragens, se uma casa editora tem uma proposta de um livro contundente que possa ser de interesse para o país, Riso a assume, embora não a imprima, porque seria uma tiragem grande, que se faz na indústria. Hoje, o plano editorial nacional, que se faz nas grandes tipografias, tem mais de cem livros que são do plano especial, que são destas editoras. Podem ter vários livros do plano especial e também de autores internacionais que cederam os direitos e são de interesse nacional».
O SET estendeu seu perfil. «Se bem mantém o seu objetivo principal, também melhorou seu design, ampliou a qualidade, por isso hoje há livros seus que são prêmios da Crítica, de Design do Livro, do Leitor, e têm um alcance que antes não tiveram. Participa de concursos nacionais e obteve notáveis reconhecimentos».
É evidente que nas mais recentes tiragens se aprecia um aumento da qualidade. «Em média, todos os anos na Riso se fazem por volta de 260 livros, e se busca com zelo manter a qualidade. Não quer dizer que nestes 20 anos todos os livros que foram impressos sejam imprescindíveis, também foram feitos livros que não mereciam ser publicados, mas podemos dizer que a maioria deles contribuiu à cultura nacional, com um perfil cada vez mais amplo».
Sobre a promoção destes livros e sua presença na Feira Internacional do Livro (FIL) o diretivo também fala. «Embora não suficientemente desejado, aumentou a promoção destes livros, e embora tenham presença na FIL, sentimos que deve e pode ser maior, nela e nas feiras provinciais».
A estratégia de trabalho para garantir a saúde do SET é defendida pelo ICL. «Quase todos os anos fazemos uma sorte de workshop territorial desde Guantánamo até Pinar del Río, para trocar experiências, reconhecer livros, seus designs, o livro mais integral. Temos conseguido que nesses workshops sejam atualizados os melhores resultados, por isso hoje esse livro está muito mais desenvolvido. Essa troca permitiu retificar erros. Para fazer valorizações coletivas é preciso se livrar um pouco da auto-suficiência, do “eu”. Essas análises nos ultrapassaram, eles próprios pediram esses encontros, e hoje temos os resultados».
Muitos dos livros com o selo do SET são semelhantes aos das grandes casas editoras. «Anteriormente, a capa do livro na Riso era feita a preto e branco. Nos últimos anos, conseguiu-se que apenas tenha diferenças com os que são feitos na grande indústria, porque a capa é feita na poligrafia, a cores. Conseguem fazer-lhe o “lombinho” aos livros, embora tenham poucas páginas, o qual tem melhor apresentação. O trabalho é manual e se faz. Na grande indústria, se não tiver mais de 110 páginas, não se lhe faz o lombo».
Parte dos 180 selos que integram a indústria editorial cubana, o SET é dessas realidades que trazem uma inestimável satisfação. «Esse espaço que o sistema cobre não é possível ocupá-lo com as casas editoras nacionais nem com a grande indústria. Um autor que começa deve experimentar e ver a receptividade de sua obra. Pensar que a grande indústria possa fazer 400 exemplares e acabar com a Riso não é a ideia. A Riso tem seu lugar, esteve bem pensada e hoje é um orgulho a sua existência. Faz parte do grande sistema editorial cubano. Sempre haverá novos escritores, e a Riso deve ter o grande mérito de ser o primeiro descobridor desses talentos, que depois são os grandes escritores do país».