
Um documentário de duas horas e 20 minutos com apenas uma pessoa falando? Fiz um gesto de dúvida sem saber exatamente a que se referiam. Quando terminei de assistir, olhei para o relógio sem acreditar na passagem do tempo e querendo saber mais.
Auguste Rodin escreveu em seu testamento que «a arte é uma magnífica lição de sinceridade e o verdadeiro artista sempre expressa o que pensa, mesmo correndo o risco de abalar todos os preconceitos estabelecidos».
O cineasta Manuel Pérez Paredes teve a sorte de encontrar com a mais absoluta sinceridade o general aposentado do KGB, Nikolai Leonov, amigo de Cuba, e principalmente de Raúl Castro, desde a época em que derrubar a tirania de Batista era um projeto que não podia ser adiado na mente de um grupo de jovens liderado por Fidel.
Leonov tem uma virtude que os bons diretores valorizam e que Manuel Pérez soube aproveitar: sabe contar, ser divertido, travesso — talvez sem querer — usar os tons certos, rir e levar a sério quando a ocasião o exige.
A primeira parte do documentário deixou a gente querendo continuar sabendo. As expectativas são mais do que satisfeitas na última edição, que a Mesa Redonda exibe hoje, 15 de outubro, a partir das 18h30, e que se concluiu com Leonov em Havana, em fevereiro de 1960, como tradutor da delegação de alto nível da URSS presidida por Anastas Mikoyan. O que foi dito durante aqueles dias em que o governo Eisenhower agitava não apenas as armas de suas ameaças sobre nossas cabeças? A mesma vontade de saber salta quando o entrevistado fala da entrevista de Fidel com Nikita Khrushchev em Moscou, com ele como testemunha, meses após a Crise de outubro, um destaque que, pela primeira vez, deixou o tradutor nervoso.
É especialmente difícil para Leonov falar sobre os últimos anos da União Soviética e as causas que levaram ao seu colapso. Uma análise pessoal sua a ter em conta ao relatar o papel desempenhado na história por ineptos, oportunistas e traidores.
Muito a ponderar e lucrar com essas confissões, mas os argumentos não são contados. Além disso, ver a vida que ficou para trás é uma lição de humanismo que, com a mesma sinceridade de Leonov, recomendo.




