
Mestiço foi o nome que nosso poeta nacional, Nicolás Guillén, deu ao espírito de Cuba. Autor de belas páginas em que o ser humano brilhava acima de preconceitos e avaliações sinistras, Guillén falava de coquetéis e misturas para se referir à natureza de nosso povo e, em 1931, sonhava que «um dia», em nome da verdade, diria «cor cubana».
Em 1959, uma Revolução triunfou, liderada por um discípulo apaixonado de José Martí que, tal como ele, sabia que o homem é muito mais do que a cor de sua pele e, desde o primeiro dia de seu governo, defendeu a vontade de erradicar o racismo e a discriminação racial, que reinavam na Cuba em que ele havia vivido até então.
Muita chuva caiu desde 1º de janeiro de 1959, e muita dor passou por essas águas. «As políticas públicas de bem-estar social adotadas desde então têm caráter universal e atingem todos os cubanos igualmente», disse Julio Rensoli Medina, secretário do grupo de coordenação executiva do Programa Nacional contra o Racismo e a Discriminação Racial, Color Cubano. Rensoli acrescenta que, embora muitas barreiras tenham sido superadas por meio da igualdade de oportunidades, ainda há manifestações de preconceito com base na cor da pele.
A mensagem vem no contexto da Conferência Internacional Cuba 2024, Década dos Afrodescendentes, que desde 9 e até 13 de dezembro está sendo realizada em Havana e Matanzas, convocada pelo Programa Nacional contra o Racismo e a Discriminação Racial.
O quanto se avançou e o quanto falta fazer para banir esse flagelo, em Cuba e no mundo, será discutido nesse evento do qual participarão cerca de 240 delegados de mais de 15 países e que incluirá, além de espaços de debate, visitas a museus, instituições e comunidades. A cor cubana não só terá que ser dita, mas também sentida no coração. Entre os inúmeros desafios que Cuba enfrenta, o ditado pelo poeta não é menor nem adiado.




