A 45ª edição do Novo Festival de Cinema Latino-Americano manteve «a ilusão, a esperança e, acima de tudo, ratificou a convicção de que sempre teremos um festival de cinema latino-americano», disse o primeiro-secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e presidente da República, Miguel Díaz-Canel Bermúdez.
O chefe de Estado se reuniu na noite de terça-feira com cerca de cinquenta cineastas, produtores, teóricos, promotores e outros artistas e intelectuais ligados à Sétima Arte, da região, do mundo e de Cuba, que participam do festival cultural que é realizado todo mês de dezembro em Havana desde 1979.
O presidente quis «agradecer a presença» de tantas personalidades no evento e reconhecer a administração e os funcionários do Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica (ICAIC) por sua capacidade de organizá-lo em meio às difíceis condições pelas quais a nação está passando.
«Não tenho tido tempo nestes dias para ver filmes, o festival em Cuba é uma celebração e sempre o planejamos como uma família, mas estes tempos têm sido tão complicados que não pudemos fazê-lo», disse Díaz-Canel aos convidados, a quem explicou todas as dificuldades, naturais ou não, que Cuba vem sofrendo.
A reunião, que contou com a presença de Abel Prieto, presidente de Casa das Américas, de vários vencedores do Prêmio Nacional de Cinema que participaram da primeira versão do festival em 1979 e de outras personalidades da cultura cubana, também foi liderada por Alpido Alonso, ministro da Cultura, e Alexis Triana, presidente do ICAIC, que agradeceu à liderança do país por todo o apoio dado ao evento.
De acordo com os vencedores do Prêmio Nacional de Cinema, Manuel Herrera, Mirtha Ibarra e Eslinda Núñez, esse foi um festival muito bem-sucedido. «Apesar das enormes restrições, como apagões, problemas de transporte e problemas cotidianos, os cinemas ficaram lotados», disseram.
A atriz Mirtha Ibarra confessou ter ficado «surpresa com o entusiasmo, a organização e a grande quantidade»; «não consigo superar minha surpresa», enfatizou. Eslinda Núñez falou de «um público feliz e contente, salões cheios; as pessoas estão muito felizes». «Estamos vendo como as pessoas gostam de ir ao cinema, e isso nos enche de satisfação e orgulho», disse ela.
O cineasta Manuel Herrera relembrou o surgimento do Festival do Novo Cinema Latino-Americano. «Essa 45ª edição, adotou os princípios do movimento, injetou vitalidade nessa nova estética, que sempre teve de trabalhar com poucos recursos», refletiu.
«O Festival recuperou sua função inicial, que é mostrar o cinema latino-americano, um cinema que é difícil de ser visto no mundo, por isso podemos continuar a fazer muito e devemos continuar nesse caminho», insistiu.
CUBA: UM PONTO DE ENCONTRO
O intercâmbio entre Díaz-Canel e as personalidades nacionais e internacionais presentes no festival começou com os comentários da cineasta argentina Paola Becao, que participa do Fórum de Animação da América Latina e do Caribe, uma iniciativa que está em sua segunda edição.
Queremos que esses fóruns continuem sendo realizados aqui, no Festival, porque Cuba, disse, «continua sendo um farol e um ponto de encontro para os cineastas latino-americanos e os cineastas de animação».
Esther Hirzel Galarza, diretora dos Estúdios de Animação do ICAIC, que funcionam há mais de seis décadas, comentou sobre o trabalho dessa instituição, que há 20 anos conta com uma nova sede, promovida pelo Comandante em Chefe Fidel Castro Ruz, e que já acumulou mais de 1.500 títulos, totalizando mais de 9 mil minutos, que continuam acumulando-se, apesar das fortes limitações tecnológicas, graças ao seu coletivo.
Ricardo Cuesta, vice-presidente da Fundação do Patrimônio Cinematográfico da Colômbia, comentou sobre a restauração de vários materiais cinematográficos cubanos, como As Aventuras de Elpidio Valdés e Elpidio Valdés contra o Trem Blindado, apresentados no festival no contexto das homenagens a Frank Padrón.
Expressou a disposição de sua instituição de ampliar a colaboração, com base nas tecnologias de última geração à sua disposição, bem como o compromisso de continuar a recuperação da memória audiovisual da América Latina e do Caribe, que inclui entre seus eixos os vínculos com a Fundação Novo Cinema Latino-Americano e a Escola Internacional de Cinema de San Antonio de los Baños.
O cineasta Adrían Carrazco Zenis, codiretor da Cinemateca da Nicarágua, transmitiu a Díaz-Canel os cumprimentos do comandante Daniel Ortega e da vice-presidente da Nicarágua, Rosario Murillo, e informou sobre os acordos entre a Cinemateca da Nicarágua e o ICAIC, incluindo a produção da série Martí, Gómez y Maceo, em coprodução com vários países da América Central.
«Cuba foi fundamental para o nascimento e o desenvolvimento do cinema nicaraguense desde 1979, e já teve dez de suas obras distinguidas como Patrimônio Imaterial da UNESCO», destacou.
Na mesma linha, Manuel Antonio Villa, presidente do Instituto Hondurenho de Cinema, também enviou saudações a Díaz-Canel da parte da presidente Xiomara Castro. Destacou a assinatura de um memorando de entendimento com o ICAIC e pediu apoio para continuar desenvolvendo o cinema de seu país, não em termos de recursos, mas com base em sua experiência e treinamento; apoio, explicou, baseado «naquela visão cubana que fez da cultura e do cinema uma política de Estado».
«O cinema também é uma manifestação da cultura de nossos povos, de nossos anseios», comentou. E «Cuba, apesar de suas dificuldades, conseguiu fazer algo que só pode ser feito com experiência e compromisso».
A norte-americana Carol Rosenberg, presidente da American Friends da Fundação Ludwig, que dirigiu o Festival de Cinema de Havana em Nova York nos últimos 25 anos, fez um discurso especial.
Criado em 2000, esse festival internacional é dedicado à promoção do cinema latino-americano ou de filmes sobre a América Latina e é um exemplo, destacou Rosenberg, das relações que podem existir entre Cuba e os Estados Unidos mesmo nas piores circunstâncias. «O governo de Nova York, até reconheceu o festival como um de seus eventos culturais mais importantes do ano», disse.
O merecido reconhecimento também foi oferecido ao cineasta jordaniano-palestino Darin J. Sella, que trouxe ao festival seu trabalho Farha, que está sendo exibido na Seção Cinema da Palestina, apresentado como uma demonstração de solidariedade com esse povo irmão.
Darin agradeceu ao presidente Díaz-Canel por estar sempre ao lado da Palestina. «Obrigado por estar do lado certo da história», disse. «Nós compartilhamos muitas coisas, como coragem, resiliência e muitas outras coisas entre nossos povos para resistir à opressão».
O cineasta argentino Tristán Bauer, presidente do júri do Festival, relembrou o longo e árduo caminho de emancipação percorrido pelos povos da América Latina e do Caribe por ocasião do bicentenário da Batalha de Ayacucho, e «agradeceu a Cuba de minha memória e de meu coração, porque o triunfo da Revolução Cubana também foi fundamental para a cultura de nossos povos, porque Cuba continua sendo um farol fundamental», destacou.

DEFENDER O FESTIVAL DE CINEMA É DEFENDER A CULTURA
Em suas palavras finais, Díaz-Canel reiterou sua gratidão às personalidades internacionais que participam das exibições, dos eventos teóricos e das demais atividades realizadas: «Se não fosse pela equipe do ICAIC, pelos cineastas cubanos e por vocês não teria havido um festival», disse.
«Mesmo que tenha havido muito esforço, mesmo que tenha havido muita vontade por parte de Cuba, vocês fazem parte da concretização desse festival nesses tempos difíceis, que se agravaram nos últimos meses, embora estejamos sujeitos a grandes dificuldades há quatro anos devido ao endurecimento do bloqueio», refletiu.
Depois de comentar que Cuba tem experiência e está preparada para enfrentar os desafios que virão, o compromisso de nosso país, disse ele, é poder criar mais riqueza material para distribuir com justiça social, e é aí, explicou, que também está a defesa da cultura da Revolução e a defesa de um espaço como o Festival do Novo Cinema Latino-Americano.
«Nós estamos determinados, e vamos conseguir, ter uma situação econômica melhor para os cubanos, argumentou. «Mas se a partir de agora, em tempos de crise, não trabalharmos com a cultura, se não trabalharmos para desenvolver uma vocação humanista em nosso povo, uma espiritualidade que é alimentada pela cultura, que é alimentada pelo cinema, quando tivermos riqueza material, como seremos diferentes daqueles que têm muito e o distribuem mal?».
«Em meio às situações mais complexas», destacou ainda, «temos que desenvolver esse humanismo, esse sentimento de solidariedade, sentimentos emancipatórios, de cooperação, de colaboração. É por tudo isso, que mantemos o Festival do Novo Cinema Latino-Americano, e o manteremos».
Mas não é a única coisa, acrescentou, há um mês tivemos o Festival Internacional de Balé, estamos no meio da Bienal de Havana, com todas as tendências das artes plásticas, e agora este Festival, onde todas as tendências audiovisuais coincidem, onde cineastas consagrados e jovens compartilham experiências por meio do debate e da harmonia, ao contrário de outros festivais, onde predominam outras concepções, algumas delas elitistas.
Depois de enfatizar que esse é um festival que tem sido leal a seus fundadores, como Fidel, García Márquez e Alfredo Guevara, Díaz-Canel afirmou que «nem mesmo o bloqueio mais forte do mundo será capaz de nos impedir de continuar sendo uma referência em cinema, porque em meio a vicissitudes econômicas e energéticas, esse evento é uma prova do valor de nosso povo», argumentou.
«Em Cuba, sempre haverá um Festival do Novo Cinema Latino-Americano, e haverá um festival porque há vocês, aqueles que nos visitam, aqueles que também compartilham nossas ideias, e porque há a equipe do ICAIC, e a da Fundação do Novo Cinema Latino-Americano, nosso ministério da Cultura, nossas instituições que também trabalham nessa empreitada. Portanto, viva o Festival do Novo Cinema Latino-Americano», reiterou.