
Admirar uma pessoa na distância, deixa espaços vazios em torno a valorizar justamente seu valor e decisão de se impor na vida. Eu experimentei isso com a corredora Omara Durand, embora sempre tenha visto nela o reflexo dessa mulher cubana invencível de cara à vida.
Distintas razões não tornaram possível dialogar com ela anteriormente. Hoje, eis o paradoxo! O tão necessário distanciamento físico, propiciou a chance para entabular esta conversação, graças à magia da Internet.
Você estava a ponto de concluir a preparação, após a lesão na perna esquerda, durante o campeonato mundial de Dubai-2019, e então chegou a pandemia.
«Tinha iniciado a preparação em fevereiro, recuperada totalmente, mas a Covid-19 obrigou a mudar o rumo, daí que na casa estivesse realizando exercícios físicos para manter o equilíbrio do peso corporal e o tom dos músculos».
«Afetou-me o adiamento dos Jogos Paraolímpicos de Tóquio, porque estava psicologicamente apta para me apresentar em ótima forma esportiva. Foram quase três anos de preparação para classificar e concorrer no evento, agora devemos esperar».
«De tudo aquilo que acontece eu tiro o lado bom, este descanso ativo me deu a possibilidade de desfrutar mais da minha filha, pois havia tempo que não estava assim com ela e o resto da família. Além do mais, nos últimos anos tive várias lesões musculares, e agora consolido essa recuperação, cuidando em geral da saúde».
Vai tentar repetir em Tóquio as três medalhas de ouro obtidas no Rio-2016?
«Assim que reiniciar os treinamentos o farei com a máxima entrega e responsabilidade, para chegar a essa competição em condições de dar o melhor de mim. As medalhas chegarão de acordo com o esforço que fizer na pista, não me preocupam para nada meus 28 anos de idade. O único que imagino é sentir como vai ressoar várias vezes no estádio o hino nacional de Cuba, enquanto é içada nossa bandeira».
Segundo indica o programa dos Jogos Paraolímpicos, você vai ter que correr umas sete vezes, em aproximadamente uma semana.
«Minha preparação é muito forte, pois vou participar de várias corridas; nos 100, 200 e 400 metros. Contudo, existe um gênio que dá o toque, para que eu possa triunfar nas três distâncias, que é minha treinadora Miriam Ferrer, uma profissional com muito talento».
Que pensamento domina sua mente ao se parar no bloco de saída?
«Nesse momento, não há tempo de pensar em algo, somente me concentro para escutar o disparo e correr com precisão».
Qual é a diferença de se preparar para os 100 metros e os 400?
«Ambos são eventos de velocidade, mas nos 400 é preciso trabalhar durante os treinos a resistência à velocidade, enquanto nos 100 metros o trabalho é insistir somente na velocidade. Miriam planeja tudo de tal maneira que na semana tocamos tudo ao mesmo tempo e, realmente, não é difícil».
Durante os intensos dias de competições, quantas horas você descansa?
«Em muitas ocasiões tive que enfrentar duas corridas no mesmo dia, pelo qual o descanso é mínimo, mas, ao terminar a sessão, tento dormir oito horas, para me relaxar».
Considera, futuramente, correr nos 800 e 1.500 metros?
«Eu vejo essas corridas tão longas como uma possibilidade remota. Nunca as pratiquei, nem as praticarei, somente chego aos 400 metros que, para mim, é muito. (Reforçou a resposta com um sorriso).
Como decorre a interação com o guia Yuniol Kindelán?
«No começo dos treinos juntos custou trabalho coordenar o movimento dos braços e as pernas, mas superamos isso sem problemas, embora com grande insistência. É uma interação muito bonita, já levamos cinco anos unidos, existe química e coesão entre nós. Agradeço a Miriam Ferrer por ter trazido Yuniol a minha vida.
Quem moram em seu lar?
«Tenho uma bela família, incondicional. Minha mãe Adis, meu irmão Osmany, meu esposo Noleysis, e a menina, Ericka, vivem todo o tempo em função de que eu dedique o maior tempo ao esporte, assumem as preocupações e cuidam do meu horário de descanso».
Que opinião tem de si mesma?
«Sou uma fiel servidora da Revolução, do esporte e do povo de Cuba».
Qual é seu sentimento para esse povo que tanto a reconhece?
«Eu sinto um eterno agradecimento e compromisso com os cubanos. Sempre representarei dignamente a Pátria, na pista continuarei dando o melhor esforço para obter bons resultados e propiciar-lhes muitas alegrias. ●
FATOS RELEVANTES DO SEU DESEMPENHO
Omara Durand nasceu em 26 de novembro de 1991, em Santiago de Cuba.
--Duas medalhas de ouro (100 e 400 metros) nos Jogos Paraolímpicos de Londres-2012, na categoria T-13, fraco visual.
--Três medalhas de ouro (100, 200 e 400 metros) nos Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro-2016, na categoria T-12, fraco visual profundo.
--Triunfadora em Campeonatos Mundiais, os mais recentes em Dubai-2019, Emirados Árabes Unidos, em T-12, com tempo de 23s57 segundos, em 200 metros, o melhor tempo do ano. Também dominou os 100 metros (11s66) e os 400 (52s85), para se manter invencível nestas lides do mundo, desde Christchurch, Nova Zelanda-2011. Conseguiu igualmente três medalhas de ouro nos Campeonatos Mundiais de Doha, Catar-2015, e em Londres-2017. Nesta última edição não se entregaram medalhas nos 200 metros, por não se completar o número de atletas requeridos.
--Possui as marcas pessoais de 11s40 no hectómetro; 23s03 nos 200 metros, e 51s77 nos 400 metros. Liderou as três distâncias nos Jogos Parapan-americanos de Lima-2019.




