
Recentemente, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou que, tanto os homens quanto as mulheres da seleção nacional de seniores vão receber a mesma retribuição monetária, quanto ao montante de receitas e prêmios pagos, durante os períodos de preparação e nos jogos.
Rogério Caboclo, presidente da CBF, explicou em um encontro com a imprensa que esta igualdade de pagamento foi adotada durante a primeira convocação do time feminino, em marco de 2020. O federativo brasileiro assinalou que «o que os homens vão receber na próxima Copa do Mundo será proporcionalmente igual ao proposto pela FIFA. Já não há diferença de gênero, porque a CBF trata os homens e mulheres da mesma forma».
Diante da notícia, a futebolista Marta Vieira Da Silva, considerada em seis ocasiões a melhor jogadora do mundo, declarou à CNN Brasil que «estamos muito contentes com esta notícia, independentemente de que chegasse mais cedo ou mais tarde, é melhor do que nunca».
Igualmente, acrescentou que «os preconceitos e o machismo acabam prejudicando o desenvolvimento do esporte, como investir no futebol feminino, de maneira que possa ter a estrutura necessária para que a atleta lhe possa dedicar 24 horas como profissional, tal como acontece com as seleções masculinas. É importante aproveitar este momento para continuar o trabalho que muitos esportistas e ex-jogadores começaram faz tempo e agora estamos começando a colher os frutos».
Desta maneira, o Brasil se junta a uma pequena lista de países que já estabeleceram tal paridade. As federações da Noruega, Nova Zelândia e Austrália acordaram, em 2017, 2018 e 2019, respectivamente, garantir a igualdade em salários, prêmios e patrocínios para suas seleções nacionais.
Não obstante, a diferença salarial continua se agravando. A mulher esportista costuma ter salários mais baixos, menos patrocinadores e menor presença nos meios de comunicação. Para apenas colocar alguns exemplos, o brasileiro Neymar, do Paris Saint-Germain, recebeu 36,5 milhões de euros na campanha anterior, o mesmo montante de 36 jogadoras juntas das ligas francesas, alemã, inglesa, estadunidense, sueca, australiana e mexicana.
Em 2019, os melhores jogadores pagos em um e outro sexo, foram Alex Morgan e Lionel Messi. A jogadora estadunidense recebeu 408 mil euros e o argentino 112 milhões, de acordo com dados da revista L’Football. A seleção dos EUA, campeã do mundial Canadá-2015, levou 1,6 milhão de euros; enquanto que a Franca, vencedora em Rússia 2018, conseguiu 30 milhões. Precisamente, em 2015, a Copa do Mundo de futebol feminino, foi o segundo evento esportivo mais visto nos Estados Unidos, atrás do Super Bowl.
Este fenômeno não somente afeta o futebol, mas se estende ao esporte, em geral, com a única exceção do esqui. Outras disciplinas, como o basquete, acrescentam essas diferenças. A liga feminina de basquete dos Estados Unidos (WNBA) é a dos melhores salários; contudo, a atleta melhor paga recebe uma quinta parte do salário da NBA, a liga masculina.
Por seu lado, o tênis conseguiu paridade nos prêmios dos quatro Grand Slam, embora não em todos seus certames. De fato, duas tenistas aparecem entre os cem esportistas melhor pagos em 2020, segundo a Forbes: Naomi Osaka, vencedora. Recentemente, do Open dos Estados Unidos; e Serena Williams, nas 29ª e 33ª colocação, respectivamente.
Este tema suscita os critérios mais diversos. Frank de Boer, ex-futebolista e técnico atual do Atlanta United, da MLS, considera «ridículo pensar em igualar os salários de homens e mulheres no futebol, devido a que não geram o mesmo quanto a direitos e patrocínios». Entretanto, Rafa Nadal considera que se deve receber em função do que se gera.
Por seu lado, o ex-corredor Carl Lewis se pronunciou a esse respeito, defendendo o direito da mulher a receber os mesmos dividendos; além do mais, em uma ocasião ele chamou Donald Trump de «misógino e racista, por eludir os assuntos de igualdade no esporte».
Se bem com a inclusão da CBF na lista de federações que promovem a igualdade salarial, foi dado mais um passo, o caminho a percorrer ainda é longo, e seu sucesso vai depender, em boa medida, das políticas governamentais consequentes e de maior pressão por parte dos meios de comunicação.




