CARACAS.— A Rede de Intelectuais, Artistas e Movimentos Sociais em Defesa da Humanidade, finalizou nesta cidade seu 12º encontro com uma Declaração Final que reafirma de forma contundente o respaldo ao povo da Venezuela e ao seu governo legítimo, na tenaz resistência que travam contra os afãs imperiais e da oligarquia interna para destruir a Revolução Bolivariana.
Com vista ao continente, a declaração reconhece que a região sofre uma “ofensiva de recolonização conservadora por parte do imperialismo e as oligarquias locais”, estruturada para “banir todas as conquistas dos processos progressistas regionais no campo da justiça social, a soberania, a integração e a gestação de um autêntico poder popular”.
O fórum — que durante quatros dias reuniu aqui dezenas de personalidades do pensamento e da cultura mundial — definiu a nação sul-americana como o alvo principal da cruzada conservadora e, ao mesmo tempo, reafirmou sua posição indeclinável de solidariedade; exigindo, ainda, a derrogação imediata do decreto presidencial norte-americano que qualifica o país como ameaça e se somou ao rechaço da Lei de Anistia que a oposição interna pretende impor para favorecer os criminosos.
“Convocamos uma ampla mobilização em defesa da soberania e a autodeterminação do povo venezuelano”, refere o documento, que também pede “parar de forma definitiva as tentativas golpistas contra o governo bolivariano”, e de apoio a todos os processos sociais, ativistas e líderes progressistas da região “que estão sendo vitimas de uma verdadeira caçada” uma estratégia articulada que comparou com o tristemente conhecido Plano Condor.
Os intelectuais denunciaram energicamente “o uso manipulado da justiça para criminalizar diferentes políticos populares, como Dilma Rousseff, Lula da Silva e Cristina Kirchner”, e conclamaram a realizar passeatas em massa em frente das embaixadas do Brasil no mundo todo, para deter o golpe de Estado em execução e a repressão militar contra o movimento dos Sem Terra.
Repudiaram, aliás, o assassinato da líder hondurenha Berta Cárceres, pronunciaram-se a favor da libertação da lutadora indígena argentina Milagro Salas e do independentista porto-riquenho Oscar Lopez Rivera, apoiaram as demandas de justiça pelo desaparecimento dos 43 estudantes secundaristas mexicanos e condenaram a ofensiva do paramilitarismo na Colômbia que entorpece os atuais processos de conversações para uma paz definitiva.
A Rede também censurou a tentativa de “denegrir a autoridade política e ética” do mandatário boliviano Evo Morales, os planos de derrocamento e fustigação contra Rafel Correa no Equador, bem como o uso da criminalidade com fins políticos para desestabilizar o governo de El Salvador.
No âmbito da mídia, aderiu ao repúdio mundial aos atos abertos de censura contra a Telesur na Argentina, e convocou a criar uma plataforma comum de meios que se opõem à hegemonia, que seja capaz de desenvolver, em nível das massas, “uma nova cultura oposta ao consumismo, que contribua para a formação de um sujeito social não manipulável, solidário e crítico que se resista ao assassinato ou esquecimento da nossa memória, patrimônio da identidade e consciência histórica”.
APOIO AO GOVERNO VENEZUELANO
O encontro, que começou em 8 de abril, teve como centro do debate a Venezuela e o desafio que encara a Revolução Bolivariana contra o cerco capitalista internacional e a desestabilização promovidas pela oposição interna.
Dezenas de criadores, pensadores e ativistas de vários países do mundo se alinharam no apoio ao governo da nação sul-americana. O vice-presidente executivo da República, Aristóbulo Istúriz, e os ministros Jorge Arreaza e Freddy Ñañez, expuseram acerca da complexa realidade política, econômica e social do país.
Istúriz explicou as diversas dimensões da batalha colossal de resistência que a Revolução Bolivariana trava “contra a ofensiva imperialista, o cerco financeiro internacional, a guerra econômica de uma oligarquia interna que ainda promove a violência, bem como a mais intensa campanha da mídia lançada jamais para desacreditar o governo de uma nação”.
Em suas declarações à imprensa cubana, o herói Antonio Guerrero, um dos Cinco lutadores antiterroristas que sofreram injusto encarceramento nos Estados Unidos, comparou as agressões constantes contra a Venezuela com as que por mais de 56 anos suportou a Ilha maior das Antilhas, algo que une os dois países em uma mesma causa.
“Os cubanos sabemos bem que por trás dos problemas com que se defronta a Revolução chavista está a mão do imperialismo, tal como está nas conspirações contra todos os movimentos populares da região; mas a Venezuela tem um alto componente de justiça social que a fortalece. Os povos da América do Sul já não são os mesmos de antes”, afirmou.
FRONT COMUM FRENTE À MURALHA DA MÍDIA DO NEOLIBERALISMO
“Está em andamento uma ofensiva de restauração conservadora para fazer recuar todos os processos progressistas que mudaram o destino deste continente”, expressou o escritor e político cubano Abel Prieto, presidente do fórum, quem considerou necessário que os intelectuais, ativistas e artistas se agrupem para formar um front que acabe com a ‘muralha da mídia’ ao serviço do neoliberalismo”.
Igualmente, significou a necessidade de articular as diferentes forças que lutam contra os interesses neoliberais.
O escritor cubano manifestou que “a América Latina e o Caribe deixaram de ser o quintal dos Estados Unidos e há uma ofensiva para que essa condição deplorável e subordinada volte, mas existem muitas pessoas dignas, muitos grupos, correntes, muitas tendências contra, muitas pessoas jovens e boas que vamos descobrindo nestes encontros”, citou a Telesur.
Também explicou que o objetivo foi precisamente fazer crer, através dos diferentes órgãos da mídia, que essas reuniões entre intelectuais e artistas só se realizam entre pessoas maduras, com uma estratégia para posicionar o pensamento de que a ideologia revolucionária é coisa do passado.
“O objetivo é que isso não seja conhecido, fazer com que as pessoas jovens se dediquem a tolices, a acompanhar a vida privada dos famosos, perder o tempo, viver uma vida de um suposto ‘presentismo’ onde não existe o passado”, refletiu Prieto.
Portanto, o presidente do fórum sublinhou a capacidade de aproveitar todos os espaços pertinentes e possíveis, como fóruns, feiras do livro e festivais, para utilizar a rede de intelectuais, de artistas e de movimentos sociais como instrumento de defesa da verdade e a humanidade e meio de articulação para lutar na medida de suas possibilidades contra a mídia hegemônica.