OS movimentos sociais, populares e sindicais do mundo participaram do evento na cidade do Salvador, capital do estado brasileiro da Bahia, que se localiza no Nordeste desse país.
O encontro em Salvador da Bahia, que finalizou em 17 de março, começou com uma grande caminhada desde Campo Grande até a praça Castro Alves, no centro antigo da cidade, onde o Foro Social Mundial (FSM) «tem tudo para impactar politicamente na atual conjuntura», valorizou o membro do Grupo Facilitador, Carlos Tibúrcio, segundo a Prensa Latina.
Para o jornalista e diretor da web Rádio Democracia no Ar-Rede de Resistência Democrática, dado a conhecer nos primeiros dias do evento, há fortes razões para que este encontro mundial seja uma grande trincheira de resistência à ofensiva do capital internacional, e terá também especial importância para as forças sociais e políticas brasileiras.
O programa do Foro incluiu, além de outros, a realização, em 14 de março, de um colóquio acerca do estado de exceção no Brasil e as desigualdades, a fragilidade democrática e o poder das elites.
Outros dos temas debatidos foram a judicialização da política e a politização da justiça; Desigualdades: quais, por que e até quando?; o preconceito racial, violência e discriminação os direitos humanos no Brasil do golpe.
O colóquio concluiu com um debate acerca dos desafios da esquerda: a luta pela unidade em um futuro incerto. Com motivo da programação se desenvolveram, também, as Assembleias Mundiais de Mulheres e dos Povos, Movimentos e Territórios em Resistência, bem como as denominadas atividades de convergência, as autogeridas e outras de caráter político-cultural.
CAMINHADA PELOS POVOS
Uma caminhada desde a praça Campo Grande até a Castro Alves, conhecida como Praça do Povo e palco das maiores manifestações de luta e resistência baiana, inaugurou o FSM.
Na peregrinação, participaram mais dos 20 mil inscritos que deram a vida pelo encontro. Antes da caminhada inaugural, a primeira denúncia feita no Foro foi contra as tentativas do governo de Michel Temer para deixar sem voz a sociedade civil brasileira. A acusação foi feita depois de se conhecer que a rede da mídia, Empresa Brasil de Comunicação (EBC), não transmitiria o evento, porque o chefe desta não autorizou viajar seus jornalistas à sede, informou a PL.
Concebido como um espaço de troca, na edição de 2018 o FSM procurou definir estratégias de resistência às políticas neoliberais de desmontagem dos direitos sociais e de enfrentamento aos golpes antidemocráticos produzidos em diferentes países latino-americanos, nos últimos anos.
CUBA NO FORO
A delegação cubana participou de várias sessões onde os temas se focaram na América Latina e sua resistência contra o imperialismo; bem como a luta da Ilha maior das Antilhas pela eliminação do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos, e a devolução do território ocupado ilegalmente pela base naval em Guantánamo.
Em Salvador da Bahia, um dos integrantes da delegação cubana, José Miguel Hernández, líder da Organização de Solidariedade com os Povos da Ásia, África e América Latina (Ospaal), alegou que o encontro dá a possibilidade de resgatar um espaço para as forças progressistas e da esquerda latino-americanas.
Referindo-se à participação de Cuba, Hernández destacou que a Ilha não podia deixar de estar em um foro que dos seus começos, em 2001, foi plataforma de consolidação de todos os processos de transformação que tiveram lugar na América Latina.
«Nós sempre recebemos no Foro muitas manifestações de solidariedade com nossas causas, como a recusa do bloqueio estadunidense; a luta pela liberdade dos Cinco Heróis, que sofreram injusta prisão nos Estados Unidos, e pela devolução do território ilegalmente ocupado pela base naval em Guantánamo ou outras», sublinhou.
Disse que «nossa presença aqui também expressa, de alguma forma, o apoio à maioria do povo brasileiro, empenhado na defesa de Lula e nos permite também acompanhar as expressões de solidariedade com a República Bolivariana da Venezuela, com seu povo e seu presidente, Nicolás Maduro».
Entretanto, dois tribunais, um contra os despejos e outro para julgar os feminicídios de mulheres negras, foram duas das ações realizadas, que também incluíram um debate acerca da ofensiva imperialista, a solidariedade com os povos e a luta pela paz.
O tema do imperialismo estadunidense foi debatido também em uma palestra organizada pela Escola Latino-americana de História e Política (Elahp), uma instituição autônoma destinada a contribuir para a formação teórica e cultural daqueles que estão ligados às grandes lutas sociais destes tempos.
A VOZ LEVANTOU-SE PELA VEREADORA DO RIO, MARIELLE FRANCO
De vários órgãos da mídia chegaram as denúncias pelo assassinato a tiros da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, um fato que comoveu e mobilizou todo Brasil.
No Foro Social Mundial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse: «Há que ser muito ignorante e ter demônios no corpo para acreditar que abatendo uma mulher de 38 anos esmagarão suas ideias libertárias e de defesa dos negros, os pobres e excluídos; ao avesso, estas são hoje mais fortes».
Marielle Franco, uma conhecida ativista dos direitos humanos e a quinta mais votada nas eleições de 2016 para o Conse-lho do Rio de Janeiro, foi assassinada quando viajava de carro por uma rua do centro da cidade, na noite da quarta-feira (14), depois de ter participado de um ato político.
Franco denunciou os abusos da polícia nas favelas, dias antes de morrer, e se pronunciou publicamente contra a intervenção do exército na segurança no Rio de Janeiro, que completa um mês.
O QUE É O FORO SOCIAL MUNDIAL?
Trata-se de um espaço internacional de encontro para refletir, debater democraticamente ideias, procurar e construir alternativas daqueles que no mundo rejeitam a globalização neoliberal, o domínio do capital e contra toda forma de imperialismo. Sua proclamação de Um outro mundo é possível o torna um processo permanente de procura e construção de alternativas de caráter mundial, cujas propostas se contrapõem à globalização neoliberal regida pelas grandes transnacionais e os governos e instituições que servem aos seus interesses. Reúne e articula entidades e movimentos da sociedade civil de inúmeros países.