
A complementaridade e o trabalho conjunto são elementos fundamentais para encontrar soluções e enfrentar em conjunto os altos preços dos alimentos e as pressões inflacionárias que atualmente têm um impacto negativo sobre o bem-estar de nossos povos.
Esta é a essência das propostas apresentadas na quarta-feira, 5 de abeil, à tarde, durante uma Cúpula virtual convocada pelo Governo do México, na qual a delegação cubana foi chefiada pelo primeiro-secretário do Comitê Central do Partido Comunista e presidente da República, Miguel Díaz-Canel Bermúdez.
Participaram da reunião presidentes, primeiros-ministros e representantes de alto nível de 11 nações da América Latina e do Caribe, uma das regiões mais afetadas pela crescente inflação no mundo.
O anfitrião da reunião e presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, saudou o intercâmbio e falou das múltiplas trocas econômicas e comerciais que podem ser desenvolvidas entre nossos países se «chegarmos a um acordo e removermos obstáculos, tarifas e medidas sanitárias».
«Cada país tem algo a oferecer aos consumidores, tudo com o objetivo de garantir que os alimentos e os produtos básicos possam chegar a melhores preços e que possamos enfrentar a inflação e os preços altos, que são uma ameaça permanente, um risco, porque afetam muito a economia popular», disse.
É por isso que López Obrador está tão interessado que a partir desta reunião - que abre o caminho para que outras sejam realizem futuramente- os representantes das nações convocadas possam chegar a um acordo «para trocar alimentos e produtos básicos» e que governos e empresários, industriais, cadeias comerciais, assim como os envolvidos na importação e exportação, também possam participar disso.
«Desta forma», disse López Obrador, «poderíamos nos ajudar mutuamente e, sem deixar de lado as organizações já existentes, os acordos comerciais que temos entre países e os acordos bilaterais, ver como no futuro podemos nos ajudar mutuamente no intercâmbio econômico e comercial».
Durante mais de duas horas, os participantes compartilharam ideias e apontaram estratégias que poderiam expandir as facilidades comerciais entre as nações da região; fortalecer as medidas logísticas e financeiras; promover o intercâmbio de tecnologia e conhecimento; bem como contribuir para a construção de capacidades para o desenvolvimento de políticas e mecanismos econômicos e comerciais que levem em conta as realidades de cada país e que geralmente tenham um impacto na necessária diminuição da inflação que prejudica nossos povos.
APROVEITAMENTO DO POTENCIAL, CAPACIDADE E VONTADE POLÍTICA
Com uma exortação para «aproveitar o potencial, a capacidade e a vontade política para empreender, sem demora, ações práticas de grande impacto sobre o bem-estar de nossos povos», o chefe de Estado cubano iniciou seu discurso na reunião da quarta-feira, 5 de abril.

Díaz-Canel lembrou que foi em Campeche, em meados de fevereiro, quando o presidente mexicano compartilhou a possibilidade de realizar esta Cúpula, em meio à oportunidade «que a situação política regional nos oferece, para realizar projetos de benefício para o povo».
«Esse é o principal mérito desta reunião», disse Díaz-Canel: «seu senso de urgência imposto a nós pelos problemas desafiadores dos tempos atuais».
O discurso do dignitário cubano foi conciso e muito objetivo, salientando que além da «eliminação de tarifas e outras barreiras não tarifárias, podemos recorrer ao comércio de permuta. Este último,é uma modalidade atraente para Cuba, dadas as severas restrições impostas pelo bloqueio e a inclusão arbitrária e injustificada na lista de Estados que, segundo os Estados Unidos, patrocinam o terrorismo, o que limita severamente as relações financeiras do país».
Além disso, o presidente cubano destacou a importância de promover «o intercâmbio de serviços essenciais, bem como a cooperação, para aumentar a produção de alimentos, em particular alimentos básicos e bens essenciais, e o acesso a eles».
Também enfatizou a urgência de aproveitar imediatamente a capacidade produtiva e industrial instalada em nossos países, a fim de contribuir para a complementaridade; para trabalhar no modelo de transferência de tecnologia para a produção de alimentos; e para atender à conectividade de nossas cadeias de distribuição intrarregionais, marítima e aérea.
Em suas palavras, também expressou sua confiança de que as propostas e ações emanadas desta reunião poderão em breve ser estendidas a outros países da América Latina e do Caribe. «Nosso compromisso com uma visão de integração e cooperação regional será a pedra angular de nossos esforços comuns», disse.
«Vocês podem contar com a vontade e o compromisso de Cuba. Estamos muito interessados em resultados concretos e rápidos. Não podemos ser atrasados ou lentos enquanto nossos povos esperam», concluiu.
ACORDANDO AÇÕES COMUNS PARA O BENEFÍCIO DE NOSSOS POVOS
Trabalhando juntos, os participantes da Cúpula concordaram, é a única maneira de enfrentar com sucesso a crise econômica galopante que prevalece atualmente em todo o mundo. Inclusão, solidariedade e cooperação internacional são elementos-chave que devem ser colocados em prática urgentemente, e em cada um dos países, a fim de alcançar ações verdadeiramente concertadas, com vistano fortalecimento das economias e dos setores produtivos.
«A solução do problema da inflação, que nos afeta a todos»-valorizou o presidente boliviano, Luis Arce Catacora -«tem que estar entre nossos países, entre nossos mercados, entre as demandas que temos como região».
Daí a importância que atribuiu em suas palavras à realização desta Cúpula, que nos permite avaliar o problema da inflação na região e como trabalhar a partir daí para enfrentá-lo.
Entre as causas desta inflação, Arce Catacora se referiu aos efeitos da crise climática, uma crise que «a humanidade não foi capaz de parar e que avança a passos largos, com efeitos sobre os ciclos agrícolas e muitos outros fatores decisivos na produção de alimentos».
Luiz Inácio Lula da Silva, um dos líderes da região que mais tem promovido e apoiado políticas de combate à fome e à pobreza, destacou que embora «este encontro reúna líderes progressistas em nosso continente, é importante lembrar que a fome não tem ideologia, nem é de direita nem de esquerda; a fome adoece e mata homens, mulheres e crianças em qualquer parte do mundo; nem faz distinções políticas, nem pergunta em quem votaram suas vítimas nas últimas eleições».
«A fomeafeta quase um bilhão de pessoas em todo o mundo, das quais 270 milhões estão na América Latina e no Caribe».Daí sua ênfase em trabalhar para garantir que cada vez menos pessoas sofram com ela. «A fomeé o resultado de decisões políticas irresponsáveis, criminosas e perversas».
«Confrontar a fome requer, acima de tudo, vontade política e determinação», ressaltou, após referir-se a experiências muito positivas implementadas no Brasil durante seus governos anteriores e o de Dilma Rousseff. «O Brasil está pronto para compartilhar suas políticas públicas de sucesso com todos os países interessados», disse.
Mais tarde, a vice-presidente venezuelana Delcy Rodríguez leu uma mensagem enviada pelo presidente Nicolás Maduro Moros, na qual transmitiu aos presentes suas reflexões sobre o atual contexto inflacionário na região e compartilhou um conjunto de propostas referentes fundamentalmente à questão da segurança energética.
«Devemos ousada e coletivamente tomar um caminho alternativo para derrotar a inflação e a fome em nossa região. Nossa proposta: vamos usar a energia de nossos países para produzir alimentos para todos», disse o líder venezuelano.
Também expressou a vontade do governo venezuelano de «ser o ponto de apoio para uma solução estrutural para o problema alimentar em nossa região; as portas estão abertas para trabalhar em projetos conjuntos para a produção de fertilizantes, dedicando recursos regionais e entre o investimento público e o setor privado».
Da mesma forma, com vistas a uma agenda antiinflacionária que possa ser implementada em curto, médio e longo prazo, o presidente venezuelano compartilhou em sua mensagem cinco linhas de trabalho que poderiam ser desenvolvidas conjuntamente: consolidar uma poderosa aliança para a integração energética e petroquímica entre os países da América Latina e do Caribe; construir uma nova arquitetura financeira regional; estabelecer o princípio de complementaridade em nossas economias; interligar como um único bloco com os países Brics, dos quais o Brasil já é membro; e rejeitar conjuntamente bloqueios econômicos criminosos.
Nesta Cúpula, que exigiu reflexão e ação coletiva de nossos governos para enfrentar o problema extremamente complexo da inflação, os participantes falaram, entre outras questões, da concepção de intercâmbios comerciais mutuamente vantajosos; da previsão de ações para reduzir o peso da dívida de seus respectivos países; da implementação de mecanismos de compensação financeira; bem como da necessidade de identificar políticas públicas para a segurança alimentar e nutricional.
Durante esta primeira sessão de trabalho, os presidentes da Argentina, Alberto Fernández; do Chile, Gabriel Boric; e de Honduras, Xiomara Castro, também tomaram a palavra. O primeiro-ministro de Belize, Juan Antonio Briceño; o ministro do Comércio, Indústria e Turismo da Colômbia, Germán Umaña; e o ministro da Fazenda, Planejamento Econômico e Tecnologia da Informação de São Vicente e Granadinas, Camilo Gonsalves, em sua qualidade de presidente Pro Tempore da Comunidade dos Estados da América Latina e Caribe (Celac), também tomaram a palavra.
Levando em conta a importância do tema central da reunião e a urgência com que ela precisa ser resolvida na região, as 11 nações participantes do evento concordaram em realizar uma Cúpula presencial nos dias 6 e 7 de maio na cidade mexicana de Cancun.