ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Para Cuba, a expansão dos laços com todos os países da União Econômica Eurasiática é uma prioridade. Photo: Site oficial do governo russo. 

«Cuba é o único país latino-americano que tem o status de Estado observador na União Econômica Eurasiática (UEE), o que realmente nos dá prestígio e nos apresenta um grande desafio», diz Ana Lourdes González Vilches, especialista da Diretoria Europa e Canadá, do ministério das Relações Exteriores (Minrex), que acrescenta que «não chegamos a esse momento de repente, foi um processo gradual de vários anos de trabalho intenso».

«Para a Ilha maior das Antilhas, é uma honra participar desse bloco integracionista, porque nos permite ver em primeira mão para onde está indo seu desenvolvimento», diz a funcionária do Minrex, no momento em que a reunião do Conselho Intergovernamental Eurasiano começa na quinta-feira, 8 de junho, na cidade russa de Sochi.

Esse importante evento contará, pela primeira vez, com a presença de uma delegação caribenha de alto nível, chefiada pelo membro do Bureau Político e primeiro-ministro, Manuel Marrero Cruz, que destacou que «Cuba, como Estado observador, reitera seu compromisso de fortalecer nossa participação nesse mecanismo de integração e honrar o status que recebemos há pouco mais de dois anos».

O Conselho é um dos órgãos da UEE, quais são os objetivos desse bloco?

«A União é uma organização internacional de integração econômica regional composta por quatro órgãos: o Conselho Econômico Supremo da Eurásia, que funciona em nível de presidentes dos países membros e observadores; o Conselho Intergovernamental da Eurásia, em nível de primeiros-ministros e chefes de governo; a Comissão Econômica da Eurásia, que tem sede em Moscou; e o Tribunal.

«Foi criado em maio de 2014 e entrou em operação seis meses depois, com a adesão inicial da Rússia, Belarus e Cazaquistão, seguidos pela Armênia e Quirguistão. Esses cinco países têm status de membros, enquanto Moldávia, Uzbequistão e Cuba têm status de observadores».

«Seu principal objetivo é alcançar a livre circulação de mercadorias, serviços, capital e mão de obra entre os países membros. Também prevê o fortalecimento de seu mercado interno por meio de políticas coordenadas, harmonizadas ou unificadas nos setores da economia. O bloco foi fundado para se modernizar globalmente, cooperar e aumentar a competitividade das economias nacionais e criar condições para o desenvolvimento sustentável, a fim de melhorar o padrão de vida da população dos Estados membros».

Pela primeira vez, em 11 de dezembro de 2020, a Ilha maior das Antilhas participou desse tipo de evento. Como se deu a participação do país nesse evento?

«Nessa data, nosso país recebeu o status de Observador da União e participamos pela primeira vez de um evento de alto nível, como o Conselho Econômico Supremo da Eurásia, com a presença on-line do primeiro-secretário do Partido Comunista e presidente da República, Miguel Díaz-Canel Bermúdez. Chegar lá foi um processo gradual de vários anos de trabalho, com o objetivo de conseguir a inserção de Cuba nesse bloco».

Ana Lourdes González Vilches, especialista da Diretoria Europa e Canadá do Minrex, destaca a importância de nosso país fazer parte de um bloco econômico que tende a crescer. Photo: Estudios Revolución

«Os intercâmbios começaram praticamente desde 2015, durante a 12asessão da Comissão Intergovernamental entre Cuba e Rússia. Em 2018, foi realizada a primeira visita a Cuba da EEU e, nesse contexto, foram assinados o Memorando de Entendimento e um primeiro Plano de Ação».

«Em 2019, houve uma visita ao nosso país de Sergei Glazyev, ministro da Integração e Macroeconomia da União, que participou da Feira Internacional de Havana e realizou reuniões no mais alto nível, e o trabalho continuou na busca para obter o status de estado observador. Apresentamos formalmente essa solicitação em janeiro de 2020, e ela foi finalizada no final do mesmo ano».

O que significa esse status e o quanto ele traz para o país?

«Cuba viu uma chance de expandir as relações econômicas, comerciais e de cooperação. O status de estado observador nos dá melhores condições para o registro e posicionamento de produtos biotecnológicos e farmacêuticos, bem como serviços em mercados com alto poder aquisitivo, como a Federação Russa e a República do Cazaquistão».

«Isso também nos dá a possibilidade de negociar a produção cooperativa ou licenciada em países de baixo custo de fabricação, como Armênia, Belarus ou Quirguistão, para posterior comercialização na UEE ou em outros mercados. Também nos oferece oportunidades de comércio e investimento, principalmente na Zona de Desenvolvimento Especial de Mariel (ZED)».

«Favorece a criação de parques industriais em nosso país, a fundação de joint ventures e a promoção da digitalização integral dos setores produtivos, a expansão do acesso a mercados estrangeiros, bem como a possibilidade de inserção em iniciativas eurasiáticas, focadas nas esferas energética, industrial, de transporte, turística, financeira e a eliminação de barreiras comerciais».

«A delegação cubana participará agora da Exposição Internacional Eurasia-Nosso Lar, que será realizada paralelamente ao Conselho em Sochi».

«Essa feira poderia ser um momento importante para consolidar ou dar novos passos para que outras propostas e projetos possam ser apresentados à União. Cuba participará de diferentes painéis e estandes com base nos temas de turismo, saúde, segurança alimentar e indústria».

«No mundo em que vivemos, e ainda mais depois da pandemia daCovid-19, está claro que a solidariedade, o multilateralismo e a cooperação são as formas mais eficazes de enfrentar desafios comuns».

Como a UEE contribui para isso?

«Acho que a UEE está fazendo um trabalho muito interessante em termos de colaboração interna: como se organizar melhor, como se preparar para enfrentar os desafios que enfrenta hoje de maneira sólida e consistente. Os resultados de 2022 foram extraordinários porque, apesar da existência de dois países sancionados dentro do bloco, eles alcançaram o crescimento econômico».

Cuba aderiu a alguma das iniciativas eurasiáticas?

«Cuba participa como Estado observador em dois mecanismos muito importantes que funcionam na União: o Comitê de Farmacopeia e o Grupo de Trabalho sobre Regulamentação de Equipamentos Médicos. Nossos vínculos com os Estados Membros são bons, especialmente em nível político. É na esfera econômica e comercial que estamos tentando impulsionar ainda mais essas relações».