
Belgrado, Sérvia.—«Concluiremos nossa visita com grande otimismo em relação ao futuro das relações entre Cuba e Sérvia e com absoluta confiança de que elas continuarão se fortalecendo e expandindo para o benefício de ambos os povos».
Essa foi a certeza transmitida pelo primeiro-secretário do Comitê Central do Partido Comunista e presidente da República, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, ao final das conversas oficiais que manteve na quarta-feira, 21, com seu colega sérvio Aleksandar Vucic.
O abraço amigável entre os dois, assim que se encontraram na entrada do Palácio Sérvio, antes da recepção oficial, deu um vislumbre da cordialidade que distinguiu esta, a primeira visita oficial do chefe de Estado cubano à nação irmã da península balcânica.
A delegação cubana já havia podido sentir isso desde a noite anterior, como enfatizou o presidente Díaz-Canel durante suas declarações à imprensa, quando foi possível ver muitas pessoas cumprimentando-o com emoção e afeto.
«Isso nos diz muito sobre os laços históricos que existem entre nossos dois povos, que foram fundados sob a amizade estabelecida pelo Comandante-em-chefe Fidel Castro e o general Tito», disse o líder cubano, e aludiu a como nos últimos anos «nos reencontramos nessa relação», na qual a visita de 2017 a Cuba do atual presidente sérvio foi um marco.
Díaz-Canel agradeceu ao povo sérvio, ao presidente, ao governo e às autoridades governamentais «pela calorosa recepção, deferência e hospitalidade que nos demonstraram nas poucas horas em que estivemos aqui».
«Por todas as razões que nos unem, que são também razões de sentimento, emoções e valores compartilhados, é uma honra para todos nós estarmos aqui e podermos responder ao convite que nos foi feito pelo nosso querido presidente Vucic», refletiu.
Díaz-Canel então descreveu o intercâmbio com seu colega e o gabinete sérvio comomuito frutífero. «Ratificamos a vontade de continuar fortalecendo os laços históricos de amizade e cooperação que unem nossos países. Concordamos com o excelente estado das relações político-diplomáticas, bem como com a importância de fortalecer os laços comerciais, econômicos e de investimento», enfatizou.
Também comentou que ambos destacaram «o bom nível de diálogo que mantemos nos fóruns internacionais e multilaterais, e as oportunidades existentes para continuar promovendo intercâmbios nesses cenários, bem como entre nossas chancelarias».
Associado a esse interesse das duas nações, o chefe de Estado cubano considerou que seria satisfatório «aumentar as visitas de delegações governamentais, parlamentares, empresariais, científicas, culturais, acadêmicas e esportivas».
Depois de expressar seu desejo de que o presidente Vucic visite a Ilha maior das Antilhas com mais frequência, «para que possamos continuar conversando, dialogando, pensando e sonhando com todo o alcance e amplitude de nossas relações», o líder cubano destacou «a necessidade de aumentar os intercâmbios em áreas de interesse comum, como agricultura, biotecnologia, cultura, esporte, ensino, educação, saúde e turismo».
Em todas essas áreas, disse, «podemos compartilhar experiências, podemos aprender com ambos os lados e também podemos desenvolver projetos conjuntos de benefício mútuo».
Nesse sentido, concordou com a ideia expressa anteriormente pelo presidente sérvio de que «mais peso, mais sistematização e mais conteúdo de trabalho» deveriam ser dados à Comissão Intergovernamental Conjunta estabelecida entre as duas nações. Para fortalecer seu trabalho, Díaz-Canel garantiu que um vice-primeiro-ministro cubano participaria da Comissão, o que também permitiria «dar continuidade aos acordos que assinamos hoje e às questões que discutimos juntos».
Também disse que durante o diálogo trocaram informações sobre «a situação econômica internacional e seu impacto em nossos países», que no caso de Cuba é agravada pelo endurecimento sem precedentes do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelo governo dos EUA e pelo impacto negativo da Covid-19, que «representa o principal obstáculo às perspectivas de desenvolvimento da nação cubana».
«Nossos paísestiveram uma experiência amarga, durante décadas, dos efeitos nocivos das sanções unilaterais, práticas que rejeitamos nos termos mais fortes», reconheceu.
«Estendemos nossa profunda gratidão ao presidente Vucic pelo apoio contínuo da Sérvia à nossa justa demanda pelo fim do bloqueio, bem como toda a nossa gratidão, em nome de nosso povo, pela assistência altruísta fornecida pelo governo sérvio para a recuperação do país depois que o furacão Ian atingiu as províncias do oeste no ano passado. Esse é um exemplo da atitude que deve prevalecer entre dois povos amigos e irmãos como o nosso».
Díaz-Canel reafirmou enfaticamente «a posição de princípio de Cuba, baseada no respeito à integridade territorial da República da Sérvia e seu direito à soberania sobre todo o seu território».
De acordo com suas declarações à imprensa credenciada para cobrir o evento, «um momento especial das conversações» foi relembrar as visitas oficiais feitas pelo Comandante-em-chefe Fidel Castro Ruz em 1976 e 1986 à então República Federal da Iugoslávia. Também foi lembrada «a visita do presidente Tomislav Nikolic a Havana, em 2015, e em 2017 do presidente Aleksandar Vucic, bem como os intercâmbios realizados com o general-de-exército Raúl Castro Ruz».
CUBA TEM UM POVO SOLIDÁRIO NO CORAÇÃO DA EUROPA
Em suas declarações, o presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, expressou sua gratidão e apoio a Cuba, enfatizando em particular seu orgulho pelo fato de que, depois de quase 40 anos desde a última visita de um líder cubano a seu país, essa visita tenha sido realizada, «para poder falar com o presidente da República de Cuba, para entender não apenas a posição de Cuba, mas também como o povo cubano está lutando por sua sobrevivência, por seu direito de continuar existindo».
«Também é nosso desejo de fortalecer nossa colaboração».
«Gostaria de agradecer ao presidente Díaz-Canel por seu apoio à integridade territorial da Sérvia, que é muito valiosa para nós», disse. «A esse respeito, temos trocado opiniões em diferentes momentos e, para nós, os critérios dos países latino-americanos são muito importantes, de modo que eles também podem contar com nosso apoio, com o apoio da República da Sérvia, de todos os cidadãos da Sérvia».
Vucic também falou sobre a proximidade e a fraternidade com a maior das Antilhas. «Não há nenhum país na Europa que seja tão popular quanto o povo cubano entre os sérvios. Eu sei que as pessoas aqui amam o povo cubano».
Além desse sentimento, que vem crescendo ao longo dos anos, o presidente sérvio também compartilhou o interesse de seu país em cooperar com Cuba em «certas áreas, como a saúde, por exemplo, nas quais podemos empreender e realizar muitas coisas».
Da mesma forma, expressou o desejo de seu país de «contribuir e fazer todo o possível para ajudar Cuba no setor agrícola», no qual seu país, «é autossuficiente, temos um excedente de milho e trigo».
«Há o problema do transporte, das sanções, mas faremos o possível para continuar encontrando maneiras e torná-las mais acessíveis para que possamos trocar alimentos, gêneros alimentícios e tudo o que for necessário para nossos povos. E isso seria apenas um começo», enfatizou Vucic.
«Temos muitas coisas a oferecer no campo da política e da vida social, e somos enriquecidos pelo fato de sermos países independentes e soberanos, apesar das pressões; somos países que compartilham essa proximidade entre seus cidadãos», disse.
Relembrando sua visita a Cuba há seis anos, Vucic lembrou que se sentiu «muito orgulhoso na época. Conheci Raúl Castroe tudo que aprendi lá foi muito importante para nós. Agora estamos construindo a casa com base nos alicerces daquela visita e espero que sejamos bem-sucedidos».
«Hoje estamos falando sobre biotecnologia, projetos inovadores e tecnológicos, e acreditamos que podemos nos ajudar mutuamente, que podemos ter benefícios mútuos», disse. Também expressou que discutiram «a colaboração no turismo, para ver como aumentar os incentivos, porque os sérvios estão muito interessados em Cuba».
«Para nós, «é importante que possamos sempre contar com o apoio político de Cuba e, como fazemos todos os anos, Cuba tem o total apoio da Sérvia na condenação do bloqueio que lhe foi imposto. Sempre estivemos do lado da justiça, foi assim que nos comportamos no passado e continuaremos a fazê-lo no presente».
«Espero que você se sinta em casa aqui na Sérvia», disse o presidente Vucic a Díaz-Canel, a quem pediu que enviasse «saudações amigáveis e fraternas ao povo cubano, sabendo que no coração da Europa você tem um povo que o apoia».
«Esperamosque o senhor venha mais vezes, para que possamos continuar investigando juntos como aumentar nosso intercâmbio, que, pelo que foi destacado hoje, é um incentivo à saúde pública, à pesquisa e às nossas relações políticas».
Antes das declarações dadas à imprensa por ambos os líderes, foi realizada a cerimônia de assinatura de acordos bilaterais entre a República da Sérvia e a República de Cuba. Foram rubricados dois documentos: um Acordo entre o Governo da República da Sérvia e o Governo da República de Cuba sobre a isenção de vistos para passaportes diplomáticos e oficiais, e um Memorando de Entendimento entre o Governo da República da Sérvia e o Governo da República de Cuba sobre a cooperação no campo da agricultura.
Assim como a reunião entre os dois presidentes começou com um abraço, um abraço também foi o ponto culminante desse dia histórico, no qual ficou evidente a solidez que distingue os laços bilaterais existentes entre Cuba e Sérvia.
NA ASSEMBLÉIA NACIONAL
Na manhã de quarta-feira, 21, o primeiro-secretário do Comitê Central do Partido e presidente da República também foi recebido na sede da Assembleia Nacional da República da Sérvia pelo seu presidente, Vladimir Orlic, que lhe deu as boas-vindas ao pé dos degraus do Palácio Legislativo.
As duas personalidades conversaram e depois fizeram um tour pelo Salão Central, onde Díaz-Canel se interessou pela arquitetura, pelas esculturas e por outros detalhes do belo edifício neoclássico.
Em seguida, o chefe de Estado cubano foi ao Túmulo do Soldado Sérvio Desconhecido, na Montanha Avala, nos arredores da cidade de Belgrado e seu ponto mais alto. A uma altitude de 500 metros, o monumento é acessado por uma bela estrada de montanha, ladeada por pinheiros, ciprestes, castanheiras e muita flora local.
Díaz-Canel foi aguardado na base dos degraus do complexo do monumento por Milos Vucevic, vice-primeiro ministro e ministro da Defesa, e pelo general Milan Mojsilovic, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Sérvia, que o acompanhou na cerimônia marcial das tropas.
Após depositar a coroa de louros que homenageia o heroísmo do povo sérvio, Díaz-Canel assinou o Livro Memorial do Monumento, onde escreveu:
«Do Monte Avala, em frente ao Monumento ao Soldado Desconhecido, prestamos homenagem, em nome do povo e do governo cubanos, aos combatentes mortos em defesa da paz e da liberdade do povo sérvio. Seu exemplo de resistência é uma fonte de inspiração na luta dos povos pela independência, soberania, integridade territorial e o direito à autodeterminação».
