
Que poder dá a um homem o direito de assassinar os outros? Com que facilidade a consciência e a moralidade podem ser extirpadas?
Ao meio-dia, de 6 de outubro de 1976, na costa de Barbados, ouve-se a explosão de uma bomba. Uma aeronave da Cubana de Aviação pegou fogo em pleno ar. Após cerca de cinco minutos de horror, em meio a fumaça e brasas de fogo, um segundo explosivo detona.
O corpo de uma menina de nove anos emerge do mar, trêmulo, ferido e inerte. Na bagagem de mão de sua avó havia sido colocada a bomba que explodiu na cabine de passageiros do DC-8, na qual 57 cubanos, 11 guianenses e cinco coreanos perderam a vida.
O assento do capitão, as espadas dos jovens campeões da equipe nacional de esgrima da Ilha maior das Antilhas, algumas pastas e corpos dilacerados foram deixados como testemunho do crime. O mar engoliu abraços e beijos, sonhos e sucessos que nunca foram realizados.
A miséria de homens sem alma mutilou dezenas de famílias. Quase cinco décadas depois, os ecos de uma dor que durou para sempre ecoam nesta cidade. Enquanto isso, os culpados morrem de velhice, sustentados pelos governos dos Estados Unidos.
Com uma hipocrisia desproporcional, as mesmas pessoas que se calaram diante do ato monstruoso agora listam Cuba como patrocinadora do terrorismo. O que dizer de La Coubre, de Girón, do incêndio da loja El Encanto, da série de bombas em hotéis de Havana? Ou da embaixada de Cuba em Washington, vítima do ódio, atingida por um fuzil automático e, há poucos dias, por dois coquetéis molotov? Não basta que o governo dos Estados Unidos esteja no topo dessa lista depois de mais de 60 anos de um bloqueio que busca matar?