ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA

 É pela trigésima segunda ocasião em que Cuba consegue a façanha de unir o mundo, em meio de um panorama internacional convulso, mediado por guerras sem fim à vista, e como parte do qual muitos governos são intimidados pelos Estados Unidos, cuja administração insiste em comandar, mediante todo o tipo de táticas, os destinos do planeta.
 Há alguma coisa de incrível na certeza de que, por mais de seis décadas, tenha disso mantido o bloqueio econômico, comercial e financeiro dos EUA contra Cuba, como parte de sua política hostil encaminhada àqueles que se propõem destinos diferentes do da submissão às suas manobras. Nesses longos anos, os danos materiais provocados à Ilha equivalem a 1,49 trilhão de dólares.
 Mas resulta mais digno ainda da ficção científica que, durante metade desse tempo, a maioria das nações do mundo exigissem o cessar dessa medida de asfixia e não se haja conseguido nada, diante do olhar incrédulo de uma comunidade internacional à que cada vez custa mais acreditar na boa vontade dos EUA
 Em 29 e 30 de outubro, 193 países votam na Assembleia Geral das Nações Unidas o projeto de Resolução a/79/80 «Necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos EUA contra Cuba», apresentado pelo membro do Bureau Político e ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla.
UMA TRISTE REALIDADE
 Em 29 de outubro, a partir das 10h00, foi escutada na sede das Nações Unidas, em Nova York, a voz de sete grandes grupos políticos e regionais.
 Foi potente a declaração da Associação de Nações da Ásia Sul-oriental (Asean), integrada por dez países; a Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), integrada por 57 nações em quatro continentes; o Grupo de Amigos em Defesa da Carta das Nações Unidas, com seus 18 Estados membros; e o Grupo Africano, com seus 55.
 Em nome da Comunidade dos Estados Latino-americanos (Celac), o representante de Honduras lamentou que o bloqueio seja uma realidade ainda para Cuba, o que constitui o principal obstáculo para o desenvolvimento com normalidade.
 Por seu lado, indicou com firmeza que esta medida unilateral é contrária aos desejos de paz dos latino-americanos e caribenhos, plasmados na proclamação da América Latina e o Caribe como zona de paz, e o desacordo com nossa inclusão na arbitrária lista de países patrocinadores do terrorismo, a qual, «ademais de ser infundada, veio a reforçar o efeito de intimidação associado ao bloqueio e menoscaba as possibilidades de entabular relações financeiras com associados internacionais», disse.
 Em nome da Comunidade do Caribe (Caricom), o representante de Granada denunciou a ilegitimidade do bloqueio como medida unilateral sem justificação, e reiterou aos EUA que os princípios estipulados na Carta das Nações Unidas continuam sendo pilares da sociedade civilizada e, portanto, devem ser respeitados, por igual, por todos os Estados membros.
 Em nome do Movimento dos Países Não-Alinhados (Mnoal), o chanceler da Uganda enviou toda a solidariedade ao povo de Cuba, diante da crise energética que vive atualmente, e lembrou as graves afetações ao setor bancário, impossibilitado de realizar transações internacionais que resultam normais no cotidiano do restante do planeta.
 «O bloqueio é o principal obstáculo a um maior acesso à internet e ao desenvolvimento de relações científicas. Não se corresponde com nossos laços históricos», disse.
 Em nome do G77 mais a China, o diplomata iraquiano lamentou o bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto à Ilha durante mais de 60 anos, e expressou a sua preocupação diante da ampliação na aplicação da Lei Helms-Burton.
 Considerou que as ações econômicas deveriam ser revocadas de imediato, pois têm causado direta e indiretamente consequências na saúde, nutrição, investimentos, turismo, entre outros fatores.
AMÉRICA LATINA E O CARIBE UNIDOS
 Durante estas mais de três décadas de vozes que são escutadas na ONU, os discursos dos representantes da América Latina e o Caribe costumam ser muito emotivos.
 A realidade comum, as vivências compartilhadas como países do Sul e as pressões similares sentidas a partir dos EUA provocam essa sensação de comunhão nos discursos.
 Ao iniciar o debate em Nova York, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, deixou claro o quanto o bloqueio tem afetado os mais vulneráveis de Cuba perturbando, de forma direta, o acesso aos serviços básicos do país.
 De sua parte, o representante do México, Héctor Vasconcelos, lembrou que seu governo «considera que a restrição de exportações, a eliminação de determinados benefícios comerciais, o entorpecimento da entrega de assistência humanitária e os obstáculos para a obtenção de créditos em instituições financeiras internacionais são todas medidas injustificáveis e injustas que devem ser suspendidas», indicou.
 Entretanto, o chanceler da República Bolivariana da Venezuela, Yván Gil, reafirmou que o bloqueio representa um castigo contra os cubanos que determinaram não se curvar diante das chantagens do Governo estadunidense. A sua solidariedade a toda a prova com a Ilha foi visível no palanque.
CHINA E RUSIA: LOS CONTRAPESOS DO MUNDO
 No mundo de hoje, assinalou o representante da China, os países em desenvolvimento enfrentam dificuldades para atingir os objetivos da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável; contudo, os EUA continuam adotando medidas nas quais lança mão do uso abusivo de sanções unilaterais, enfraquecendo os consensos internacionais e ameaçando o direito ao desenvolvimento.
 «Os bloqueios não podem esmagar os desejos dos povos», indicou. E ao mesmo tempo, referiu que as votações consecutivas são um apelo justo da comunidade internacional que deve ser respeitado.
 Entretanto, o representante da Federação da Rússia, em nome do Grupo de Amigos em defesa da Carta das Nações Unidas, expressou que «Cuba não constitui uma ameaça para a segurança dos Estados Unidos, nem dos seus cidadãos», e qualificou de inútil o bloqueio, «pois constitui um vestígio da Guerra Fria».
 A comunidade internacional, que nesta quarta-feira, 30 de outubro, continua o debate e fará a votação, reafirmou a sua defesa de Cuba, que merece ser liberada das correntes do bloqueio.

PAÍSES COM POSIÇÕES A FAVOR DE CUBA (em 29 de outubro)
1.   Brasil
2.   Cingapura (Asean)
3.   Camarões (Organização para a Cooperação Islâmica)
4.    Honduras (Celac)
5.    Eritreia (Grupo de Amigos em Defesa da Carta das Nações Unidas)
6.    Uganda (Mnoal)
7.    Iraque (G77 mais a China)
8.    Chade (Grupo Africano)
9.    Granada (Caricom)
10.  Dominica
11.   Filipinas
12.  Vietnã
13.  Venezuela
14.  México
15.  Namíbia
16.  São Vicente e as Granadinas
17.  Argélia
18.  Bielorrússia
19.  Trinidade e Tobago
20.  Santa Lúzia
21.  Malásia
22.  Camboja
23.  Etiópia
24.  África do Sul
25.  República Popular da China
26.  Guiana
27.  Federação da Rússia
28.  Zimbabue
29.  Síria
30.  Guiné Equatorial