ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Photo: Ilustrativa

Para Donald Trump – embora ele mesmo não acredite nisso – ainda somos terroristas.
 Com a risca de uma caneta, anulou o que (agora estou me perguntando, ainda mais, com que intenção) seu antecessor na cadeira imperial, Joseph Robinette Biden, havia decidido.
 A verdade é que a alegria com que o mundo – note que não digo o mundo inteiro – saudou a exclusão de Cuba da humilhante lista de países que, segundo a Casa Branca, patrocinam o terrorismo, durou menos no éter do que uma iguaria no portão de uma escola.
 Pessoalmente, o fato de Trump ter dado marcha a ré no que Joe Biden fez não me surpreende nem um pouco. Era quase de se esperar. Talvez mais cedo do que alguns (até mesmo) imaginavam, mas aí está, consumado, consumado, uma espécie de afronta ou escárnio, refletindo os vaivéns da política em um país que se apresenta como um paradigma global de ética, valores, boas maneiras, cultura, direitos humanos, respeito à liberdade e amante do progresso.
 O 47º presidente dos EUA deve basear sua anunciada, desrespeitosa e perigosa loucura de tomar a Groenlândia por qualquer meio necessário (por acordo, tarifas, pressão, força bruta), «recuperar» o Canal do Panamá – que, como a humanidade sabe, pertence aos panamenhos – mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América à vontade, entre outras aberrações, fruto de uma imaginação que ele pretende aterrissar, atracar e espaçar, com a força de seu poder.
 Mas voltando ao assunto, segundo ele, somos e devemos continuar sendo terroristas.
 Acho que até o entendo. Ele sabe que – quer faça parte de sua «lista de famosos» ou não – continuará aterrorizado pelo fato de Cuba ter em seu seio caloroso uma Escola Latino-Americana de Medicina, onde são formados jovens dos recantos mais pobres do planeta; por enviarmos médicos a todas as nações carentes que precisam de nossa ajuda; por continuarmos compartilhando solidariamente o que não é suficiente nem para nós mesmos; por nossas vacinas e medicamentos continuarem tendo aceitação mundial com base em seu valor científico comprovado e não em mecanismos de propaganda e fanfarronice comunicacional....
 Se o terror está dizendo a verdade ao império, olhando diretamente para o seu olho de águia; se o terror está preferindo continuar enfrentando as dificuldades com a pele e o estômago em vez de apoiar submissamente os joelhos; se o terror está gerando em escala global uma simpatia, um reconhecimento que não se expressa apenas em manifestações nas ruas e praças públicas para exigir o fim do bloqueio imposto pelos Estados Unidos contra Cuba (cuja expressão máxima atinge seu ápice nas urnas da ONU, ano após ano), então, obviamente, o homem não pode nos ver de outra forma ou de outro ponto de vista. Ele não pode.
 É claro que teríamos gostado de seguir em frente sem a marca que seu capricho nos impingiu e que agora ele está cunhando novamente, depois de rebobinar a fita. Mas esse tipo de galanteio não perturba nosso sono. A propósito, me vem à mente o fragmento de uma música em que se diz que «eu não me lembro disso, e se eu não me lembro, foi que não aconteceu». Essa, tal como ouvimos milhares de vezes o narrador dos jogos de beisebol, esqueça-a!
 Nosso destino está traçado... só que não por mãos alheias, mas por nossas próprias mãos: as que empunharam o facão mambi no século 18, as que cortaram a cana depois pegaram o fuzil que só usaremos para nos defender de algum novo e jamais descartável absurdo imperial em nossa direção, tal como o que pretende tomar as terras geladas da Groenlândia.