ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Fidel junto a Nicolás Guillén. Photo: Archivo

A política cultural da Revolução teve uma importante definição durante os encontros realizados por Fidel com os escritores cubanos, na Biblioteca Nacional José Martí, no verão de 1961.

Eu tive o privilégio de assistir à última dessas sessões, quando o comandante-em-chefe proferiu o discurso que é conhecido como ‘Palavras aos Intelectuais’. Lembro que nesse dia, 20 de junho, Fidel desceu com a diretora da Biblioteca, a Dr. Maria Teresa Freyre de Andrade e falou com o pessoal do Departamento de Literatura para Crianças, muito preocupado pelos livros e a leitura que se orientava. Quando ele chegou à sala-teatro foi aclamado.      

Admirei muito aquele homem de 34 anos, com seu uniforme verde-oliva que vinha como outro discurso, não o dos políticos anteriores. Ainda se respirava o cheiro da Serra Maestra e os combates vitoriosos de Girón.

Eu já o tinha escutado quando chegou a Columbia, com aquele discurso fresco, moderno, direto, coloquial, que chegava à alma do mundo todo, porque estava dizendo verdades extraordinárias. E isso foi o que mais me impressionou.

Confirmei essa convicção na Biblioteca Nacional. Estávamos perante um líder que falava claro e cumpria sua palavra.

Fidel é o artífice da política cultural cubana. Ele criou tudo: a ideia da Uneac, a formação dos instrutores da arte, o sistema do ensino artístico, o movimento de amadores, a rede de editoras nos territórios.

Pouco depois do triunfo de janeiro de 1959 foram fundados o Icaic, a Casa das Américas e a Tipografia Nacional. O primeiro livro publicado por esta instituição, em uma tiragem em massa, foi O Quixote’, em quatro volumes e a custos populares.

Uma frase daqueles dias revela a herança do legado martiano no pensamento fidelista: “Não dizemos ao povo crê, senão lê”. Em 1961, foi travada uma nobre e intensa batalha para proclamar Cuba território livre de analfabetismo.

Desde um primeiro momento, Fidel se interessou porque a política cultural fosse inclusiva e garantisse a liberdade de criação. A democratização da cultura implicou a criação de instituições e o acesso, cada vez mais, a amplos setores da população a museus, galerias, teatros, bibliotecas, salas de concertos e de cinema e a possibilidade para que os melhores talentos do país todo pudessem receber instrução acadêmica. Também essa política propiciou a participação popular na vida cultural em níveis comunitários e tomou conta da salvaguarda e promoção dos valores patrimoniais.

Os escritores e artistas temos em Fidel um homem dos nossos. Assim o sentimos nos Congressos da Uneac dos quais ele participou e nas plenárias do Conselho Nacional da organização. Ter escutado seu reclame de que “a cultura é o primeiro que é preciso salvar”, no Congresso de 1993, quando atravessávamos momentos difíceis, foi um poderoso estímulo e um ato de fé na capacidade de resistência para impulsionar nosso projeto social.

Cinco anos depois, em um novo encontro com intelectuais e artistas, nos falou acerca dos efeitos da globalização hegemônica e a necessidade de enfrentá-la com argumentos, ideias e o fomento de uma cultura geral integral em massa.

Fidel é o iluminado, não só para Cuba, senão para o mundo todo, um político que tornou possível que o poema cubano maior de nossa época seja a Revolução.

A ele dediquei estes versos:

                   

FIDEL

 

É certo que os poetas

pegam instantes da vida

e os fixam na história

Geralmente o passado

vago e nostálgico

Ou o presente imediato com seus fogos sutis

e suas reverberações

Porém, e bem difícil apanhar o futuro

e colocá-lo para sempre         

na vida de todos poetas todos

dos homens todos.