ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Operações de neurotransplantes, uma técnica cirúrgica que suscitou esperanças para o tratamento do Mal de Parkinson. Photo: Alberto Borrego

O Centro Internacional de Restauração Neurológica (Ciren) de Cuba acumula experiências avaliadas para aliviar doenças como Parkinson, Alzheimer, demências, epilepsias, ataxias, distonias e outras, vasculhando nos segredos da atividade cerebral e colocando o conhecimento em benefício da sociedade.

Apesar das dificuldades econômicas do país, a instituição médica utiliza tecnologia avançada nas pesquisas biomédicas de respeitável rigor científico, realizadas desde o nível molecular até a abordagem clínica multidisciplinar de pacientes.

Esta instituição científica é considerada líder na América Latina e com repercussão mundial no estudo dos transtornos do movimento, os acidentes vasculares cerebrais, traumas craniais e alterações da medula óssea e outras mazelas.

Os profissionais do Ciren fazem com que confluam a pesquisa básica, a atividade clínica, a cirúrgica e a docência, o qual torna possível um ciclo completo para os serviços médicos assistenciais neurológicos de última geração.

Este centro de vanguarda no mundo das neurociências pertence ao Ministério de Saúde Pública e conta com dois programas terapêuticos únicos, o de Restauração Neurológica e o de Restauração Biológica Geral (Rebioger), expressa o doutor em Ciências, Jorge Alberto Bergado Rosado, ao Granma Internacional.

Para isso dispõe de várias dependências: a Área Básica, dedicada às pesquisas; a Neurovila, com clínicas especializadas nos transtornos do movimento; e a de degenerações neurológicas e de lesões estáticas encefálicas do adulto.

Além do laboratório de Neurofisiologia Clínica e outra chamada Área Clínica, onde se encontram outros serviços destinados à neurologia infantil e as de lesões medulares; doenças neurológicas musculares e esclerose múltipla, mais o de Neurocirurgia.

“Somos pioneiros em Cuba na introdução do transplante neurológico, uma técnica cirúrgica que suscitou esperanças para o tratamento do Parkinson”, explica o também pesquisador titular.

“Na área da neurocirurgia funcional introduzimos, em nível mundial, as cirurgias centradas na lesão seletiva do núcleo subtalâmico. Realizamos mais de mil intervenções em pacientes com mal de Parkinson, com resultados animadores. Não se evita o progresso da doença, mas se consegue uma melhora notável nas funções motoras e maior qualidade de vida do doente”.

“O Centro pratica a neurologia restaurativa utilizando ferramentas farmacológicas, cirúrgicas e terapias de reabilitação a partir de um programa geral para cada uma das patologias, mas personalizado nas necessidades do paciente”, explica o cientista cubano. E acrescenta: “Projetamos um cronograma de tarefas a ser cumpridas, segundo o estágio da doença, a condição biológica da pessoa, a idade, sequelas e outros requisitos. Vamos vencendo objetivos mediante a aplicação de diferentes métodos curativos”.

O doutor argumenta que no Ciren se pesquisa acerca da aplicação de células mãe para os infartos cerebrais, estuda-se o tratamento cirúrgico das epilepsias refratárias e outras temáticas.

Para o trabalho assistencial conformam equipes multidisciplinares, dirigidas por um neurologista, e integradas por médicos clínicos, pediatras, fisiatras, reabilitadores físicos, enfermeiras, especialistas em Defectologia, logopedistas, psicólogos, nutricionistas, pedólogos, dentistas e todo um leque de especialistas.

Na instituição trabalham 616 trabalhadores, dos quais 321 são universitários e 99 técnicos de nível médio. Deles, oito têm a categoria de pesquisadores titulares, 19 auxiliares, 25 assistentes e 18 instrutores, que conformam uma equipe importante para a formação científica dos novos especialistas no centro, junto aos 37 professores categorizados que ministram pré e pós-graduação em diferentes especialidades.

As pesquisas têm colaboração e troca permanente de instituições e pesquisadores de países como os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Espanha, México, Alemanha, Itália, Canadá e outros. O pesquisador Bergado Rosado exemplifica com os estudos especializados no autismo, desenvolvido em projetos em parceria com o Brasil.

Afirma também que o tema do criminoso bloqueio econômico, financeiro e comercial imposto pelos Estados Unidos prejudica a colaboração. Muitas pessoas e instituições dispostas a ajudar à Ilha sentem a pressão desta injusta política por serem impedidos de enviar tecnologia, dinheiro e troca acadêmica personalizada.

“Um pesquisador de Porto Rico quis doar equipamentos de laboratório. Por causa das restrições do bloqueio desse país próximo não se pode fazer nenhum envio direto a Cuba. Houve que enviá-lo à Alemanha e da Europa reenviá-lo ao Caribe, graças ao apoio do grupo de solidariedade Cuba Sim, sediado nesse país europeu”, explica Bergado Rosado.

Fundado pelo líder histórico da Revolução Cubana, Fidel Castro, em 26 de fevereiro de 1989, o Ciren atendeu até agora a quase 130 mil pacientes de 94 países, de todos os continentes, boa parte de Cuba, tanto em consulta externa, como por ingressos hospitalares.

PESSOAL CONSAGRADO

A trabalhadora da área alimentar, Ana Luisa Leyva Jorge, lembra nitidamente o dia da fundação: “Vi uma caravana de carros na rua 25 esquina a 158, imaginei a presença de um dirigente da Revolução e movimentei-me para a área da recepção. Nesse momento vejo entrar a figura corpulenta com seu uniforme verde-oliva e a patente de comandante-em-chefe. Cumprimentou todos os colegas, abraçou-me e trocou breves palavras comigo. Transmitiu-me forças positivas para realizar meu trabalho”.

Ela diz sentir prazer trabalhando com prestigiosos cientistas porque é tratada com respeito e amabilidade, sem fazer distinções aos trabalhadores de outras áreas e reconhecem a importância do trabalho não ligado diretamente às ciências.

Igual critério o manifesta a jovem Mei Li Díaz Hung, que iniciou seus trabalhos no centro a partir do segundo ano da Licenciatura em Bioquímica, fez a tese de grau, concluiu o mestrado em 2013 e agora estuda para defender o grau de Doutor em Ciências.

A cientista afirma: “Minhas pesquisas levaram a ligar-me a uma escola de neurociências do Canadá, onde conheci outros cientistas da Universidade Autônoma do México. No ano passado, iniciamos uma colaboração e de março a abril de 2015 trabalhei no Laboratório de Estresse Oxidativo, no México, aprendi várias técnicas moleculares, avancei muito em minhas indagações para concluir a tese do doutoramento”.

Com ela concorda a Licenciada em Cultura Física, Lena Herrera Nuviola, que se desempenha como especialista em reabilitação neurológica. Menciona as muitas oportunidades para realizar cursos especializados e participar de eventos científicos, principalmente o auspiciado pelo Centro, (Conferência Internacional de Restauração Neurológica) que tem sessões em cada cinco anos e próximo ao aniversário da entidade.

A jovem relata que atende com maior frequência as crianças. Lembra uma família bielorrusa, seu filho era pouco colaborativo no tratamento. Para cada uma das sessões se requeria a presença de seus pais, porque se irritava muito. Contudo, a comunicação direta, o carinho e o tratamento afável fizeram com que ganhasse a confiança do pequeno, que nem sequer entendia palavras em espanhol. “Após vários dias de sessões ficou sozinho comigo e conseguimos o milagre que pudesse caminhar”, afirma.

Essa melhora foi testemunhada pelos pacientes Roberto Machado Navarro, Rolando Díaz Rosales e Armando Quiñones Machado, que assistem ao ginásio durante seis horas diárias, de forma ambulatória, para receber tratamento, progredir em sua locomoção e outras terapias.

O ginásio dispõe de áreas de fisioterapia, de acondicionamento geral, de mobilização e massagem, um bloco de treino funcional, de atendimento defectológico e logopédico, de neuropsicologia, uma área de medicina holística, outra de terapia com ozônio e atendimento de Enfermagem, uma pista regular de argila, outra irregular com variações na textura do solo, carris de textura variada para a reeducação da marcha.

O ginásio de crianças é constituído pela área de reabilitação física, de defectologia, bem como de logopedia e neuropsicologia, todas especializadas no atendimento neurológico pediátrico.

Tudo isso explica as palavras de Fidel Castro durante o discurso de inauguração: “O Centro tem características especiais, porque reúne as pesquisas e as áreas diagnósticas e cirúrgicas em um único centro, sob uma só direção, de maneira que em Cuba não haverá esse divórcio que, às vezes, ocorre e que provoca conflitos e contradições entre as pesquisas, depois de realizá-las com todo o rigor, e a posta em prática das mesmas”.