
DIZEM que Iván Máximo Pérez nasceu sob uma planta de fumo. Também dizem que conhece perfeitamente a melhor terra onde se planta essa aromática cultura, lá por San Juan y Martínez. Há quem diz — enorme admiração mediante — que é uma espécie de todo-terreno do campo.
Acompanhado de um charuto robusto e um tímido sorriso, Máximo costuma receber aqueles que, tal como os participantes do 28º Festival do Charuto Havana, chegam a sua chácara de quase seis hectares que herdou do avô, para conhecer os segredos de uma das mais distintivas tradições cubanas.
Após três décadas destinadas à produção, este morador de Vuelta Abajo colhe anualmente ao redor de 13 toneladas de folhas de fumo (à razão de um rendimento agrícola de mais de duas toneladas por hectare), no mesmo solo onde cresceu brincando. Assegura que “conheço muitos que, como eu, cresceram entre o fumo, mas as plantações não produzem bem porque não se dedicam a cuidar o que cultivam”.
A MAGIA ESTÁ NA FOLHA
Máximo não esmorece na hora de explicar aos visitantes que Pinar del Río tem o melhor fumo do mundo, devido a quatro fatores fundamentais: clima, solo, variedade e a pessoa. “A planta que existia há meio século não é a obtida hoje, porque a natureza foi mudando. Para aperfeiçoar a cultura é preciso conseguir uma amplitude térmica (diferença entre os valores máximos e mínimos de temperatura), que beire os dez graus centígrados. Portanto, as frentes frias ajudam enormemente”, aponta o especialista agricultor.
De acordo com Máximo, os solos que dão as folhas dos prezados charutos havanas, não são ricos em matéria orgânica e tem muita acidez. Por isso, proporcionam um estresse à planta, que lhe dá condições singulares.

Igualmente, podem encontrar-se no território mais ocidental de Cuba variedades de fumo boas e resistentes, que permitem, na opinião do especialista, traçar uma estratégia para o plantio em diversas etapas do ano. “Como o ciclo de cultura do fumo é curto, as épocas são previstas e, por exemplo, nos meses menos chuvosos, planta-se o maior volume de fumo”.
A cargo de dez empregados e quase o mesmo número de mulheres, o dono do fumal El Rosario trabalha há cinco anos com a Estação Experimental do Fumo na pesquisa científica. “Há excelentes geneticistas que desenvolvem variedades de fumo resistentes aos danos da chuva excessiva ou às doenças”.
Para Máximo é essencial o trabalho do homem, que deve mostrar paixão e amor pelo que faz. “Tal como se cultiva o fumo, cultivam-se as pessoas: com bom tratamento, boas práticas, bons valores. É preciso ser reto e honesto com os trabalhadores. Minha sede de conhecimento me permitiu aprender daqui e de lá e ver os bons exemplos para imitá-los”.
Já com mais de 40 anos, o pequeno agricultor afirma que se levanta ao amanhecer para atender os problemas, “porque um dia aqui é uma loucura. Contudo, somos muito cuidadosos para não quebrar nem uma folha plantada, apesar de que nas plantações se devem realizar aproximadamente 200 atividades diferentes. É preciso ter muita habilidade. Com um produtor com o esmero e a motivação alta, que saiba transmitir o know-how (conhecimentos), não deve falhar nada”, afirma.
RADIOGRAFIA À PLANTA

De qualquer folha de San Juan y Martínez, de San Luis e, inclusive, de Pinar del Río, explica o camponês, pode ser feito um charuto. “O fumo é minha vida, mas não se deve maltratar, pelo contrário, exige inteligência e perseverança”.
Dependendo do tamanho da folha, continua Máximo, registra-se o produto. “Enquanto maior é a folha, menor é a denominação. O normal é obter de 16 a 18 folhas em cada planta. Também, o tempo de secagem se relaciona com a posição da cultura. Abaixo, seca-se entre 20 e 30 dias; acima, até 40”.
“Levando em conta a variedade, entre 70 e 80 dias deve ser colhido totalmente. Nesse período, é preciso andar com muita velocidade”, especifica Máximo, entendido no tema.
A isso acrescenta que se a planta é bem plantada, mostra em sua estrutura quatro fortalezas. É assim como a primeira aparece na parte inferior da planta e é chamada de ponteira. Segundo, no meio, vêm as secas. Depois, no nível superior, encontram-se os leves e meios tempos.
O melhor para evitar prejuízos é a previsão. De igual forma, tem que ser preparado o solo, fazer-lhe uma drenagem adequada para que a água entre e saia sem dificuldades. Depois de cada colheita, melhora-se com adubo verde, informa o experiente produtor.
No campo apenas se recolhe a folha e se dá uma primeira fermentação, antes de ser vendida ao grupo empresarial de Fumo Tabacuba, que se encarrega de encaminhar um processo de maior fermentação e envelhecimento, prévio à comercialização nacional e internacional.