O efeito que teve a seca que desde 2014 afeta o país, sem dúvida tem sido significativo para os recursos hidráulicos, a agricultura e outras atividades econômicas.
Não obstante, já começou a temporada de chuvas e não seria demais perguntar, se com elas acabará a época de escassez de precipitações na Ilha.
Para esclarecer estas e outras interrogantes entrevistamos a doutora em Ciências Meteorológicas e pesquisadora do Centro Nacional do Clima do Instituto de Meteorologia, Cecilia Fonseca Rivera e a licenciada em Geografia, do Grupo de Vigilância que pertence à mesma entidade, Marieta Hernández Sosa.
Falemos primeiro da seca.
“O clima em Cuba, no período 2015-2016, tem estado condicionado pela influência de dois eventos de grande importância, os quais estiveram influindo simultaneamente: primeiramente o fenômeno “El Niño” - oscilação do Sul que tem grande interesse pelas grandes anomalias que produz ao longo do território todo e a seca que começou no período úmido de 2014.
“Esta etapa foi caracterizada pelo déficit nos volumes das chuvas na região ocidental do país. Depois, foi se transferindo para as regiões central e ocidental. Quando chegamos ao período de seca (novembro de 2014 – abril de 2015) aproximadamente 66% de todo o país apresentava déficit no acumulado das chuvas e para a região ocidental constituiu o quarto período mais seco desde 1961 até à data”.
“Depois, veio o período chuvoso de 2015 (maio–outubro), que também foi precário para a Ilha maior das Antilhas e a região ocidental de Cuba continuou sendo a mais afetada. Isso teve como consequência uma seca significativa, pois durante três períodos ou estações já vínhamos tendo volumes de chuvas inferiores aos que devem cair nessa etapa”.
“Depois, entramos no período que concluiu o passado mês (novembro de 2015–abril de 2016). Em termos gerais finalizou muito favorável. Inclusive, desde outubro as chuvas foram abundantes”.
Que propiciaram estes volumes?
“Estavam associados, fundamentalmente, aos processos da circulação atmosférica e estes, por sua vez, estavam ligados ao “El Niño”. Este evento começou em março de 2014, atingiu sua máxima fortaleza nos finais de ano e depois começou seu declive desde novembro e dezembro de 2015. Já no mês atual declinou. Os resultados dos padrões nos dizem que está mudando até chegar a condições normais”.
“Este fenômeno produz-se no oceano Pacífico tropical e é vinculado a um sobreaquecimento das águas superficiais do oceano. Este é um fenômeno que tem implicações em quase todas as zonas do planeta”.
“Os fenômenos que aconteceram durante os meses de novembro, dezembro e janeiro, estiveram em correspondência com as anomalias provocadas pelo fenômeno “El Niño”.
Qual é a expectativa para o transcurso de maio e outubro de 2016?
“Geralmente no período chuvoso em Cuba se registra 86% do total das precipitações anuais do território nacional. Primeiramente as chuvas acontecem no oriente do país, depois no centro e mais ou menos na segunda quinzena do mês de maio, começam no ocidente. Geralmente são associadas aos ciclones tropicais”.
“É preciso termos em conta que a atual etapa úmida está condicionada pela declinação do evento “El Niño” - oscilação do Sul. Habitualmente quando ele declina no Pacífico equatorial as precipitações com frequência são mais escassas”.
“Para agosto-setembro-outubro os padrões refletem maior probabilidade de que as chuvas ultrapassem o nível normal”.
“A maioria dos padrões do evento “El Niño” também estão prevendo o futuro desenvolvimento de “La Niña”, no Pacífico equatorial. Em geral, este fenômeno influi no período ciclônico, tornando-a mais ativa”.
“Tendo em conta as experiências nos arriscamos a prognosticar para os meses de maio a julho volumes próximos dos normais e de agosto a outubro, próximos ou superiores à norma”.
O “El Nino” está declinando sua intensidade e se aproxima a chegada de “La Niña”. Isto propiciaria precipitações suficientes?
Segundo nossa experiência a principal influência de “El Niño” é no período pouco chuvoso, pois incrementa as precipitações. As pesquisas realizadas até à atualidade, no Centro do Clima, demonstraram que “El Niño” não está associado à seca. A seca é um fenômeno de múltiplas causas, ligado a processos que vão desde insuficientes mecanismos produtores de precipitação até pouca umidade na atmosfera.
“Usualmente o que aconteceu é que quando acontece um fenômeno forte e declina, o período de chuvas que vem a seguir pode ser muito seco”.
“Devido à escassez de precipitações existentes, caso os volumes de chuva ficarem na norma, não seriam suficientes para preencher o déficit que existe”.
“Caso se cumprirem as estimativas para o trimestre agosto-setembro-outubro e o volume de chuvas estiver acima da norma; é provável que ajude a aliviar a situação que temos atualmente”.
Os fenômenos “El Niño” e “La Nina” são cíclicos, se revezam?
“El Niño” e “La Niña” são os mesmo fenômenos, o primeiro está ligado ao sobreaquecimento das águas e o outro é o processo contrário; quer dizer o arrefecimento da superfície do oceano Pacífico tropical. É o mesmo fenômeno, mais com duas fases diferentes.
“No caso de Cuba, o efeito de “La Niña” é na atividade dos ciclones tropicais. Enquanto “El Niño” inibe a formação de furacões no oceano Atlântico, “La Niña” a favorece”.
Alguns dados curiosos registrados no último ano?
“Podemos falar de como foi o comportamento da temperatura durante o ano 2015. Nesse ano foi atingida a temperatura média anual mais alta desde 1951 até a atualidade”.
“Este recorde aconteceu devido ao aquecimento global e, também, esteve influído pelo fenômeno “El Niño”-oscilação do Sul. O referido aumento teve como resultado que se informassem anomalias extremas acima do normal na maior parte do país, durante quase todo o ano 2015, fundamentalmente nos meses do verão, para o Ocidente da Ilha.”
“Em boa parte das estações do Instituto de Meteorologia se registraram temperaturas recordes, com destaque para o mês de abril de 2015, quando se informaram 28 novos recorde de temperatura máxima”. •
Pie de foto...
1.-JR_ 197510: A doutora Cecilia Fonseca Rivera (direita) e a licenciada Marieta Hernández Sosa preveem para a atual temporada de chuvas volumes próximos ou superiores à norma.
2.-JR_ 197513: Em abril de 2015, as estações do Instituto de Meteorologia registraram 28 recordes de temperatura máxima.
3.-JR_ 197519: Na imagem a estação meteorologia localizada em Casa Branca com seus instrumentos para medir a temperatura, evaporação, precipitação, vento e radiação solar. Cada 60 minutos, durante as 24 horas do dia, medem-se os parâmetros que se podem obter com estas ferramentas.