ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA

GUANTÁNAMO.— Na 25a sessão do Comitê de Patrimônio Mundial, realizada de 11 a 16 de dezembro de 2001 em Helsinque, Finlândia, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) incluiu em sua lista do Patrimônio da Humanidade o Parque Nacional Alexandre de Humboldt (PNAH), local de maior biodiversidade e endemismo no Caribe insular e dentre os mais importantes do mundo, atendendo a esses atributos.

Na inclusão, além dos mencionados valores, o organismo universal levou em conta que tal zona constitui um dos principais centros evolutivos, ponte biogeográfica e local de refúgio pleistocênico e miocênico (fundamentalmente na época glacial) da diversidade biológica caribenha e americana, além de albergar alguns dos hábitats naturais mais importantes para a conservação da biodiversidade terrestre e da água doce em Cuba e de desenvolver-se nela comunidades ecológicas.

O PNAH se estende por 70.680 hectares (706,8 km²) dos munícipios Baracoa, Yateras e Manuel Tames, da província Guantánamo e dos de Sagua de Tánamo e Moa, em Holguín, no norte do Oriente cubano. É integrado por quatro departamentos de conservação ou setores: Baracoa, La Melba, Ojito de Agua e Cupeyal del Norte e o centro administrativo principal está na província de Guantánamo. Um total de 22 comunidades — sete delas dentro de seus limites — estão ligadas ao parque.

Área natural protegida mais importante de Cuba, não só porque possui a maior riqueza e endemismo da flora e da fauna, mas também porque nela se encontra o maior remanente dos sistemas montanhosos conservados no país, esta instituição constitui, ao mesmo tempo, o núcleo fundamental da Reserva da Biosfera Cuchillas del Toa.

PAISAGEM DA NATUREZA CUBANA

Fundado em 1996, sob o nome do eminente cientista alemão Alexandre von Humboldt (qualificado por José de la Luz y Caballero como o segundo descobridor de Cuba), tal parque distingue-se por estar representado por uma notável extensão de florestas tropicais, selvas e ecossistemas, incluindo marinhos em bom estado de conservação e integridade ecológica.

Assegura-se que alberga 2% das espécies da flora da terra. Nele habitam mais de 900 endêmicas do mundo vegetal (a terceira parte das registradas no arquipélago cubano), muitas delas exclusivas da região e, em alguns casos, circunscritas a localidades de apenas várias dezenas de metros quadrados.

Dessas endêmicas existem joias botânicas entre as que destacam cinco carnívoras; duas dos gêneros Podocarpus e Dracena, pertencentes a grupos de plantas dos mais primitivos do reino vegetal e uma do reino Buxus, documentada como extinta.

No parque se encontram 16 das 28 formações vegetais definidas para Cuba, delas as três pluvissilvas cubanas; a de baixa altitude, a submontana e a montana; além de outras como a floresta nublada baixa, a sempre verde mesófila e micrófila, a de galeria, o mato espinhoso sobre serpentina, o manguezal e os complexos de vegetação de costa arenosa, rochosa e de matagais.

Justamente, a conjunção das montanhas com as florestas, planícies, planaltos, caudalosos e límpidos rios, recifes coralíneos, baías de saco, ilhotas, poças, lagoas e cachoeiras, em um entorno de clima chuvoso e fresco, típico deste lugar, convertem-na em uma das mais singulares e contemplativas paisagens da natureza cubana.

Suas florestas servem de refúgio a grande quantidade de espécies de aves endêmicas, residentes e migratórias de aves, como os papagaios cubanos e o Psittacara euops (ameaçadas de extinção) e a parte marinha alberga uma significativa colônia de peixes-bois marinhos. Anfíbios, répteis e peixes valiosos não escasseiam.

O Alexandre de Humboldt também constitui o maior centro de diversidade de répteis da nação e nele estão presentes espécies de moluscos como a Polymita picta e outros invertebrados como os escorpiões Centruroides anchorellus e Rophalurus junceus, ambos de importância conservatória e biomédica, e o almiqui (Solenodon cubanus), fóssil vivente endêmico da fauna cubana e mundial, em perigo crítico de extinção. Igualmente, guarda espécies novas para a ciência de aracnídeos, crustáceos e insetos; entretanto, suas águas resguardam nove espécies de camarão e um número indeterminado de outros invertebrados.

Segundo as evidências encontradas, esta região não foi muito prejudicada pelas mudanças climáticas ocorridas durante as glaciações do quaternário e por isso constituiu refúgio para a diversidade biológica antilhana. Sua antiguidade e estabilidade relativa, junto à complexidade do relevo, às rochas predominantes e às variações nas precipitações, determinaram a grande infinidade de hábitat e microhábitat, onde se foram originando e acumulando as mais diversas espécies de animais e vegetais, ao longo de milhões de anos.

LOCAIS DE INTERESSE

Entre seus locais de interesse estão Piedra la Vela (centro de visitantes, de onde partem percursos e trilhas para o turismo de natureza), Cabezada de Jaguaní (rio com saltos e cachoeiras em um entorno natural de florestas tropicais úmidas e pinheirais), Loma del Mulo (um dos melhores mirantes do parque), El Toldo (pico e planalto que constituem as maiores alturas do maciço Moa-Baracoa) e a Cascata fugaz (impressionante salto d'água do rio Jaguaní)

Também estão La Melba (povoado e zona onde o rio Jaguaní apresenta grandes poças e remansos, em um entorno de florestas), Alto de Iberia (planalto bem conservado, onde se encontram lagoas únicas de seu tipo em Cuba e no mundo), Taco (bela baía pertencente ao município de Baracoa) e Escarpas de Moa (zona cársica com um desenvolvido sistema fluvial de cavernas).

PROTEÇÃO DE SUA NATUREZA

Osvalores e charmes do parque se preservam mediante um Plano de Gerenciamento, o qual sugere e implementa as ações e programas para sua administração, uso e aproveitamento racional dos recursos naturais, por períodos quinquenais.

Gerardo Begué Quiala, vice-diretor da Unidade Orçamentária de Serviços Ambientais (UPSA), pertencente ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Citma) em Guantánamo, explica que as medidas protetoras do local se encaminharam à restauração e reabilitação ecológica de ecossistemas degradados por ações antrópicas, ligadas, fundamentalmente, a processos prospectivos mineiros, em locais que no passado foram concessões mineiras.

Acrescenta que hoje se estão emendando os marcantes danos ecológicos deixados por companhias madeireiras estadunidenses, na década de 1950, como consequência da forte exploração florestal em alguns pontos do parque, tarefa na qual é decisivo o reflorestamento.

O mestre em Ciências argumentou que se trabalha nos estudos de história natural e ecologia de algumas espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção, como as populações de almiqui, papagaio cubano, Psittacara euops, a espécie de cutia Capromys melanurus, bem como a biajaca del Guaso ou Joturo (Cichlasoma ramsdeni Fowler), pez fluvial endêmico dos rios de Guantánamo e alguns adjacentes de Holguín e Santiago de Cuba.

“Também se trabalha com um grupo de espécies da flora, todas endêmicas do norte de Oriente (algumas ameaçadas), de grande significação para a conservação e de alto valor por suas potencialidades de usos extrativos, biomédicos, ecológicos e a contribuição de outros princípios bioativos para a agricultura e a cosmética. Entre elas estão o incenso, o sapoti, a mimosa Lysiloma bahamensis Benth, a Sideroxylon jubilla, a Calophyllum utile e a quitaquistes”.

Assegurou o especialista em ecologia e fauna silvestre que se conseguiu um notável resultado no controle e manejo das espécies exóticas da flora e da fauna, as quais causaram danos severos aos ecossistemas naturais e às populações humanas. Exemplifica com o controle do mangusto, o qual proliferou nas montanhas e ainda afeta a fauna selvagem e doméstica; e no caso da flora com a neutralização da expansão da tulipeira, espécie muito perigosa por sua capacidade de invasão e ocupação.

“Há 12 anos, em parceria com os camponeses e produtores das comunidades locais do interior e da zona de amortização, trabalha-se na conservação, manejo e aproveitamento da diversidade agropecuária, sendo significativas as medidas de conservação e melhoramento de solos e a presença de espécies frutíferas, medicinais, aromáticas, verduras e outras culturas tradicionais, em um verdadeiro exemplo de produção de alimentos orgânicos sadios e a não proliferação e uso de insumos químicos”, acrescenta Begué Quiala.

Levando em consideração que este meio geográfico guarda a mais importante reserva de água potável de Cuba e da bacia do Caribe, veio trabalhando-se na conservação das florestas protetoras de águas e solos em um grupo de bacias hidrográficas, entre elas a de Toa. “Por esta razão — comenta nosso entrevistado — a totalidade dos rios da zona mantém suas águas cristalinas, livres de poluição”.

Não se pode desligar do grande objetivo encaminhado à preservação dos recursos naturais da zona, a pesquisa empreendida, há alguns anos, para inventariar dezenas de espécies de anfíbios, peixes marinhos e fluviais, répteis, mamíferos e aves. O rigor da indagação, a cargo de especialistas da UPSA na província, requeriu da assistência de prestigiosas instituições do país, entre outras o Instituto de Ecologia e Sistemática (IES), Centro Oriental de Ecossistemas e Biodiversidade (BIOECO), Universidade de Havana e o Museu Nacional da História Natural de Cuba. Só de aves foram registradas mais de 90 espécies.

O parque foi prejudicado por vários eventos naturais, como o furacão Iván, em setembro de 2004, o qual danou a flora e a fauna, bem como caminhos, estradas e moradias.

Mediante um plano de recuperação, minimizaram-se os prejuízos, no possível, talando-se as árvores arrancadas, inclinadas ou partidas pelo fenômeno meteorológico e se adotaram outras medidas para a conservação da flora e a fauna, como programas de reflorestamento, colocação de bebedouros de água potável e alimentação adequada para as diferentes espécies. Trabalhou-se, também, na recuperação da apicultura.

Especialistas asseguram que o PNAH,maior vestígio conservado de um ecossistema de montanha em Cuba, possui tamanho e estado de preservação suficiente para garantir o funcionamento, em longo prazo, dos processos ecológicos que apoiam a evolução contínua de suas comunidades e espécies biológicas.

Essa instituição de ciência conseguiu manter um sistema eficiente de vigilância e proteção de seus recursos naturais, e mitigar as fraquezas e riscos, tais como os delitos ecológicos e os incêndios florestais.

Pelo sistemático atendimento e cuidado científico, em 2011 outorgaram ao parque o Prêmio Nacional de Conservação, outro merecido reconhecimento para um local convertido em paradigma de Cuba e do mundo, na proteção da natureza e a biodiversidade.