ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Fidel e Chávez foram impulsores da integração latino-americana Photo: Jorge Luis González

POUCO antes do Bogotaço e do assassinato de Eliécer Gaitán, em 1948, o estudante Fidel Castro subscreveu uma proclamação que distribuiu em uma reunião que efetuava a Organização dos Estados Americanos (OEA) na capital colombiana.

Tão cedo como nessa época, quando já os Estados Unidos se lançavam vorazmente sobre as terras da América, o documento proclama:

«... a luta pela democracia em Santo Domingo, a luta pela independência de Porto Rico, o Canal do Panamá, o desaparecimento das colônias na América Latina, a devolução das Malvinas à Argentina e a luta pela democracia».

Era a ideia martiana: «Já não podemos ser o povo de folhas, que vive no ar, com a folhagem carregada de flor, estalejando ou zumbindo, segundo a acaricie o capricho da luz, ou a açoitem e talhem as tempestades; as árvores hão de se enfileirar para que não passe o gigante das sete léguas!».

É muito singular que tantos anos antes do triunfo da Revolução, já o líder máximo cubano estivesse se apresentando como expoente da unidade, em um congresso estudantil trunco pela violência e expondo essas ideias no mesmo instante em que nascia o instrumento que os Estados Unidos utilizariam para intervir na América Latina, apoiar ditaduras e facilitar o domínio de suas grandes empresas.

Já Fidel tinha fixado em seus neurônios, diante da ingerência de Washington nos assuntos cubanos, o que viria a ser sua luta, tomada do ideário martiano, onde o Apóstolo sublinhava exatamente o que depois se proporia o líder cubano e que expressou perante uma multidão, em frente do então Palácio Presidencial, que ele não tinha «...que prestar contas a nenhum congressista dos Estados Unidos (...) nem a ...nenhum governo estrangeiro (...) Eu presto contas aos povos, em primeiro lugar a meu povo, o povo cubano e, em segundo lugar, a todos os povos da América».

Os povos, sua unidade, sua integração, é a constante no maior estadista e dedicaria toda sua energia, nos anos seguintes, para defender o país, primeiro, e o resto do continente depois.

O império não pôde isolar a Revolução por muito que tentou, não conseguiu destruí-la, enquanto a diplomacia cubana, dirigida por Fidel, agia com inteligência e sabedoria por todos lados, novos governos não submetidos apareciam no mapa político do continente e a prédica sábia do Comandante, à qual se uniu o bolivariano Hugo Chávez, desde 1998, fizeram da integração e a unidade o objetivo da América Latina e o Caribe.

Em 14 de dezembro de 2004, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o líder da Revolução Cubana, Fidel Castro Ruz, assinaram em Havana a Declaração Conjunta para a criação da Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA) e seu acordo de aplicação. A ALBA é uma ferramenta revolucionária criada como contraparte à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) impulsionada pelos Estados Unidos.

A ALBA, cujo nome mudou para o de Aliança Bolivariana dos Povos de Nossa América-Tratado de Comércio dos Povos, mas mantendo as mesmas siglas, deveio espaço de integração para um grupo de países da América Latina e o Caribe, com o fim de lutar contra a pobreza e a exclusão social, mediante o desenvolvimento de bases de cooperação mútua e complementação política, social e econômica para as nações desta região.

Era um não ao mercado de competência capitalista neoliberal e as boas-vindas à complementaridade solidária, com o Banco da ALBA e uma moeda eletrônica para facilitar operações financeiras e proteger as reservas de divisas dos Estados sem muitos recursos.

Em cinco anos da ALBA tinham sido atingidos sucessos notáveis com as missões enviadas a lugares intrincados para detectar doenças genéticas, tratamento a deficientes, a incrível Operação Milagre, que conseguiu devolver gratuitamente a visão a milhões de pessoas de baixas rendas ou pedintes e o acordo entre Cuba e a Venezuela para preparar, em dez anos, 40 mil médicos latino-americanos.

Em 2005, o presidente boliviano, Evo Morales, uniu seu país à ALBA e depois continuaram se somando países caribenhos, sul-americanos e centro-americanos. O sucesso da ALBA estava assegurado, e o ritmo da unidade continuou sob a influência de Fidel e Chávez, pois em 2005 surgiu a Petrocaribe, por iniciativa venezuelana; em 2007 viu a luz a União das Nações Sul-americanas e, finalmente, em 2011, foi posta em funcionamento a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos.

Junto a estas novas organizações se promoveu a criação de um Banco do Sul e o projeto de redes de gasodutos e das telecomunicações, sem concretizar, devido às tentativas estadunidenses de retomar o terreno que vem perdendo desde que as ideias de integração e unidade de Fidel começassem a ganhar força e adeptos.

Um dos avanços mais destacados da ALBA tem sido a eliminação do analfabetismo na Venezuela, Bolívia, Nicarágua e o Equador mediante o método ‘Sim, eu posso’, elaborado em Cuba

Washington não gosta da criação de empresas grão-nacionais, que se oponham às transnacionais, mas já existem em setores como a pesca (Transalba), mineração, transportes, telecomunicações (Albatel) e agricultura, tendo, ainda, os Portos da ALBA, SA para a construção de instalações portuárias em Cuba e a Venezuela. Albanisa é um projeto misto da Venezuela e a Nicarágua para refinação do petróleo.

Respeito à moeda eletrônica, foi criado o Sucre, cujo emprego começou em 2010, que será válida para os países membros.

Um dos países mais pobres da área, Haiti, tem se beneficiado com três usinas geradoras de eletricidade. Também a ALBA, convertida em germe de integração e unidade, tem contribuído para diminuir o déficit elétrico na Nicarágua, com a construção de usinas elétricas.

José Luis Merino, membro da Comissão Política da FMLN de El Salvador, sublinhava que «a ALBA é uma ferramenta que permitiu, sem saquear, sem roubar as riquezas dos países, levantar o bem-estar, melhorar os patamares de vida praticamente da América Latina toda e, inclusive, dos próprios norte-americanos no coração do império». Esclareceu que há bairros de cidades norte-americanas que têm aquecimento pela ajuda que foi estabelecida a partir da Venezuela.

A árvore cresceu e tem ramos fortes. O Império tenta cortá-las e impedir que suas raízes se aprofundem; porém os povos latino-americanos estão com impulso de luta e pode haver algum revés, mas é difícil que com repressão e neoliberalismo se detenha a marcha da América Latina, porque as árvores (os povos) se estão enfileirando. As ideias que Fidel lançava já em 1948, na Colômbia, sobre integração e unidade são impossíveis de parar. •

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Fidel e Chávez foram impulsores da integração latino-americana