
EM um mundo cada vez mais envelhecido, a manchete deste artigo pode ser qualificada como um dos principais objetos de estudo, e para tentar dar resposta, o semanário Granma Internacional dialogou com o especialista do Centro de Pesquisas sobre a Longevidade, Envelhecimento e Saúde (Cited), doutor e professor Jesús Menéndez.
«Alguém me contou um dia esta anedota na qual um homem dizia a uma mulher: ‘Vocês costumam queixar-se durante a vida toda’. E a mulher respondeu: ‘Certo, mas em geral nós enterramos vocês’. Dessa maneira, o professor pôs este exemplo, que bem demonstra a disjuntiva que antes mencionamos.
«Quase 20% dos cubanos (19,8% de sua população) tem cãs e daqui a pouco a cifra aumentará, fenômeno que em outras latitudes é chamado de tsunami prateado. O número de mulheres adultas ultrapassa o dos homens, com 53,2%, vivendo ao mesmo tempo uma média de quatro anos mais», assinalou o entrevistado; quem imediatamente arguiu: «Porém, viver mais não quer dizer viver melhor».
De acordo com o especialista, embora a maioria das pessoas adultas seja independente, com o aumento da idade também se incrementam as doenças crônicas, como a hipertensão arterial, o nível de açúcar no sangue (diabetes), as doenças cardiovasculares e a artrose, para mencionar alguns exemplos.
«Igualmente, disse, cresce o número de pessoas dependentes; embora a saúde nas pessoas adultas não deva ser avaliada pelas doenças que padeça, mas sim por sua capacidade de encaminhar todos os dias sua vida de forma independente».
A esperança de vida ao nascer atualmente, em Cuba, é de 78,45 anos para ambos os sexos, 80,45 anos para as mulheres e 76,5 anos para os homes; mas a esperança de vida daquelas pessoas que completam as seis décadas é de 22 anos mais, e de quase nove anos para os que completam os 80 anos, segundo o Anuário Estatístico da Saúde, de 2016.
Segundo o doutor Menéndez, em um estudo realizado, há uns anos, pelos pesquisadores do Cited, foi avaliada a saúde das mulheres adultas de Havana com três perguntas: a) número de doenças crônicas que padecia; b) autoavaliação de saúde e c) presença ou não de deficiência. «Quando se compararam estes três aspetos com os homens, observou-se que as mulheres adultas possuíam uma preocupante opinião de como estava sua própria saúde, mais doenças e maior capacidade que os homes», explicou.
«Nos tempos atuais, apela-se às mulheres para se incorporarem ao trabalho, cuidarem dos filhos e os adultos, mas não se pode afirmar que essa seja a causa que determine seu baixo nível de saúde respeito aos homes», assinalou o professor.
Acrescentou que em quase todos os estudos realizados a esse respeito em outros países, os resultados são semelhantes. Pode ter várias explicações: a partir do ponto de vista biológico, as mulheres possuem mais doenças do tipo artrose que os homes; por outro lado, os estrogênios parecem ter efeitos benéficos na função mental, atividade motora, entre outros; os quais, ao deixar de produzir-se na menopausa, diminuem seu efeito protetor.
Contudo, referiu o especialista, pode se considerar que isto não se deva a causas estritamente biológicas; e nesse sentido se refere a padrões culturais estabelecidos. «A partir do surgimento da mulher não teve a possibilidade de um reconhecimento real de todas suas potencialidades, pois muitas de suas necessidades permaneciam relegadas a um segundo plano, em função de outros. Ensinaram-lhe assim e ela o fez toda a vida. Por outro lado, a mulher tradicionalmente é a máxima cuidadora dos membros do lar: filhos, esposos, pais e propriamente deixa de se cuidar», disse.
O que acontece com a mulher mais deteriorada nesta época? Acaso as tarefas às que habitualmente se dedicou; produziram-lhe maior desgaste? Existem condições excepcionais na mulher que lhe permitem ter maior supervivência? As mulheres são as que mantêm a espécie. Esta condição natural permite que ainda, com mais deterioro, possam viver mais? Estas interrogantes necessitam de outras pesquisas que permitam conhecer mais acerca do tema. Porém, não há dúvidas de que um sistema de cuidados em longo prazo, que hoje é um desafio, permitiria que tanto as mulheres quanto os homens pudessem viver com maior qualidade de vida por mais tempo», concluiu o especialista.