ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Propiciar que o idoso tenha opções de entretenimento e socialização é uma das chaves. Foto: Jose M. Correa

SE em uma esfera da vida o envelhecimento demográfico que experimenta Cuba hoje — com 19,8 % de sua população que ultrapassa os 60 anos — apresenta desafios, é justamente a social. No entanto, o indivíduo, a família e a sociedade não têm a total preparação para compreender o fenômeno, pois não existem recursos materiais ou espaços de apoio suficientes para satisfazer as demandas que requer esta etapa da vida.

«Estudos realizados acerca do envelhecimento no mundo dão a conhecer um indicador de risco muito importante nestes grupos etários, e nosso país não foge a esse flagelo, associado à violência. Referimo-nos aos maus-tratos e suas manifestações», indicou ao Granma Internacional Minsú Sotomayor Álvarez, mestre em Saúde Pública e Envelhecimento e pesquisadora do Centro de Pesquisas acerca do Envelhecimento, Longevidade e Saúde do Idoso de Cuba (Cited).

A entrevistada considera que os maus-tratos é a ação intencionada ou não, que produz afetação biológica, psicológica, social, financeira, material; bem como as condutas negligentes, bem sejam de forma transitória ou permanente. «Produz-se no seio (individual ou familiar) de qualquer relação onde exista uma expectativa de confiança e as formas mais usuais nas quais é apresentada: maus-tratos físico, psicológico, econômico ou a negligência ou abandono.

«Constitui um problema pouco reconhecido pela equipe de saúde, apesar de incidir cotidianamente na consulta geriátrica. Eles devem ser identificados para seu oportuno atendimento, pois têm solução a partir de uma perspectiva integral», explicou a pesquisadora.

Acerca dos referentes deste fenômeno nos idosos em Cuba, Sotomayor Álvarez falou de um recente estudo realizado pela especialista a pacientes ingressados nas salas de hospitalização do Cited, que teve como tema os maus-tratos aos adultos dependentes.

Os resultados, assinalou, identificaram como formas de maus-tratos: a negligência, os maus-tratos psicológicos e, com menor indicador, o financeiro. Não se encontraram outras formas na pesquisa, mencionou a entrevistada, referindo-se ao dano físico especificamente; embora não signifique que não exista. Porém, como tendência, o estudo demonstra que não é o mais frequente em nossa população.

Contudo, desconhece-se pela parte dos acompanhantes dos pacientes dependentes do abuso ao idoso, e também dos centros de apoio. «As mulheres de 80 e mais anos foram as mais maltratadas; e na medida em que aumentou o nível de dependência, aumentaram os maus-tratos (negligência e afetação psicológica), segundo mostrou o estudo.

«Não obstante, independentemente do nível de harmonia ou desarmonia nas relações familiares, apresentou-se este fenômeno, e se descobriram níveis de maus-tratos nos acompanhantes», disse a especialista.

CARACTERIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA

Nas manifestações de violência e maus-tratos encontradas, a pesquisadora mencionou as ameaças de castigo ou internamento em uma instituição contra sua vontade; ou ignorá-lo/la, confiná-lo/la de forma injustificada em um leito ou poltrona, isola-lo/la socialmente, não responder às suas inquietações, utilizar a palavra velho/a depreciativamente para se referir a eles, infantilizá-los, superprotegê-los ou despersonalizá-los.

Igualmente, os idosos pesquisados deram outros elementos como não oferecer-lhes o assento no ônibus nem ajuda para cruzar a rua, excluí-los, não levar em conta seus gostos dos programas da televisão, a utilização indevida de sua pensão, impor a assinatura de documentos sem sua licença, por sua incapacidade mentalmente para fazê-lo ou sob engano, tendo capacidade.

Outras manifestações identificadas têm a ver com proporcionar um atendimento não ótimo em sua moradia, a perda de peso não intencionada ou justificada por patologias, a desidratação, falta de higiene; visão ou audição deficiente sem ser corrigidas, a agudização de patologias crônicas por não tomar os medicamentos necessários sem consulta prévia, provocando dor física; a vestimenta descuidada, suja, inapropriada para a época do ano; a falta ou péssimo estado de conservação das próteses (andadores, binóculos, fones de ouvido, dentaduras, etc.); a procura ou mudança permanente de profissionais e/ou centros de atendimento médico, e as lesões pouco comuns em diferentes partes do corpo.

A responsabilidade dos cuidadores e o desconhecimento de como tratar o estresse pode ser, segundo os especialistas, um dos principais fatores que geram situações de violência.

«Para conseguir uma dinâmica adequada com o idoso dependente, é válido aproveitar, sempre que seja possível, sua integração com o ambiente circundante do bairro, os conhecidos, amigos e visitar lugares que propiciem entretenimento», assinalou Sotomayor Álvarez.

«Permitir-lhe participar das atividades com o resto de sua família, sempre que seja apropriado, propiciar caminhadas e outras atividades físicas, que ajudam a relacioná-lo a outras pessoas, é essencial», disse.

«Deve-se lembrar que, muitas vezes, trata-se de um doente e isso por ocasiões não permite uma compreensão adequada da tarefa. É importante sair da casa com ele e não frequentar lugares perigosos de muito barulho ou público nutrido. É conveniente participar dos grupos de pessoas que têm doentes com igual patologia, isto permitirá informação, relaxar-se e tomar decisões de conjunto».

A especialista recomendou, também, dirigir-se aos Serviços Sociais da comunidade para valorizar se pode receber algum apoio à sua necessidade.

Do que se trata é de propiciar uma projeção diferente acerca das pessoas idosas, reconhecendo-as como componente social que hoje desfrutamos. Reconhecer e identificar quando se usa a violência e os maus-tratos é o primeiro passo. A dignidade, afinal de contas, não envelhece.

UM ALERTA

Segundo a Organização Mundial da Saúde, as pessoas idosas vistas como um peso para a família, podem pensar que sua vida tem menos valor e, como consequência disso, são mais propensas à depressão e ao isolamento social. Um estudo realizado recentemente mostra que a média de vida das pessoas idosas sondadas que tinham atitudes negativas com respeito ao envelhecimento foi de 7,5 anos, mais curta do que das que tinham atitudes positivas.

ALGUNS INDICADORES QUE PODEM SUGERIR MAUS-TRATOS NOS IDOSOS

- Dependência importante para as atividades da vida diária.
- Histórico familiar de violência.
- Sobrecarga do familiar cuidador.
- Mudanças bruscas na dinâmica familiar.
- Explicações contraditórias entre os idosos e a família.
- História familiar de alcoolismo e doença mental.
- Moradia pequena, com condições higiênicas precárias.
- Idoso que é cuidado por pessoa não familiar, só porque recebe os benefícios deste.
- O idoso se nega a dar explicação de seus problemas perante o familiar.
- Atitude de indiferença perante o idoso ou criticar ou zombar do mesmo.
- Alterações emocionais do idoso.

COMO EVITAR OS MAUS-TRATOS NA COMUNICAÇÃO?

- Falar à pessoa atentamente aos olhos.
- Sentar-se em frente ou ao lado.
- Utilizar o contacto físico.
- Escutar com atenção.
- No julgar. Não dar-lhe conselhos continuamente.
- Procurar temas de conversação: acerca de seu passado, olhando fotos, jornais antigos, livros com ilustrações.
- Colocar-se sempre na posição dele (idoso).
- Aceitar a palavra não como resposta.
- Dar tempo para responder.
- Tentar dizer-lhe as coisas no momento oportuno.
- Falar claro e devagar. Não mudar de tema rapidamente.
- Não falar muito alto.
- Fazer perguntas simples.
- É preferível dizer o que deve fazer ao avesso do que não deve fazer».
- Não perder a calma.
- Dar oportunidade para que responda.
- Sorrir.