ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
A fábrica tem o telhado completamente coberto com painéis solares translúcidos para a produção de energia limpa. Foto: Endrys Correa Vaillant

AS Zonas de Desenvolvimento do mundo são criadas para atrair capital estrangeiro, substituir investimentos, gerar empregos e vincular cadeias produtivas e de valor. Tudo isso contribuirá diretamente para o desenvolvimento do país, e é isso que Cuba vem fazendo na Zona Especial de Desenvolvimento de Mariel (ZEDM).

Embora este tipo de projeto leve entre três e cinco anos para criar infraestruturas e as condições necessárias para atrair empresários, a ZEDM fez isso ao mesmo tempo. Após cinco anos, já possui uma concessionária e 41 usuários aprovados, dos quais 17 estão em operação.

Embora muitas das entidades localizadas na Zona já estejam prestando serviços, até agora nenhuma em operação era dedicada à área produtiva. Recentemente, a Devox Caribe iniciou sua fase de testes e hoje é a primeira fábrica da ZEDM a obter produtos acabados.

A COR DE CUBA

«Orgulhosamente produto cubano!» É a frase que pode ser encontrada em cada um dos recipientes de pintura feitos pela Devox Caribe. Segundo seu presidente, Jaime Murow Troice, há 25 anos a Devox exporta pinturas de todos os tipos do México e para Cuba.

«A proposta comercial da Zona Especial de Desenvolvimento é atraente e decidimos produzir mais do que importar. Fomos um dos primeiros a chegar à ZEDM e hoje somos os primeiros a fazer aqui o nosso produto», afirma Murow.

Segundo o presidente da Devox, a equipe de trabalho que chega até eles através do empregador, é muito boa. Foto: Endrys Correa Vaillant

A fábrica que está incluída dentro das modalidades da Zona como uma empresa cubana com cem por cento de capital estrangeiro, é capaz de produzir, em um turno de oito horas, entre 60 mil e 70 mil litros, o que equivale a cerca de 3,5 mil recipientes de pintura.

«Nesta primeira fase, vamos produzir apenas tintas à base de água. Cem por cento de tintas acrílicas e de altíssima qualidade; para impermeabilização, acrílicos de poliuretano para telhados, tintas de parede flexíveis, alguns acabamentos de superfícies, vernizes de piso e madeira, todos à base de água», explica o presidente da Devox.

ALTA TECNOLOGIA PARA PRODUZIR

«Os espaços produtivos estão prontos. Todos os testes foram feitos para o funcionamento e temos matéria-prima suficiente», diz Murrow, explicando cada um dos espaços disponíveis da usina.

Do lado de fora você pode ver seis tanques de armazenamento e a cisterna de água, que tem capacidade para 130 mil litros. Uma vez dentro, as áreas são bem definidas. No centro, e a cinco metros e 40 centímetros de altura, podemos ver a plataforma.

Murow diz que quando construíram a fábrica, pensaram em maneiras melhores de contribuir para economizar eletricidade e água, além de criar uma usina que seja amigável ao meio ambiente.

«Escalar a plataforma era muito caro, mas a ideia é trabalhar por gravidade para descarregar os tanques. Desta forma, a tinta vai diretamente para a embalagem sem a necessidade de bombas que consumam energia», acrescenta.

Nesse espaço, o maior dos tanques é para tinta branca. Os outros são destinados a verdes, vermelhas e outras tonalidades. Essa diferenciação torna a lavagem mais fácil e você não precisa despejar água desnecessariamente. O procedimento permite que a água seja reutilizada em outros processos, como os banheiros, que são conectados a um biodigestor.

«É raro encontrar uma fábrica onde todos os tanques são feitos de aço inoxidável, mas aqui», diz Murrow, «é conveniente devido aos problemas de corrosão e limpeza. São todos tanques de aço inoxidável fechados, e os agitadores dentro não são como as pás tradicionais. Estes, ao contrário dos outros, consomem 25% menos de energia e são 50% mais rápidos no processo de agitação».

Nesta primeira etapa eles produzirão apenas tintas à base de água, mas em uma segunda fase, tintas de proteção anticorrosiva e outras tintas de alto valor. Foto: Endrys Correa Vaillant

Nesta mesma plataforma está a sala de controle, que é o «cérebro» de toda a fábrica. A partir daí todos os procedimentos são monitorados. É uma usina totalmente automatizada, mas também pode ser controlada manualmente.

«Ela foi projetada para nunca parar. É completamente automatizada, mas também, se tivermos um problema, pode ser controlada manualmente. É uma usina de última geração que possui fibra ótica para comunicação de voz e dados».

«Pode ser operada de qualquer lugar do mundo porque está integrada ao que hoje é conhecida como a Internet das coisas. A partir de um dispositivo móvel ou um computador, você pode rever o funcionamento do sistema e ativar ou fazer alterações nos processos de produção da usina», explica o presidente da Devox Caribe.

Outra área é o laboratório de cores, onde cada uma das cores solicitadas pelo cliente é projetada. Nela usam uma nova tecnologia de pigmentos.

«Eles são pigmentos que não precisam ser dispersos, você não precisa moê-los ou usar líquidos. São grânulos que você une ao sólido, e sem fazer pó, as adições para obter a cor que você deseja. Isso evita entupir os tubos de massa e tornar o processo o mais limpo possível», diz Murow.

A garantia de qualidade é outro dos procedimentos realizados em uma fábrica de tintas. Nesta parte do processo são feitos os testes de viscosidade, capacidade de lavagem (aptidão da camada seca para ser limpa de sujidade sem danos) e se assegura que a tinta seja de acordo com o previsto e que o lote de produção seja produzido em função do design.

Em outro dos espaços, é feito o processo de embalagem. Isso acontece a partir da plataforma, pela gravidade e até os recipientes; também de forma automatizada e com equipamentos de alta tecnologia.

UMA FÁBRICA COM SUSTENTABILIDADE

Embora na Zona Especial se preste atenção à sustentabilidade ecológica e o compromisso daqueles que trabalham lá de contribuir para este objetivo, acredita-se que esta fábrica economize energia, água e viva no ambiente mais verde possível.

Tanto é assim que decidiram combinar a planta industrial com a arte. O presidente da Devox Caribe diz que não há necessidade de separar as coisas, por isso as colunas que suportam a plataforma e outros espaços da estrutura foram pintadas por um jovem artista das artes plásticas, de forma a criar um ambiente natural e colorido.

«Trata-se, é, de viver em harmonia com o ambiente que nos rodeia. Por exemplo, no piso externo decidimos fazê-lo de grade e cascalho, de modo que quando chove, a água em vez de ir para o escoadouro retorna para o chão, ajudando a recarregar os lençóis freáticos», diz Murow.

A usina, conforme solicitado pela Zona e pelo município de Artemisa, é projetada para sobreviver a furacões. Mesmo quando a sua estrutura tem orifícios mais claros e permite melhor circulação do ar, a construção não perde a sua resistência.

Outro fato interessante sobre a usina é o telhado, completamente coberto com painéis solares translúcidos. As células fazem a função de telhado, elas permitem obter a energia do Sol para a operação da fábrica e contribuem iluminando todos os espaços.

"Arquitetonicamente parece muito bom e nos permite gerar nossa própria energia. Temos um contrato com a União Elétrica de Cuba (UNE) e a energia que nos resta é enviada para a rede nacional. Até agora, como a fábrica não está trabalhando cem por cento, enviamos apenas 30 mil quilowatts para a rede nacional, mas em dias produtivos esse número pode aumentar muito mais», acrescenta Jaime Murow.

As chamadas lâmpadas fotovoltaicas são unidas a esta construção. São cavidades de luz que absorvem a energia solar e a amplificam, permitindo também economia.

A fábrica também possui um gerador elétrico de emergência. Segundo seu presidente, em um dia nublado, onde a energia solar não seja suficiente para operar, o ‘cérebro’ do sistema fotovoltaico decidirá se retira energia da rede elétrica ou se começa a operar a usina de emergência. «Por exemplo, se você trabalha à noite, usa toda a energia da UNE porque o sistema não é projetado com baterias».

EXPERIÊNCIAS NA ZEDM

Jaime Murow Troice, presidente da Devox Caribbean conta que o terreno onde está a fábrica lhes foi dado em janeiro de 2016. Desde então começou o processo de licenciamento; em seguida, a terraplenagem, e foi em janeiro 2017 quando começou a ser colocada a estrutura. Demorou cerca de dois anos para terminar a fábrica.

«A Janela Única, que é o nosso elo da ZEDM com o mundo exterior, nos apoiou, mas ainda demorou mais do que tínhamos previsto terminar. Tem sido uma caminhada difícil porque praticamente todos os insumos tiveram que ser trazidos de fora, a logística foi complicada, mesmo com todas as facilidades que a Alfândega nos deu; mas temos a satisfação de que a usina já está produzindo e há contratos com entidades diferentes», afirma.

Sendo uma usina totalmente automatizada, não precisa de tantos trabalhadores para serem operados, cerca de 30 são suficientes para fazê-la funcionar. No entanto, é importante esclarecer que todos são profissionais qualificados para realizar sua atividade. Segundo Murrow, a ideia é que todos os trabalhadores sejam cubanos.

«Neste primeiro momento há dois mexicanos treinando a equipe, mas a intenção é que, se estivermos em Cuba, sejam daqui. A equipe de trabalho que nos vem através do empregador, é muito boa. Temos trabalhado com eles questões relacionadas à produtividade, equipamentos, qualidade do produto; e eles aprendem bem», diz Murow.

A ideia desse tipo de empresa ou fábrica é criar, junto com empresas cubanas, cadeias produtivas. Seu presidente explica que eles já começaram a usar materiais da entidade Minera Coco Peredo e todos os paletes que usam são fabricados em Cuba pela Agroindústria.

«Estamos no processo de incorporação de empresas cubanas em nossas cadeias produtivas, mas até hoje não conseguimos percorrer esse caminho a bom ritmo. Atualmente, a maior parte da matéria-prima que trazemos é de fora e de Cuba basicamente usamos apenas água e carbonato de cálcio», acrescenta.

Até agora eles começaram a fornecer pinturas para a empresa cubana Almacenes Universales S.A. e a partir de janeiro de 2019 começarão com outros clientes. Nesta primeira etapa irão produzir tintas à base de água, mas unicamente em uma segunda fase, preveem-se tintas anticorrosão e outras de valor elevado, ideais para qualquer tipo de construção, o lar ou a indústria.

A Devox Caribe se consolida hoje como a primeira empresa da Zona de Desenvolvimento Especial de Mariel a fabricar produtos acabados. Com uma capacidade de produção de 24 milhões de litros de tinta por ano, esta empresa tem como prioridade atender às necessidades do mercado cubano e, posteriormente, exportar seus produtos para outras partes do Caribe.