
O lugar que Cuba ocupa em questões políticas é aquele que pensa na humanidade como uma pátria comum, na qual todos os homens batem juntos e com direitos iguais no mesmo coração. Por esse motivo, seu território foi, é e sempre será, um espaço para que a cobiça imperial seja denunciada em suas instalações, como foi o caso do Encontro Antiimperialista de Solidariedade, pela Democracia e Contra o Neoliberalismo, realizado no Palácio das Convenções desde sexta-feira 1de novembro até domingo 3, com a participação de 1.352 delegados de mais de 86 países. Devido à importância do que foi vivenciado nesses três dias, o Granma Internacional oferece aos seus leitores uma síntese do que aconteceu.
PRIMEIRO DIA
Presidido por José Ramón Machado Ventura, segundo secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, e Esteban Lazo, presidente da Assembleia Nacional do Poder Popular e do Conselho de Estado, abriram as portas do Encontro.
«A profunda expressão das lutas de nossos povos é sentida nesta sala», disse o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla, falando na abertura do fórum.
O ministro das Relações Exteriores de Cuba afirmou que o atual governo dos EUA aumenta a interferência nos assuntos de nossos Estados e alertou: «Sinto o dever de expressar a vocês que tempos difíceis estão chegando, quando os esforços de todos serão decisivos e determinantes». Perante a política hostil dos EUA contra Cuba, o ministro das Relações Exteriores disse que o governo daquele país incorre em violações dos Direitos Humanos de cubanas e cubanos e também lançou uma campanha de agressão contra a cooperação médica que nosso país oferece aos mais necessitados.
«Agradecemos a solidariedade que vocês expressam diante da agressão que nosso povo resiste e resistirá até as últimas conseqüências», afirmou.
Atempadas foram as palavras de Fernando González Llort, presidente do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (Icap), dirigidas ao auditório, lembrando o Comandante-em-chefe Fidel Castro: «Nesta sala, Fidel disse que se voltasse ano iate Granma, teria feito isso com os movimentos sociais a bordo».
Nesse primeiro dia, o painel sobre os desafios da esquerda no cenário atual diante da ofensiva imperialista resultou em um intervalo de reflexão para os delegados, que defendem a importância de apresentar um modelo alternativo ao predominante no mundo unipolar e capitalista. O pesquisador argentino Atilio Borón alertou sobre a necessidade de reconhecer que a direita, que tem em suas mãos a poderosa mídia, possui grandes somas de dinheiro, as quais aproveita para implantar suas linhas de mensagens e ocultar a verdade.
O líder do Partido Comunista da Espanha, José Luis Centella, disse que «se não derrotarmos a direita, isso pode ser um perigo não apenas para a humanidade, mas também para o planeta». Também fez um apelo à esquerda para que seja capaz de cooperar, unir forças e fazer do ano de 2020 um impulso dos povos contra o imperialismo. «A resistência deve dar origem à contra-ofensiva», afirmou.
Ana Luz Farías, coordenadora da Marcha Mundial das Mulheres, disse que nossa luta é de resistência e deve ser baseada na solidariedade, na democracia e em uma sociedade socialista para todos os povos do mundo, sem fronteiras.
Yasmina Bárbara Vázquez Ortiz, acadêmica do Centro de Estudos Hemisféricos e dos Estados Unidos, da Universidade de Havana, explicou que a direita que enfrentamos é uma expressão das particularidades adquiridas pelas disputas multidimensionais pelo poder no imperialismo do século XXI, em meio de um processo que foi chamado de conclusão da concentração de riqueza e capital, à concentração do poder político.
«Uma das principais estratégias de subversão do imperialismo é o apelo à formação de movimentos de cidadãos e partidos sem ideologia e a promoção de ações de protesto social, que incluem até manuais com orientações precisas para cada caso», explicou a acadêmica.
Como muitos especialistas e delegados bem exortaram durante suas intervenções, o uso de ferramentas da hipermídia é uma arma desses tempos.
SEGUNDO DIA
O segundo dia do Encontro Antiimperialista de Solidariedade e pela Democracia e Contra o Neoliberalismo viveu um momento especial, quando as 2.061.565 assinaturas do povo cubano foram entregues a Gleisi Hoffmann, presidenta do Partido dos Trabalhadores do Brasil, para exigir a libertação de Luiz Inácio Lula da Silva.
A ação ocorreu durante um ato de solidariedade com o ex-presidente brasileiro e foi presidida pelos membros do Bureau Político do Partido Comunista de Cuba, Ulises Guilarte, secretário-geral da Central dos Trabalhadores de Cuba, e Teresa Amarelle Boué, secretária-geral da Federação das Mulheres Cubanas.
Como um presente precioso, Hoffmann apreciou o gesto e expressou que «estamos aqui com uma delegação muito representativa do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores e, em nome de todas as entidades e partidos aqui presentes, saudamos com entusiasmo a Revolução Cubana», da qual destacou a resistência na luta contra o imperialismo, o neoliberalismo e a democracia por 60 anos.
Em um mundo tão desigual e exclusivo, que concentra a riqueza e hoje vive a fase mais perversa do capitalismo, «agradecemos a Cuba por ser um farol que guia a luta pela determinação dos povos, por seus direitos», afirmou. E também agradeceu à pequena Ilha», mas enorme em si mesma, por sua generosidade» e pela solidariedade que sempre deu aos povos do mundo. «Há muito de bom que ela fez ao povo brasileiro, quando enviou milhares de médicos cubanos para servir nosso povo», disse Hoffman. E lamentou que «hoje, infelizmente, mais de 60 milhões de brasileiras e brasileiros não tenham assistência médica básica, pela perseguição insana e fascista dos cubanos por um homem que chegou ilegitimamente à presidência da República, Jair Bolsonaro», observou.
A presidenta do PT garantiu que o Brasil nunca esquecerá o gesto cubano de coletar mais de dois milhões de assinaturas em apenas 14 dias para reivindicar a liberdade do maior de seus líderes políticos, o companheiro Luiz Inácio Lula da Silva e agradeceu ao Icap, à Central dos Trabalhadores de Cuba, à Federação das Mulheres Cubanas e todas as organizações que fazem parte do Comitê de Solidariedade pela libertação de Lula, e ao Comitê Central do Partido Comunista de Cuba. «Cuba tem 11 milhões de habitantes e nos deu 20% das assinaturas de seus habitantes», disse ela, explicando que a luta de Lula pela liberdade é também a luta pela liberdade do povo brasileiro e do Brasil, «liberdade das garras do neoliberalismo, autoritarismo e destruição do estado brasileiro», argumentou.
Em uma declaração posterior, Hoffmann denunciou que «eles criminalizaram, culparam e condenaram não um homem, mas um projeto de desenvolvimento do país», que já dava saída econômica e social à maioria dos pobres brasileiros, e lembrou que «Lula foi condenado sem provas, em um processo manipulado e altamente politizado, liderado por um juiz treinado pelo Departamento da Justiça dos EUA, que depois de fazer o serviço condenando Lula, ganhou como prêmio o Ministério da Justiça do presidente que ele ajudou a eleger, removendo Lula da disputa eleitoral».
Sergio Moro e seu pequeno grupo perseguiram Lula e entregaram «a maior riqueza de nosso país, nosso petróleo, aos interesses estrangeiros e à voracidade imperialista dos EUA», afirmou.
Outro elemento destacado por Hoffmann, como parte do Brasil de hoje, é «a combinação perfeita de notícias falsas e o estímulo à violência para que a política neoliberal possa retomar sua posição na liderança do Estado», mas — disse — «há resistência e luta, sempre fortalecida pelo apoio e solidariedade de todos os presentes aqui», que fortalece o avanço e oferece a dimensão da maior luta do povo latino-americano.
A vitória de Obrador no México, de Alberto e Cristina na Argentina, de Evo na Bolívia, o povo nas ruas do Equador e do Chile, o resultado eleitoral na capital colombiana, a resistência dos povos venezuelano e cubano, «tudo isso mostra o caminho a seguir. Persistência firme e unidade da esquerda para varrer todas as injustiças do mundo», afirmou.
Outro momento significativo foi a intervenção de Ulisis Guilarte de Nacimiento: «O mundo testemunhou há mais de um ano e meio as injustiças cometidas contra o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva pela direita oligárquica de seu país, que sente medo da sua liderança integracionista, humanista e latino-americana», disse. E revisou as condições atuais do líder brasileiro, prisioneiro desde abril de 2018 por crimes que não cometeu e vítima de «perseguição judicial, por meio de uma estrutura legal fraudulenta e corrupta, que tem hoje como principal representante o presidente Jair Bolsonaro», lacaio da Casa Branca, destruidor das conquistas sociais do povo brasileiro e caluniador contra a Revolução Cubana e seus colaboradores da saúde.
Acerca de Lula lembrou seu status de estadista de classe mundial e o sucesso de suas políticas sociais em apenas oito anos de governo, nunca antes vividos no Brasil. «Fidel sempre nos ensinou que apenas aqueles que lutam e resistem têm direito à vitória. É assim também que o colega Lula pensa e age », concluiu Guilarte e pediu a Fernando González Llort, Herói da República de Cuba, a dar à delegação brasileira um quadro com a imagem de Fidel e Lula.
No painel Desafios, para uma articulação conjunta de nossas lutas, foram questionados os desafios ideológicos, comunicacionais e organizacionais que enfrentamos. A troca foi iniciada pelo representante da Jornada Continental, Jordania Ureña, que disse que hoje «a direita invade nossas sociedades com o discurso do medo e do ódio». A ativista também comentou que o Fundo Monetário Internacional voltou com políticas neoliberais que afogam os mais despojados e que as empresas transnacionais desempenham um papel essencial na violação dos direitos dos povos. «A união é fundamental para enfrentar as forças da morte, nem mesmo um passo atrás, ainda estamos lutando», afirmou.
Karin Nansen, presidente da Amigos da Terra Internacional, enfatizou a necessidade de unir forças. «Enfrentamos uma crise sistêmica e estrutural que não pode ser resolvida a partir de ações individuais. Para articular-nos, precisamos de entendimento comum, solidariedade, poder popular, treinamento político e comunicação», afirmou.
Por sua parte, Gail Walker, diretora executiva da Fundação Interreligiosa para a Organização Comunitária de Pastores para a Paz, disse: «Existem vários estudantes norte-americanos que são membros do exército de batas brancas (médicos) aqui conosco. Agradecemos a Cuba por sua solidariedade com nosso povo, apesar do bloqueio dos EUA», comentou.
Manuel Bertoldi, membro do Secretariado Continental da Alba Movimentos e do Movimento Pátria Grande, disse que «precisamos construir a partir das forças populares para disputar as maiorias. Ter blocos populares nacionais, ter um programa político com o povo e uma forte mobilização».
Mônica Valente, membro do PT do Brasil, disse que na luta devemos unir o nacional e o regional; retomar a Unasul; o diálogo das forças políticas e movimentos sociais; solidariedade como antídoto para os males subjetivos do neoliberalismo. «A luta contra o império e o neoliberalismo está avançando», disse. Enquanto isso, Ismael Drullet, membro da Secretaria das Relações Internacionais da CTC, disse que o cenário atual envolve assumir compromissos com as ideias de José Martí, Simón Bolívar, Fidel Castro, Hugo Chávez e outros líderes essenciais.
TERCEIRO DIA
Exortando a uma luta unida, o Encontro foi encerrado pelo presidente cubano Miguel Díaz-Canel, na presença do general-de-exército Raúl Castro Ruz, primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba, e do presidente venezuelano Nicolás Maduro Moros.
«Dou uma saudação especial a todos que resistem e vieram à capital cubana, que sempre foi e sempre será um ponto de encontro para aqueles que defendem a paz e a solidariedade entre os povos», afirmou o presidente em um discurso caloroso. Palavras conclusivas e em nome de Cuba reafirmaram que «a nova geração de líderes cubanos, formada e educada pela geração histórica de Fidel e Raúl, ainda somos revolucionários, socialistas, fiéis e martianos e que não cederemos um milímetro em nossas posições a favor da independência, a soberania e a justiça social».
Nicolás Maduro disse: «Onde está Raúl está Fidel».
«Novos e melhores tempos vivem-se hoje na América Latina», disse o presidente da República Bolivariana da Venezuela. Maduro, ao concluir, exortou os presentes: «Vamos ter a força para continuar avançando em nosso século. Até à vitória, sempre!».
Foi exatamente esse o espírito que respirou na plenária do Palácio de Convenções de Havana, no final do último dia do Encontro Antiimperialista de Solidariedade, pela Democracia e contra o Neoliberalismo. A relatoria das comissões tratava da necessidade da unidade das forças populares visíveis nos sindicatos, movimentos sociais, partidos e organizações de massa, para obter mais vitórias contra o hegemonismo imperialista e, principalmente, diante da política fascista e de guerra da atual Casa Branca, presidida por Donald Trump.
Os delegados patentearam o desejo de continuar a batalha ideológica e retomar a luta de classes contra a lógica capitalista, e denunciaram as várias estratégias de dominação imperialista, a guerra cultural e de mídia muito interligada entre si, a fim de alienar os povos para manter o domínio do capital.
Para os presentes, foi necessário enfatizar a necessidade de aprimoramento político dos comunicadores, destacando a importância dos centros de estudo e da intelectualidade comprometida, sem descurar as mobilizações populares, como a trincheira principal. Consideraram crucial que as forças da esquerda construíssem sua própria história para escrever a história a partir da perspectiva das classes mais exploradas e garantir que a batalha ideológica seja vencida com a consciência responsável das massas.
A contribuição de Cuba para alcançar o progresso do movimento progressista no mundo, bem como seu apoio aos setores econômicos mais necessitados e carentes, foi endossada pelos presentes. Por isso declararam eliminar as bases militares do mundo e, essencialmente, a base norte-americana posicionada em Guantánamo, ao mesmo tempo em que pediam a paz mundial.
Os participantes convergiram ao apontar que o modelo neoliberal de livre comércio causa consequências negativas para países como: a impossibilidade de proteger suas produções nacionais e seus recursos naturais, o que resulta no aumento da falência de suas indústrias locais, uma estrutura de impunidade que permite às transnacionais invadir, saquear, mover, comprar, destruir a vida nos territórios sem nenhum custo e até permite sancionar governos que tentam regular suas ações.
O evento foi reconhecido como um ponto de encontro entre as forças avançadas do mundo e foi valorizado como um ponto para estruturar as lutas contra o neoliberalismo e o domínio do capital, com estratégias cada vez mais sofisticadas e inovadoras. Portanto, solicitou-se a continuidade dessa troca de experiências nos próximos anos.
A solidariedade pela descolonização de Porto Rico, Palestina e saaraui, bem como com os protestos no Chile, Equador, Colômbia e Peru, e com a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros líderes presos pelas oligarquias que desejam derrubar os pensamentos de vanguarda foram manifestados no Encontro, onde foram ratificados o apoio à Revolução Bolivariana da Venezuela, o sandinismo na Nicarágua e as vitórias de Evo Morales na Bolívia e Alberto Fernández e Cristina Fernández, na Argentina.
Posteriormente, e com espírito construtivo visível, francos e abertos ao consenso, oradores de Honduras, Laos, Chile e Gana levantaram suas vozes para convocar as forças populares do mundo para uma luta unida contra o capitalismo.
Eles enfatizaram que a luta contra o bloqueio genocida dos EUA a Cuba deve continuar com novas iniciativas e ações.
A ativista chilena Elizabeth Molina relatou as manifestações que estão sendo realizadas em seu país contra as medidas neoliberais ditadas pelo governo presidido por Sebastián Piñera e disse que elas não vão parar até que uma nova Constituição seja conquistada.
Janna Alonso, de Gana, enfatizou que da África a Revolução Cubana é defendida porque se sabe da vocação de solidariedade mantida por mais de 60 anos.
Ana Miranda, da Espanha, falou dos laços históricos entre os povos da Espanha e Cuba, descreveu a situação do capitalismo na Europa e garantiu que a luta por uma mudança no mundo continua. Elena Flores, de Honduras, agradeceu a solidariedade que o povo de Cuba tem proporcionado ao seu país, principalmente na colaboração médica e na alfabetização em vilarejos baseados em comunidades remotas, incluindo os povos originais do continente.
Uma grande força revolucionária inundou o plenário, onde slogans foram cantados contra o imperialismo e em apoio às lutas sociais.