
A estratégia cubana de controlar e impedir a expansão do Covid-19 foi discutida na tarde desta terça-feira, 17 de março, no programa de televisão Mesa Redonda, onde foram convidados como participantes do painel:
• Dr. Francisco Durán García, diretor nacional de Epidemiologia do MINSAP
• Dr. Pablo Feal Cañizares, diretor do Centro de Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças do MINSAP
• Dr. Jorge Delgado Bustillo, diretor da unidade central da colaboração médica cubana
• Dra. Maria Guadalupe Guzmán Tirado, chefe do Centro de Pesquisa, Diagnóstico e Referência do IPK
O dr. Francisco Durán García, diretor nacional de Epidemiologia do Ministério da Saúde Pública (Minsap), atualizou a evolução mais recente no mundo do novo coronavírus SARS CoV-2, que tem causado a doença perigosa e contagiosa do Covid-19.
Disse que desde que os primeiros casos foram detectados na cidade chinesa de Wuhan, em dezembro de 2019, a progressão tem sido muito rápida.
Explicou que os números mais recentes colocam o número de nações com pelo menos um caso em 144, e que existem mais de 180.000 infectados e mais de 7.000 mortes, de acordo com os dados mais recentes divulgados na terça-feira, 17.
O dr. Durán García destacou o esforço da China para parar o vírus e destacou que fora desse país existem mais de 98.000 infectados com uma taxa de mortalidade de 4%, acima do registrado na China no momento mais intenso da infecção.
Quanto à situação na ilha, confirmou a presença de dois novos casos de Covid-19 em Cuba, com o qual já somam sete pacientes diagnosticados com esta doença.
Ressaltou que, em quase todas as infecções, permanece a característica de terem passado pelo contato com uma pessoa estrangeira infectada.

«Não podemos falar sobre transmissão no país, porque isso acontecerá quando começarmos a encontrar pessoas com a presença do vírus, com ou sem sintomas, que não tiveram um relacionamento com nenhum dos pacientes infectados que vieram do exterior ou com links para eles. Estamos nos preparando para essa situação», afirmou.
Isso significava que em Cuba, desde janeiro, foi elaborado o plano de prevenção e controle de epidemias e, desde então, vem se realizando um grupo de ações com a liderança das principais autoridades nacionais em todo o território, pois esta doença exige da intersetorialidade.
O diretor nacional de Epidemiologia do Minsap acrescentou que o conhecimento de diferentes características clínicas, epidemiológicas e de tratamento foi incorporado a este plano.
Em nosso país, existe a vantagem de não ter uma fronteira terrestre e com um bom controle, o risco de entrada da doença foi minimizado, pois a pessoa pode estar incubando a doença e ela não é detectada no momento da entrada.
Desde o início, a medida foi adotada para isolar pessoas com características dessa doença nos centros planejados, o que permitiu acompanhar de perto quase 25 mil pessoas no atendimento primário e qualquer pessoa que viesse de países em risco desta pandemia.
DOIS NOVOS CASOS COM COVID-19, E JÁ SÃO SETE OS CONTAGIADOS EM CUBA
Informou que em 17 de março o laboratório do Instituto de Medicina Tropical (IPK) Pedro Kourí confirmou o diagnóstico do sétimo caso em Cuba, onde quase todos são pessoas oriundas de países de transmissão e duas delas que tiveram contatos muito perto de pessoas do exterior.
Em relação à quarentena, especificou que «essa medida é estabelecida em cada país na medida em que sua situação se torna mais complexa, e não internacional».
«Quando as medidas estabelecidas são adotadas e há um grupo de casos que não mostra a transmissão da doença, a quarentena não se justifica», esclareceu.
Da mesma forma, explicou que o fechamento de locais de trabalho e escolas cria uma situação de tensão e estresse, processos conhecidos por diminuir as capacidades imunológicas do corpo e representar mais riscos.
«O país está ciente disso e medidas foram tomadas nos últimos dias para evitar multidões», disse.
POR QUE NÃO FORAM ESTABELECIDAS MEDIDAS EXTREMAS EM CUBA?
Comentando por que medidas extremas como a quarentena não foram estabelecidas em Cuba, explicou que isso é assumido por cada país, dependendo de suas características. A Organização Mundial da Saúde estabelece as medidas em etapas.
O especialista reiterou que nenhum dos casos detectados em Cuba ocorreu por transmissão, mas por ter sido infectado a partir do exterior.
«A quarentena é estabelecida dependendo da transmissão e, no momento, não é justificada. Trabalhamos para não chegar a esse momentoۚ», garantiu.
E indicou que não é prudente fechar escolas ou locais de trabalho até que não haja transmissão no país.

«Quando não há transmissão óbvia e você fecha as escolas, um estresse extra é criado e a capacidade imunológica diminui. Cuba está vigilante e tornou-se público que um grupo de atividades com grandes concentrações populacionais foi suspenso», enfatizou.
CUBA E AS INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUAS
María Guadalupe Guzmán Tirado, chefa do Centro de Pesquisa, Diagnóstico e Referência do IPK, fez referência a infecções respiratórias agudas (IRAs), em geral que, segundo a especialista, constituem a causa de morte de três e cinco milhões pessoas no mundo, mesmo que isso também seja influenciado pelo uso indevido de antibióticos e outras circunstâncias menores.
«Ou seja, que essas doenças são historicamente conhecidas, enfrentamos esse tipo de doença, que é principalmente viral, e às vezes é acompanhada pelo uso inadequado de antibióticos, além de confusão devido às semelhanças de sintomas, como pneumonia, broncopneumonia, etc», alertou.
Disse que Cuba não escapa a essa realidade, as IRAs são a principal causa de morte por infecções em nosso país, mas também são motivo de hospitalização e, em muitos casos, pelo uso incorreto de antibióticos, uma vez que a maioria é viral, embora também as infecções bacterianas possam produzi-las. Elas também geram absentismo na escola e no trabalho.
«Entre as IRAs», disse, «os vírus ocupam um lugar de destaque e causam uma ampla gama de sintomas, que variam de rinite, resfriado comum e aquelas que afetam o trato inferior, como pneumonia, broncopneumonia e bronquiolite em crianças pequenas. Vírus diferentes podem produzir os mesmos sintomas».
A esse respeito, enfatizou que estamos falando de vírus como a influenza A, que chocou o mundo em 2009, a influenza B, a parainfluenza, o enterovírus D68, entre outros vírus emergentes e também coronavírus.
MONITORAMENTO DE INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS PELO SISTEMA CUBANO DE SAÚDE
A chefa do Centro de Pesquisa, Diagnóstico e Referência do IPK apontou que os coronavírus são um grupo viral bem conhecido, identificado na década de 1930, que afeta muitos animais, como pássaros, morcegos, coelhos, cavalos, ratos e porcos, produzindo quadros de infecção respiratória e diarreia, inclusive neurológicos.
Na década de 1960, foi reconhecido um grupo de coronavírus, que afetam os seres humanos e se tornam zoonoses. Existem quatro fundamentalmente e todos são monitorados por Cuba.
«No momento, são monitorados de forma mais proativa diante dessa emergência global, mas o monitoramento de infecções respiratórias virais e bacterianas é diário no sistema nacional de saúde», ressaltou.
«O cuidado pessoal só pode ser feito corretamente por cada pessoa», disse.
A drª Guzmán Tirado explicou que os coronavírus são «vírus suaves e envelopados, vírus de RNA. Devido a essas características, fala-se muito em lavar as mãos ou usar cloro ou álcool como parte dos cuidados pessoais para combatê-las, pois são suscetíveis a essas soluções.
«O cuidado pessoal só pode ser feito corretamente por cada pessoa. Quando alguém espirra e tem uma condição respiratória, podemos pegar qualquer um dos vírus, se tocarmos em uma porta de entrada, como a boca, olhos ou nariz. Daí a necessidade de lavar-nos as mãos com freqüência».
«No entanto, o coronavírus que surgiu no final de 2019 em Wuhan é novo e já é conhecido por ter uma alta similaridade com o SARS isolado de morcegos, que são reservatórios de diferentes vírus».
Lembrou que em 2009 o MERS se estabeleceu com uma alta mortalidade entre 30 e 35%, mas localizada na região leste do Mediterrâneo. Por sua vez, em 2012, a SARS tinha uma taxa de mortalidade de 9% na China e se comportou como uma condição séria.
Em relação ao novo coronavírus, devido à semelhança com o vírus SARS do morcego, a especialista do IPK explicou que, embora seja possível que exista um hóspede intermediário ainda não reconhecido, é muito provável que tenha se originado em morcegos.
«Por causa de suas espículas em forma de coroa, quando vistas através de um microscópio eletrônico, é chamado de coronavírus».
CUBA TEM A TECNOLOGIA NECESSÁRIA PARA REALIZAR O TESTE QUE DETECTA O COVID-19
Por sua parte, a drª María Guadalupe Guzmán Tirado, chefa do Centro de Pesquisa, Diagnóstico e Referência do IPK, explicou que as infecções respiratórias agudas são uma causa de entre três a cinco milhões de mortes no mundo, e Cuba não escapa disso. Elas podem causar uma série de sintomas que variam dependendo do tipo, pelo qual vírus diferentes podem produzir os mesmos sintomas.
Segundo a especialista, esse coronavírus é diagnosticado pelo exsudato nasofaríngeo, um teste que envolve tecnologia barata, que pode custar até US$ 50 e que temos no país, não apenas no IPK, mas também em Villa Clara e Santiago de Cuba. «Temos também os reagentes, pessoal especializado, laboratórios, equipamentos, etc...», afirmou.
Sobre o IPK, o médico enfatizou que ele tem três funções principais: pesquisa de doenças infecciosas, serviço especializado e ensino. Este centro assume pacientes infectados e suspeitos de Covid-19 seguindo os protocolos da OMS, a experiência chinesa e a experiência do país.
No caso do ensino, o pessoal do Sistema de Saúde e outras organizações em Cuba foi treinado, ou seja, de diferentes setores, bem como os próprios treinadores, que serão encarregados de transmitir conhecimento em outros centros.
Da mesma forma, mantém-se o intercâmbio com cientistas de outras partes, bem como com organizações internacionais de saúde, não apenas para enfrentar o coronavírus, mas também para outras doenças. Por essa colaboração, o especialista agradeceu a solidariedade a Cuba.
SOBRE O DIAGNÓSTICO DO NOVO CORONAVIRUS
O diagnóstico desse coronavírus disse que é feito através de um exsudato nasofaríngeo, onde é possível encontrar partículas virais através de técnicas moleculares avançadas, conhecidas como PCR em tempo real, uma tecnologia usada para identificar diferentes tipos de vírus.
«São métodos modernos e caros. Um teste PSR em tempo real pode custar entre US$ 40 e US$ 50», disse.
Acrescentou que esta tecnologia está disponível no país, tanto no IPK, quanto em três laboratórios localizados nos centros provinciais de higiene e epidemiologia em Havana, Villa Clara e Santiago de Cuba.
PARA CUIDADOS MAIS PRÓXIMOS NA COMUNIDADE
Pablo Feal Cañizares, diretor da Unidade de Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças (Prosalud), comentou que em Cuba são realizadas as próprias ações do sistema de saúde para proteger as pessoas. Expressou que esse plano é adaptado à experiência em saúde do país e de outros no mundo.
Disse que os consultórios e policlínicas dos médicos de família estão se organizando para dar mais atenção. A principal tarefa em andamento é a identificação de grupos vulneráveis, como pessoas com mais de 60 anos ou com doenças respiratórias, aqueles que vivem sozinhos e nos asilos.
Argumentou que, além das ações de desinfecção, a investigação ativa pelo médico de família foi reforçada, priorizando esse grupo e buscando sintomas respiratórios com o objetivo de tomar medidas imediatas.
O plano contempla a certificação de cada processo, disse, explicando que, após a realização de ações de treinamento em todo o país, o treinamento mais especializado agora corresponde.
PROCURAR UM MÉDICO ANTES DE QUALQUER SINTOMA
No plano de comunicação, Pablo Feal Cañizares acrescentou que foi alcançada uma maior participação da população. A mídia nacional forneceu informações oportunas e verdadeiras, insistindo no risco, mas sem criar pânico.
«O fundamental é transmitir confiança, segurança e a necessidade de os cubanos se protegerem».
«Ao mesmo tempo, foram criados materiais educacionais que são transmitidos pela mídia, enquanto aumenta a participação intersetorial. Cada agência tem uma tarefa», apontou.
O especialista informou que, para qualquer sintoma respiratório, deve ir-se ao médico o mais rápido possível, além de evitar sair do país e, no caso de viajar e voltar, deve ser verificado pelas autoridades de saúde.
«O mais importante é que os cubanos mantenham o cuidado, com responsabilidade e prudência», afirmou.
«A lavagem das mãos», reiterou, «é a medida mais eficaz para prevenir esta doença». Quanto às máscaras ou protetores bucais, pediu a solidariedade dos cubanos, levando em consideração que eles podem ser feitos nas próprias casas. «A produção industrial está focada em garantir as máscaras de pessoas diretamente expostas aos infectados ou suspeitos, como os médicos».
CUBA TEM COLABORADORES EM 34 PAÍSES COM RELATÓRIOS DA DOENÇA
O dr. Jorge Delgado Bustillo, diretor da Unidade Central da Colaboração Médica Cubana, especificou que a brigada médica cubana no exterior está presente em 34 países que têm relatos da doença.
«Todos os colaboradores cubanos foram treinados para lidar com a doença. Através de um grupo de WhatsApp, eles são mantidos informados 24 horas e sabem que têm a proteção como premissa. Queremos dizer à família desses colegas que eles estão protegidos», garantiu.
Mediante pedidos de outros governos que pediam o apoio de Cuba, o médico explicou que o país está tomando decisões de colaboração.
A EQUIPE PARA RECEBER O SM BRAEMAR ESTÁ PRONTA
Em relação à transferência de passageiros a bordo do navio de cruzeiro MS Braemar que atracará no porto cubano na manhã de quarta-feira, 18, o dr. Durán García afirmou que todas as medidas foram tomadas tanto no local de desembarque quanto no aeroporto, para evitar o risco para a nossa população. «Pode-se dizer que será praticamente nulo», disse.
Esse ato humanitário é apreciado por grande parte do mundo e por aqueles que estão dentro do navio de cruzeiro, que destacaram a solidariedade do povo cubano.