ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Photo: José Manuel Correa

A Neide Yeste Rosales alguém lhe está «devendo» a sobrevida.

Ela, aos seus 48 anos, nunca tinha dado seu sangue. Nem sequer tinha pensado nisso e, caso o fizesse, dificilmente teria chegado a imaginar as circunstâncias nas quais ocorreria. Sim, as circunstâncias, porque as de hoje vêm a reforçar tudo o humano e o bom que sempre há por trás de um gesto como esse. Sim, as circunstâncias talvez seja o que menos importa; mas não hoje.

Neide é uma paciente recuperada da Covid-19 e foi a primeira a doar seu plasma, rico em anticorpos, depois de superar a doença, para ajudar aqueles que ainda não conseguiram vencer a pandemia.

E não é a única. Até hoje são 20 as pessoas no país que, voluntariamente, puseram em bolsas de 600 mililitros, um pouco de vida. Plasma, repetem os especialistas, porque já isso foi feito em outros países e deu bons resultados nos pacientes graves; porque foi sugerido pelas autoridades da saúde na região e no mundo; porque faz parte dos protocolos de tratamento... Plasma, mas bem poderia ser chamado de solidariedade ou esperança perante tanta morte.

Neide tinha viajado recentemente ao Panamá e ao Peru, e em 27 de março revelou-se positiva à doença. No hospital militar Luis Díaz Soto, ou o Naval, como é mais conhecido, foi curada junto com seu esposo, quem agradece a Deus e, sobretudo, à Medicina cubana por estar de volta na casa, apenas com uma triste história que contar.

E até ali, até uma sala de cuidados intensivos desse mesmo hospital, chegou o plasma de Neide. Um paciente, Roberto Moré, de 54 anos, que estava em estado grave, foi o primeiro a receber uma transfusão. Já hoje está recuperado e passou a uma sala aberta.

«Que foi o que me puseram?», perguntou Roberto aos médicos. «Plasma», responderam-lhe com certeza; ou imaginem as outras palavras que lhe puderam ter dito.

Neide sabe de tudo isso: que seu sangue foi usado, que ajudou a salvar uma vida, e que esse gosto que se sente lá dentro, quando foi feita uma boa ação, tal como dizia José Martí, é muito parecido com «isso» que ela está sentindo e que «não sabe descrever».

Já passou uma semana de sua doação no Banco de Sangue Municipal de Diez de Octubre, em Havana, uma das três instituições desse tipo que possui a capital cubana; e ela já está pronta para dar de novo seu sangue, embora, talvez desta vez, não seja possível acompanhar o rumo exato de sua solidariedade.

Nesse Banco já entregaram seu plasma oito pacientes convalescentes da Covid-19, e a esta iniciativa aderiram outras províncias, como Pinar del Río, Cienfuegos, Villa Clara, Sancti Spiritus e Ciego de Ávila; porque se um número faz sentir regozijo, são os 365 pacientes recuperados no país.

As coisas boas — lembram-nos os ensinamentos de José Martí — devem ser feitas sem chamar o universo para que veja a gente passar; porém, às vezes, tem coisas que o universo não deve perder de vista. A vida, por exemplo, e tudo aquilo que se fizer por ela, resulta suficiente, transcendente, como para ser aplaudido.