Não existiu época difícil em Cuba na qual não surjam, espontâneos, os gestos de amor e de solidariedade de um povo que sabe como crescer perante as dificuldades.
Basta só lembrar as etapas vividas após a passagem de um furacão pelo país para trazer à baila centenas de histórias, que elas próprias espelham as essências desta Ilha, onde foi cultivada com esmero a irmandade entre as pessoas, o senso de pertença com a casa grande de todos e a virtude «que a gente é boa porque sim», tal como nos ensinara José Martí, o Mestre.
Por isso, não é fortuito que nestes tempos difíceis da pandemia, as redes sociais e os bairros se estejam nutrindo de histórias que, ainda que singelas e cotidianas, não deixam de comover.
Falo, por exemplo, de um local de recauchutagem de pneus, particular, onde não se cobra; desde o começo da batalha contra a Covid-19, o serviço às ambulâncias; ou do camponês que, sem pensar duas vezes, encheu um caminhão com vários quintais dos produtos de sua fazenda e foi entregá-lo a um local de isolamento; ou das máscaras de proteção «feitas em casa» e colocadas à borda da estrada para a capital, sem a etiqueta das que as fizeram, mas com um cartaz de poucas palavras, que dizia: «um presente para você».
Falo, também, dos professores que combinaram poucos recursos e muito talento para criar máscaras em 3D, destinadas à proteção do pessoal sanitário; ou da estudante de jornalismo que foi das primeiras a desafiar os riscos do novo coronavírus, ao aceitar colaborar na elaboração de alimentos e a faxina de um local onde são atendidas pessoas suspeitas de padecer a doença; ou aquele outro estudante de Medicina que, em sua pesquisa diária, achou um avozinho morando sozinho e fez sua a tarefa de levar-lhe os suprimentos e gêneros que precisa.
Falo também dos vizinhos de uma enfermeira, que trabalha sem horário nestes dias, os que reconhecendo o desempenho dela, colocaram na porta de sua casa uma bela mensagem: «Se precisas que compremos para ti, se precisas que limpemos por ti tua casa, se precisas chorar ou rir, nas janelas nos podes achar. Para tudo. Cá estamos».
Falo, porque não, daquelas pessoas que ainda continuam trabalhando em postos indispensáveis para manter a vitalidade do país, como uma senhora que percorre mais de 20 quilômetros «em qualquer meio», para garantir a qualidade da semente de arroz destinado ao povo; ou dos artistas que não deixaram de criar e de promover a cultura; agora a partir do cenário digital; ou desses outros homens e mulheres que mudaram seus ofícios e agora se dedicam a lavar, passar roupa, lavar louça e limpar o chão, lá onde o vírus seja mais perigoso.
Falo, simplesmente, dos pequenos detalhes que fazem a diferença nesta luta pela vida, como a de cumprir, em um hospital, o capricho de um bebê de 18 meses de comer banana frita; ou de que uma enfermeira cuidasse como uma mãe, durante 19 dias, uma menina de apenas cinco meses; ou de que um garoto cada noite, desde seu portal, coloque um alto-falante para que ninguém em seu quarteirão esqueça que, justamente às 9h00 da noite um país treme com o aplauso coletivo de gratidão àqueles que estão na primeira linha do combate.
E não são somente esses. Existem, ao longo do território nacional, muitos outros «vacinados» contra a indiferença, que não foram flagrados pela lente de uma câmera e tornados públicos pelo clique de um amigo ou familiar no Facebook e Twitter e andam, quase em silencio, partilhando amor, contribuindo com soluções ou driblando o bloqueio com alternativas cubaníssimas.
Esses que nos orgulham e «contagiam» para bem com seus desvelos, são os que, junto ao trabalho dos médicos em Cuba, também «salvam».







