ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Photo: Arquivo do Granma

Um dia 20 de maio, mas em 1902, foi constituída a República. Foram proclamados direitos formais, mas, com efeito: o que significou aquela República para muitos cubanos? Injustiça: ficaram excluídos muitos daqueles que tinham deixado tudo no campo de batalha, lutando pela independência; servilismo: mudou-se de dono; repressão: perderam a vida muitos dos melhores cubanos que tentaram combater as mazelas da República; exclusão e ditadura: algo que nos mostram os magníficos postais de Havana.

Eu não sinto nostalgia pelos outdoors luminosos. Nada me faz sentir satisfação diante da morte de Julio Antonio Mella, Antonio Guiteras, Jesús Menéndez, Frank País, Abel Santamaría, José Antonio Echeverría e outros. Essa é minha saudade.

O dia 20 de maio é uma data para lembrar que o fato de ter República não bastou. Para eles, que a viveram mesmo, não foi suficiente; mais bem lhes custou a vida. É uma data para termos presente que a República mesma não garantia nada.

Foi justamente o contrário aos sonhos pelos quais José Martí, republicano, morreu em Dos Ríos, em 19 de maio. Martí foi mais além de republicano: foi antiimperialista! Digo-o bem alto porque isso é esquecido; quanto ele fez foi para isso.

A República, muito dela, nasceu colonizada e servil. Não foi até janeiro de 1959 em que houve dignidade para todos em Cuba. Para sermos integramente consequentes com o legado de José Martí, o futuro de Cuba deve continuar sendo republicano, sim, mas não se pode pensar à margem do socialismo e do pensamento profundamente anticapitalista de Fidel Castro.

É claro, podemos pensar na República como uma abstração na qual, por sua mera existência, serão efetivas a liberdade, a democracia e a igualdade, e na qual todos, como uma magia, seremos iguais, Vamos amar-nos e seremos felizes. Divina magia da República que, à margem de qualquer consideração gera por si própria o bem, éter fantasmagórico no qual fluímos, após ter jogado fora as determinações sociais e históricas, as condições geopolíticas, a luta de classes e, de passagem, o marxismo e demais heresias.

Mas a sorte é que o dia 20 de maio existe para fazer-nos lembrar a perversa que pode chegar a ser uma República se é servil, se é burguesa. Quanto sangue custa torná-la livre! Aquele José Martí que declarou que sua República, a que ele queria fundar, seria «com todos e para o bem de todos», foi também o mesmo José Martí que disse: «Com os pobres da terra eu quero compartilhar minha sorte».