ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Foto: Julio Larramendi

Algum dia devia acontecer. Sabíamos e também sabíamos que você o sabia, porque falou do ocaso, do mais humano dos temores, com robusta coragem, daquela vez que você adoeceu e Havana toda, diante de sua ausência, não parou de procurá-lo.

Mas não. A morte apaixonada não quis, pensou-o melhor, deixou você conosco um pouco mais. Havana ainda não completava seus 500 anos e evitou o sacrilégio. Tal como você disse: «Felizmente, ela passou, enviou-me uma saudação afetuosa e me disse: por enquanto não». E você voltou ao seu trabalho, aos seus livros, à Feira de La Cabaña, à festa de sua namorada azul. E os condutos do amor foram sustento no retorno.

Hoje ninguém vai vir para nos dizer que é mentira. Que você está melhor e que está de retorno. Hoje é verdade o “golpe de mão duro”, “o golpe gelado” e ninguém é convidado para o enaltecer. Você, que a nada grande aspirou, mas só a servir; que não o seduziu a glória, mas exaltar o glorificável, é hoje em cada cubano uma palavra que se diz com recato, um ícone de integridade.

Pensar que até usaram você alguma vez para provar em seu povo o sobressalto e, para contrariá-lo, inventaram uma morte de mentiras... com requintada expressão o presidente disse hoje: «Morreu Dom Eusebio o da memória apaixonada, aquele que nos fez chorar e rir, com a história da nação que somos, ao dar-lhe caráter e alma, pondo-lhe nomes e iluminando seus pontos escuros, como alguém que acende luzes em meio da escuridão».

E convidou a celebrar tua «maravilhosa passagem pela vida, breve demais para aqueles que quisemos você, por sua obra e por você mesmo». Quem hoje nos vai guiando insiste em que continuemos seguindo «nessas pegadas o trabalho paciente e infinito de salvar o patrimônio de Cuba toda, a que tanto amou e consagrou sua vida Eusebio Leal».

«Hoje partiu o cubano que salvou Havana por encomenda de Fidel, e o fez tão apaixonadamente que já seu nome não é seu, mas sim sinônimo da Cidade», disse Díaz-Canel e tem razão. Fundidos na memória, não existe forma de pensar em Havana, sem que você não venha com ela, nem evocar você será possível sem que a cidade te acompanhe. Feliz vida, historiador, em tua posteridade.