ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Photo: José Manuel Correa

De La Bayamesa, de Céspedes, Castillo e Fornaris, escrita em 1851, a Me dicen Cuba, em que Alexander Abreu inseriu, em meio ao som frenético, as notas do Hino de Bayamo, a Pátria foi cantada uma, dez, mil vezes, em suas essências mais limpas e cativantes. Porque um povo com música na alma expressa seu sentimento de pertencimento à arte que melhor o representa.

Contra essa tradição permanentemente atualizada, qualquer tentativa de perverter sentimentos e corroer convicções irá fracassar, mediante operações como a que começou a circular a partir de Miami – onde mais poderia ser! – poucas horas atrás.

Não existem intenções ocultas. O texto aposta sem dissimulação pela restauração capitalista e a derrubada do poder revolucionário. Ao noticiar o lançamento, servido por canais de comunicação a serviço da subversão, a agência EFE destacou estes objetivos: «A música é abertamente contrária ao Governo de Cuba e suas políticas».

Não há argumentos, mas uma série de lugares-comuns para o discurso anticubano: uma Cuba ditatorial onde predominam a mentira, a repressão e a tortura; uma ditadura sem apoio popular («vocês já estão demais, vocês não têm mais nada, vocês já estão saindo, o povo está cansado de aguentar»).

Não há o menor indício de engenhosidade, nenhum resquício de inteligência na conversão crua do lema Pátria ou Morte em Pátria e Vida, título da diatribe. Como se a defesa da vida, a liberdade, a resistência, não estivessem corporificadas no slogan que nos acompanha desde o adeus às vítimas da sabotagem do navio La Coubre.

A aliança dos protagonistas também não é surpreendente. Famosos, os ocasionais talentosos formados em nosso sistema de ensino – embora se saiba que fama e talento não são sinônimos– impulsionados pelas tendências da moda dentro daquela faixa que se chamou de música urbana, tiveram sucessos comerciais em Cuba.

Até que, deslumbrados pelo desejo de maiores lucros, seduzidos pela celebridade da Flórida ligada à indústria anticubana, e com péssimos relatos sobre a capacidade de resistência dos próprios contra os ataques brutais do trumpismo contra nosso povo, rasgaram suas roupas e evidenciaram a precariedade de seus princípios éticos, se alguma vez os tiveram.

Assim, confortavelmente instalados em Miami, eles começaram a reclamar, insultar, reclamar e reescrever suas histórias pessoais. Um deles apagou da memória os versos que cantou em 2016: («Volto ao berço que me viu nascer / volto àquele bairro que me viu correr / o que fui, o que sou e serei para a minha linda ilha»); outro, como que para não deixar dúvidas sobre seu caráter moral, negou ter saudado o presidente da República de Cuba em um concerto («foi um erro... tive medo»), e um terceiro, certamente incentivado por um alucinógeno alto, ameaçou de vir «com um facão» contra os governantes.

Neste último, ele acaba se relacionando com um convidado para participar do espetáculo: o criminoso que em Havana pediu a Trump «fogo, fogo e fogo para que isto acabe»: bloqueio e invasão a Cuba. O fogo que vi queimando uma bandeira cubana no vídeo. O fogo da vileza com que procuram turvar a memória de José Martí e de Che Guevara. O fogo contra a Pátria, contra a vida.

Será bom guardar no coração as palavras de José Martí a um compatriota em 1886: «A Pátria tem necessidade de sacrifícios. É um altar e não um pedestal. É para lhe servir, mas não para usá-la para benefício pessoal». E acompanhar essas palavras com uma trilha sonora que inclua, entre outras peças, a Pequeña Serenata Diurna, de Silvio Rodríguez.