
Quando a gestão de uma enorme obra construída e defendida por homens gigantes é assumida com autêntica humildade e empenho, o desafio, sempre imenso, começa a diminuir a sua vertente.
Cuba já havia começado a viver, por muito tempo, os dias da continuidade e, aos poucos, as principais responsabilidades na direção do país começaram a recair sobre novos ombros para sustentá-los e promovê-los.
O 8º Congresso do Partido, que culminou na segunda-feira, 19 de abril, veio selar essa transferência, gradual e ordenada, que agora deve ser consumada no dia-a-dia, com um golpe de dedicação e com absoluta sensibilidade «a quanto serve ou prejudica o povo».
Apesar de conhecido, e até esperado, foi menos transcendente o ato de «colocar» nas mãos de outrem a obra pela qual, depois de dar tudo, se está disposto a dar mais, se fosse possível.
Mas Raúl, que é muito Raúl, tem aquela «forma folclórica de fazer o extraordinário parecer natural», como disse o próprio presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, após ser eleito primeiro secretário do Comitê Central do Partido.
E sim, no encerramento do Congresso, a mostra de simplicidade do general-de-exército foi sublime, «o melhor discípulo de Fidel», o mais leal, tão modesto quanto seu nome, grande o suficiente para fingir não ser, um inimigo do elogio e do apego a glórias ou compromissos; amigo, marido, pai, sem outro mérito senão o de uma vida dedicada totalmente ao país.
Díaz-Canel agradeceu «o exemplo, a vontade, a força e a confiança» e reconheceu que o que aconteceu naquele dia de abril, gravado na memória cubana com o V da vitória, muito digno, não foi uma simples entrega de cargos e tarefas.
«Não é só a liderança de um país. O que temos pela frente, desafiando-nos continuamente, é uma obra heróica, enorme», disse Díaz-Canel, sem tentar simplificar o desafio tão alto que a história lhe deixou. Só essa altura é, no mínimo, inspiradora, principalmente para quem se orgulha do esforço encomendado.
Em seu discurso, falou das conquistas que nos tornaram o povo que somos e como elas terão que ser defendidas; e também falou de tudo que, ajustado aos novos tempos, terá que ser consolidado, enriquecido ou mudado. Porque continuar é também refundar, nas mesmas essências. Nenhuma verdadeira revolução poderia renunciar à sua capacidade intrínseca de se revolucionar sempre.
Continuidade, pode-se dizer, tem sido o nome de batismo do 8º Congresso. Assim, ficará para a história e permanecerá nos livros. Mas sua importância terá que ser avaliada, em sua devida medida, a partir de agora, quando, ao olharmos para trás, se erguer uma sociedade que continue construindo um socialismo mais justo, mais próspero e mais participativo.
O continuador, que não é um homem, mas um povo inteiro, nunca poderá comungar com outra alternativa.