
«Sabemos que a situação atual é complexa e desafiadora; complexa pelos diferentes elementos contextuais que a envolvem e pela interação entre esses fatores, e desafiadora, porque exige de nós a capacidade de superar as adversidades, de enfrentar toda essa difamação e a enorme e brutal campanha midiática que está sendo exercida sobre nosso país», destacou o primeiro secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e presidente da República, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, durante sua participação no programa Mesa Redonda, na televisão cubana, na quarta-feira, 14 de julho.
«Essa situação», acrescentou, «também foi alimentada pelos recentes distúrbios ocorridos de forma concentrada no domingo, 11 de julho, que tiveram incidência menor na segunda-feira, e que entre terça e quarta-feira quase não ocorreram».
«Isso sem dúvida responde, como nosso chanceler denunciou, a um plano deliberado que está em andamento. Por isso», argumentou, «a vigilância revolucionária, o desempenho de nossas instituições, a percepção que devemos ter da situação, são muito importantes, pois respondem a todos os preceitos da guerra não convencional, o conhecido manual do golpe suave».
«Várias coisas coincidiram aqui», apontou o presidente. «Em primeiro lugar», explicou, «há o bloqueio de 60 anos, que se intensificou e se amparou ainda nas 243 medidas restritivas impostas durante o governo de Donald Trump e que vêm sendo mantidas. Além disso, temos o pico da pandemia experimentado nas últimas semanas».
«Porém, há um elemento», alertou, «que não podemos deixar escapar e é que, em meio a essa situação, surgem os resultados da vacina Abdala, que é reconhecida como a primeira vacina da América Latina e que permitem a Cuba dar, então, mais um passo no confronto bem-sucedido contra a Covid-19».
«Por outro lado, já se estava começando a falar e havia alguns sinais das intenções do atual governo dos Estados Unidos de rever alguns pontos da política para Cuba».
«Nesse contexto, houve também a situação energética do país, que já foi explicada, a par de um conjunto de deficiências e insatisfações», disse.
«Esta situação, analisada por quem não quer propriamente o desenvolvimento da Revolução Cubana, por quem não aspira a uma relação civilizada e respeitosa com os Estados Unidos, foi aproveitada por aqueles que acreditavam que este momento era agora ou nunca, sobretudo por causa desse setor muito conservador que une a máfia cubano-norte-americana», destacou.

Então, disse Díaz-Canel, «temos que falar novamente sobre o bloqueio, as medidas e a diferença de contexto. Sempre ficamos atordoados, somos uma geração que nasceu, cresceu e viveu no meio dessa política cruel, mas as condições atuais não são as mesmas que tínhamos no ‘período especial’».
«Naquela época, a Ilha praticamente ficou sem muitas possibilidades», lembrou. «Hoje, com base nas experiências acumuladas, desenvolvemos, por exemplo, programas de extração de petróleo. O resultado é que atualmente uma parte básica de nossa geração de eletricidade é montada em termelétricas que consomem petróleo nacional».
Além disso, explicou, «pudemos desenvolver um processo de investimento em turismo que fomentou centros turísticos que nos dão receitas em moedas importantes para sustentar outras atividades, bem como outros investimentos que favoreceram processos produtivos que servem para fornecer bens e serviços à população, criar reservas e exportar para o mercado internacional».

«Porém, com o ressurgimento do bloqueio e as 243 medidas, todas as fontes de receita que favoreciam aquelas oportunidades e potenciais que temos desenvolvido estão cortadas. E em meio a essa situação, estamos hoje com uma tremenda falta de divisas», disse o presidente cubano.
O BLOQUEIO É REAL, GENOCIDA E SUPERA QUALQUER DESEJO DE PROSPERIDADE
O primeiro secretário do Comitê Central comentou que muitas pessoas dizem que não há bloqueio, «é uma das matrizes que tentou promover esta feroz campanha difamatória contra Cuba».
«O balanço», explicou, «do que entra no país, do que devemos e do que necessitamos é muito desfavorável. Há uma lista enorme do que o país precisa e dos compromissos a honrar nas dívidas, e um pequeno ingresso de divisas no momento».
«Um exemplo prático do que acontece: a retenção de um navio para combustível ou comida», destacou. «Em meio a baixas receitas cambiais, é algo que precisamos priorizar. Fazemos o esforço e pagamos, mas como devemos a esse fornecedor, o navio entra em Cuba e a própria empresa nos diz que não o descarregará até que paguemos a dívida».
«Naquela hora temos que buscar dinheiro que não temos para pagar essa retenção ou, pior, contrair ou renegociar uma dívida com aquela empresa que continua trabalhando conosco e que, apesar do bloqueio, mantém relações comerciais. Exemplos como esse são vividos todos os dias», acrescentou.
Descreveu que, com um esforço tremendo, estamos pondo a funcionar três blocos de geração de energia nas termelétricas: um novo investimento em um dos blocos de geração da termelétrica Felton, uma reparação em outro e uma reparação na usina Guiteras. Mas temos uma base de grupos geradores elétricos em Moa, a maior do país, que, podendo funcionar, não podem fazê-lo porque temos um navio retido com combustível. Isso já está resolvido. Mas agora, devido ao mau tempo e o estado do mar, não conseguimos descarregar».
«O bloqueio supera qualquer desejo, faz-nos atrasar, não nos permite avançar à velocidade que necessitamos, e isso ocasiona que, embora tentemos resolver os problemas, se acumulam mais dos que estão sem resolver em relação àquelas dificuldades às que se dá solução», apontou.
Isso, por sua vez, faz com que cresçam mal-entendidos e desacordos, que afetam as esperanças e aspirações das pessoas. «É por isso que não me canso de dizer que o bloqueio é cruel, genocida, vil».
«Não há dúvida de que queremos um país mais próspero e estamos insatisfeitos por não o termos conseguido, sabendo que se nos deixarem agir com as nossas próprias forças e talento, se não colocarem obstáculos ou obstáculos, podemos consegui-lo», disse Díaz-Canel durante seu discurso.
«É outro elemento de contexto, de realidade, que em meio a esta situação em que tentam nos sufocar com um golpe suave, Cuba tenha desenvolvido cinco vacinas candidatas, o que tem grande mérito», reconheceu. «Mas por que fomos obrigados a procurar cinco candidatos? Porque o bloqueio não nos permite ter dinheiro para comprar vacinas de outros países. Em segundo lugar, porque o bloqueio ameaça a nossa soberania e temos de ser capazes de fazer as coisas nós próprios, por isso recorremos às vacinas. E podemos fazer isso porque temos uma conquista da Revolução que tem sido o desenvolvimento científico-tecnológico, a partir da ideia visionária de Fidel Castro».

«Além disso, era quase nossa única alternativa. Chegou a Cuba alguma vacina de algum outro lugar neste momento? Com que já vacinamos quase 30% da população com a primeira dose? Com que aspiramos, antes do final do ano, vacinar toda a população cubana? Com que estamos fazendo testes clínicos em pessoas convalescentes e em crianças e adolescentes? Com os candidatos de vacinas cubanas», disse.
AS TENTATIVAS DE DESESTABILIZAÇÃO E O QUE DEVEMOS APRENDER COM ELAS
Em relação aos distúrbios, destacou que é preciso vivenciar, fazer uma análise crítica dos nossos problemas, para agir, superar, evitar que se repitam, para transformar as situações.
«Nos distúrbios pode-se primeiro distinguir uma participação anexionista, pessoas que respondem a um plano estrangeiro e se opõem à Revolução, que pensam sob os desígnios do império, que quando realizam uma ação não mostram uma bandeira cubana, mas sim a bandeira norte-americana», comentou.
«Mas também há outros cubanos envolvidos. Uns com atuação criminosa, outros, que são pessoas insatisfeitas, que têm meios de manifestar sua insatisfação de outras formas, mas que se confundiram e ao verem a situação aderiram. Legítimos também, porque têm insatisfações e nem sempre têm recebido a atenção adequada»Photo: Estudios Revolución
«Havia também jovens», reconheceu, «o que contrasta com os jovens que têm contribuído para o país, colaborado, ajudando na primeira linha de enfrentamento da pandemia, nas zonas vermelhas».
«Foram manifestações, supostamente defendidas como pacíficas, mas as imagens mostram que não, isso é mentira», acrescentou.
Porém, afirmou, «os criminosos e os insatisfeitos que participaram desses eventos também fazem parte do povo e isso nos machuca, incomoda que existam pessoas com essa atitude. São fraturas que temos em nossa atenção a certos problemas sociais, são consequência dessas fraturas, daquilo que temos que aperfeiçoar e assumir».
O presidente cubano referiu-se às ideias de Fidel, ao seu pensamento, à sua tese em relação aos elos que faltam na sociedade e à necessidade de agir de forma diferenciada, a partir do trabalho social e comunitário, e servir cada família desses bairros desfavorecidos ou vulneráveis.
Da mesma forma, reconheceu que trabalhar com presidiários nem sempre é o melhor na hora de reeducá-los nos presídios, embora, a partir daí, a pessoa possa estudar e até se formar na universidade.
Posteriormente, acrescentou, «a própria sociedade não é capaz de incorporar as pessoas que saem da prisão da forma mais humanística e transformadora possível. Então, eles continuam com essas vulnerabilidades, e os eventos se repetem», disse.
Nos insatisfeitos, mencionou, «também há problemas de atenção por parte de nossas instituições às propostas da população e de sensibilidade aos problemas. A argumentação», disse, «deve ser oportuna e a resposta clara e precisa. Há problemas que não temos condições de resolver, e isso é preciso dizer, que não é que eu queira incomodar ou não resolver, mas as causas que impedem de resolvê-los», disse.
«Agora, com a dureza com que estou analisando, a partir das insatisfações, não temos conseguido realizar toda a transformação em bairros vulneráveis, e na superação dos problemas que esses insatisfeitos têm, em parte também por causa do bloqueio».
«Porque se tivéssemos os materiais de construção, os combustíveis, as produções, as matérias-primas associadas a um conjunto de processos que ajudam na solução, teríamos sido capazes de responder a essas insatisfações», disse.
Apelou a continuar a fortalecer a vocação humanista da Revolução e a concretizá-la em fatos, mas também a reavivar as formas de participação social, bem como o trabalho das organizações e instituições que operam no bairro.
Díaz-Canel também falou sobre a pessoa falecida, os acontecimentos ocorridos no bairro La Güinera, em Havana, os feridos, o ataque às autoridades policiais. Também mencionou que foram cometidos atos contra a Constituição, que foi endossada por mais de 86% do povo cubano e, portanto, pertence à maioria, e deve ser respeitada. Por isso, há quem receba a resposta prevista pela legislação cubana, que será enérgica, mas também respeitosa em cada caso, com as garantias processuais estabelecidas.
Talvez, reconheceu, «seja necessário pedir desculpas a alguém que, em meio a toda a confusão, foi maltratado. Mas é legítimo para uma parte do povo e uma parte importante das forças da ordem tentar evitar esses acontecimentos, e neutralizá-los, porque ainda hoje teríamos as cidades desordenadas, quebrando a segurança que as pessoas sentem de viver nelas, em Cuba».
REVER O QUE ESTÁ FALHANDO E, ENTRE TODOS, PROPOR AS SOLUÇÕES
«Sei que existem pessoas», disse o presidente, «angustiadas com o ocorrido, e algumas talvez com medo de que nossa sociedade se desorganize, mas isso nunca vai acontecer. Não vamos dar uma chance a isso, portanto tivemos que agir».
A este respeito, frisou que tentaram interpretar mal o apelo de que a rua pertence aos revolucionários, e que não é um conceito que não inclua, o que acontece é que em momentos como este, os revolucionários na frente, com todos aqueles inclusive, têm o dever de proteger o que é patrimônio de todos.
Da mesma forma, reconheceu que esse tipo de situação também nos faz melhorar, aprofundar e criticar.
«A Revolução foi feita para transformar esta realidade, para chegar a todos, para abrir horizontes de melhoria a todos; e creio que todos na Revolução, sem distinção de pele, sem distinção de gênero, tiveram a possibilidade de se alimentar de todos esses horizontes».
«Devemos ver então o que nos falta», frisou, «porque há pessoas como essas que chegam a esses estados e podem ser manipuladas por uma campanha que desinforma, que cria realidades virtuais, que não existem, que respondem a projetos intervencionistas e desestabilizadores».
A partir de toda essa análise, e com base na autocrítica, o presidente pediu que continuemos multiplicando os sentimentos de solidariedade, respeito e responsabilidade social.
«Buscar mais e concretizar em resultados, ajudar mais uns aos outros, com todo o potencial que temos e superar nossas divergências entre nós. Temos que encorajar, embora tenhamos pontos de vista diferentes, por vezes, que todos procuremos encontrar soluções, e temos que promover a partir do Governo, do Partido, um trabalho social profundo que se baseie nisso», continuou.
«É também um apelo à paz», disse, «à harmonia entre os cubanos e ao respeito; porque uns poucos, por mais afetados que sejam ou por quantas deficiências tenham, por supervalorizarem que sua situação é pior do que a de outros, não podem atacar os outros; têm o direito de expressá-lo pacificamente, de ir às instituições que deveriam servi-los».
«Aqueles que não têm o compromisso de superar os problemas é que nos bloqueiam, e por que não nos deixam fazer as coisas do jeito que queremos? Permitam-nos demonstrar, sem bloqueios, em igualdade de condições, que somos incapazes e que as convicções que temos são ilusórias. Por que em 60 anos eles não nos deixaram e como, apesar de tudo, construímos uma justiça social que vai além da que pode existir naqueles países que nos mostram tamanha perversidade?», questionou.
O QUE PODEMOS INTERPRETAR DESSAS SITUAÇÕES E SEUS ANTECEDENTES?
Díaz-Canel refletiu sobre o contexto e o pano de fundo em que os acontecimentos se desenrolaram.
«Estávamos em meio do pico da pandemia, mas esse pico não ocorreu apenas em Cuba; e quem tem se preocupado em dar um SOS para o continente africano, ou para os próprios Estados Unidos, ou para a região da América Latina?», exemplificou.
«Lançaram mão de Matanzas e começaram a aquecer o SOS Matanzas, produziram-se os motins e esqueceram o SOS Matanzas, o SOS Matanzas foi desligado. O objetivo era mesmo apoiar Matanzas, ou era tirar proveito de uma situação — tal como aparece nos manuais do golpe mole — que poderia criar irritação, insegurança, para aumentar a inquietação social, provocar manifestações, confronto de forças, e buscar desestabilizar o país?»
«A vida mostrou», garantiu Díaz-Canel, «quem cuidou de Matanzas. Uma equipe de trabalho foi enviada para lá com pessoas do Governo, da alta direção do país e de outras organizações. Em menos de três meses, a atenção básica foi fortalecida, e essa equipe era quem tomava as decisões sobre os locais que poderiam ser convertidos em hospitais. Foi aquele governo cubano que ofereceu soluções, o resto foi um pretexto, uma falsidade».
«Quando você vai às redes, se você não tem convicções e firmeza, fica angustiado, porque tudo o que se levantou de Cuba é totalmente absurdo. Existe uma realidade nas redes e existe outra na vida deste país. Acrescentou que os sentimentos familiares mudaram. Amigos e parentes no exterior têm chamado os que moram aqui para insultá-los, para incitá-los a deixar o país».
Mencionou a calúnia de que o general-de-exército partiu para Caracas, enquanto assegurava que está em Cuba, com as botas e o pé no estribo.
«Disseram que um vice-ministro do Interior desertou, outra mentira. Mandam tudo isso com fotos que são mentiras. Dizem que em Cuba existe uma repressão total e milhares de mortes. Onde estão os milhares de mortos, onde estão os casos de mortes em Cuba? Reconhecemos que houve uma pessoa falecida e estamos fazendo toda a investigação».
O presidente também negou a falsa situação criada em Camagüey e deu exemplos de fotos falsas, de manifestações em cidades de outros países, alegando que foram na Praça e no Malecon de Havana.
Sobre as supostas notícias das lideranças que deixaram o país, o presidente destacou que «aqui há muita coragem de todo o nosso povo para isso. Estaremos aqui até as últimas consequências, e eu sou um daqueles que está convencido de que por esta Revolução damos nossas vidas, pelo futuro dos cubanos, pelo futuro de nossos filhos, de nossos netos, e porque tivemos um presente e também um futuro neste país, independentemente de todos os sonhos que não conseguimos realizar por causa de toda esta política criminosa», afirmou.
«Tem sido uma campanha da mídia cheia de ódio, notícias falsas, imagens ridículas e mentirosas, pedindo eventos violentos. Hoje eles circularam post onde explicam como construir artefatos ou armas para atacar», alertou.
«Sou um daqueles que tem defendido a informatização da sociedade, da necessidade de utilização da Internet, mas com uma concepção humanística. A Internet tem que ser para promover a cultura, para compartilhar conhecimento», esclareceu.
«É uma expressão do terrorismo midiático», continuou Díaz-Canel, «porque está sendo feito um apelo para matar, para assassinar, nas redes sociais, para criar insegurança, pânico, para distorcer».
No entanto, reconheceu, «ficamos com a convicção de que podemos fazer mais, de que podemos enfrentar os problemas, resolvê-los, com um trabalho profundo, justamente pelos valores que tem nosso povo».
«A partir desta análise, podemos dizer que em Cuba hoje existe paz em nossas cidades, continuamos funcionando. O Governo está trabalhando, continuamos em sessões de trabalho; e reorientados para reavivar nossas formas de participação social, promovendo o trabalho com os jovens, ouvindo-os como pessoas importantes que são e vendo como valorizamos a atenção às comunidades. Além de tudo isso, estamos vacinando, ouvindo propostas, nos fortalecendo por dentro, continuamos tirando lições».
«Pedimos segurança, responsabilidade social, harmonia, para que o ódio não se apodere da alma cubana, que é de bondade, solidariedade, dedicação, afeto e amor. Não podemos permitir que sejamos desunidos, fragmentados por aqueles que não querem o melhor para a nossa terra. Nossos problemas se resolvem entre os cubanos, na Revolução», afirmou.
Por isso, concluiu, «devemos defender, garantir e sustentar nossa tranquilidade soberana, apelando à unidade de todos os povos, de todas as famílias cubanas, de nossas instituições, com nossa população, desenvolvendo aquela resistência criativa que sempre nos dá potencialidades de superação das adversidades».
«Paz e tranquilidade cidadã, respeito, solidariedade entre os compatriotas e para com os necessitados do mundo, salvando Cuba para continuar construindo, crescendo, sonhando e alcançando a maior prosperidade possível. Essa é nossa mensagem para nosso povo».