
«Antes de findar o ano se pretende recuperar 489 megawatts (MW) de potência, que hoje não estão disponíveis no Sistema Elétrico Nacional (SEN), e 531 MW com outros investimentos, como parte de uma estratégia gradual, porém imprescindível perante as difíceis condições que apresenta hoje o setor e que tanto afetam a estabilidade do serviço elétrico à população e à economia».
Liván Arronte Cruz, ministro de Energia e Mineração lembrou, na Mesa Redonda da televisão da quarta-feira, 24 de agosto, que as circunstâncias do SEN continuam sendo complexas, pois as avarias ocorridas nas usinas termelétricas (CTEs) Máximo Gómez, de Mariel, e Lidio Ramón Pérez, de Felton, em Holguín, tornaram impossível cumprir com o compromisso de garantir a geração para estes meses de verão e que se perdesse a reserva mínima de operação no sistema para cobrir a demanda.
«Como ocorre perante cada evento extraordinário, as avarias foram investigadas por equipes multidisciplinares, integradas pelas autoridades facultadas e ficou demonstrado que não houve negligência nem intencionalidade», indicou.
Precisou que no caso da termelétrica de Mariel, a avaria está no sétimo gerador, onde ocorreu um incêndio, que, aliás, afetou sistemas e parou o sexto gerador, que levava poucos meses em funcionamento.
Indicou que as peças de reposição e equipamentos afetados têm prazos de entrega que ultrapassam as 26 semanas, pelo que ainda não se conseguiu restabelecer esse gerador.
«Na usina Felton se trabalhou durante 120 dias, as 24 horas. Embora o fogo não fosse de grande magnitude, afetou sistemas tecnológicos, especialmente as colunas principais dessa usina, por isso para a reparação será preciso desmontar praticamente a caldeira», disse.
Ao se referir à realização gradual destes esforços, Arronte Cruz expressou que existe a vontade de fazer as reparações no menor tempo possível, mas ainda com o dinheiro e os processos disponíveis, precisa-se de tempo de fabricação e para a montagem nos sistemas de geração.
Ilustrou que a manutenção total de uma usina termelétrica tem um prazo de duração de entre sete ou oito meses e, em algumas, de até um ano, dependendo do escopo que tiver.
«Não obstante» – insistiu – «trabalha-se intensamente em toda a recuperação do sistema elétrico. É uma indústria que trabalha durante 24 horas, e em todo momento se está acionando sobre as limpezas e as diferentes manutenções, parciais, parciais ampliadas e as totais, que começarão a ser projetadas a partir de contar com os recursos».
Relativamente à recuperação, advertiu que não só será na geração térmica, mas também na geração distribuída, na qual serão recuperados 198 megawatts.
«Todas as ações», especificou, «estão sendo levadas a termo mediante o investimento estrangeiro e com recursos de nosso país».
Alertou que estas ações têm que ser complementadas com um programa encaminhado a reduzir a demanda e o consumo de eletricidade enquanto durar esta situação de emergência, para compensar os altos consumos em alguns dos setores.
«O contexto energético é complexo em nível mundial. No caso de Cuba, a situação se agrava, ainda, pela persistência do bloqueio dos EUA. Temos exemplos concretos, tornados públicos, de como as medidas e sanções impostas pelo Governo estadunidense afetaram diretamente a execução dos trabalhos no sistema elétrico e no setor energético em geral», afirmou o ministro de Energia e Mineração.
Significou que 56 das 243 medidas aplicadas pela administração Trump, que ainda estão vigentes, afetam diretamente o setor cubano da energia e a mineração.
A PERDA DE QUATRO BLOCOS NÃO É DEFINITIVA
Edier Guzmán Pacheco, diretor de Geração Térmica da União Elétrica (UNE), insistiu em que o país conta com 20 blocos térmicos no sistema elétrico, dos quais somente estão disponíveis 16. Quatro deles estão em um estado efetivo de baixa técnica temporária, a partir de avarias de grande magnitude.
Manifestou que no fogo ocorrido no sétimo gerador da usina de Mariel, que afetou também o sexto bloco, o agir do pessoal de operações foi correto. «Foram muito oportunos e inclusive, enfrentaram o incêndio. Caso contrário, teria sido uma perda superior».
Referiu-se ao evento similar na caldeira da usina Felton 2, um bloco que tinham previsto utilizar para enfrentar o verão.
Depois, o quarto bloco da usina 10 de Octubre, situada em Nuevitas, ficou paralisado por deterioro na caldeira, já que havia mais de uma década que lhe correspondia manutenção total, a qual não tinha sido efetuada por escassez de recursos.
«A perda destes blocos é temporária, mas a recuperação não é imediata. Cada um deles tem um escopo previsto e um programa bem definido para recuperar sua potência, mas em todos os casos não contamos com os recursos financeiros», precisou.
Detalhou que no sétimo bloco de Mariel ficou destruída a estrutura do teto durante o fogo, «vamos reconstruir isso com forças nacionais, mas requer da substituição da turbina, o gerador e todos os equipamentos auxiliares da caldeira, a parte elétrica e automática. Hoje não temos o financiamento que, no caso deste bloco, flutua aproximadamente entre 90 e 100 milhões de dólares e indicou que se buscam opções de créditos.
«Neste cenário, aos 2.608 MW instalados na geração térmica é preciso restar a potência destes quatro blocos: 565 MW de potência instalada e uns 460 MW de potência real», acrescentou.
O diretivo da UNE disse que o resto dos 16 blocos do SEN se mantêm em exploração e gerando, mas podem apresentar algumas avarias e também, com trabalhos de manutenção. «No dia de hoje (24 de agosto) amanhecemos com um bloco sob manutenção, o terceiro da Renté (90 MW), enquanto o segundo bloco da usina Ernesto Guevara (100 MW) e primeiro bloco da usina Felton (260 MW) com avarias».
A ESTRATÉGIA DE RECUPERAÇÃO
Omar Ramírez Mendoza, diretor adjunto da UNE, indicou que foi elaborada uma estratégia encaminhada a sustentar a geração existente, a recuperação das limitações na geração e a incorporação de nova potência.
Indicou que, a partir de julho deste ano, a disponibilidade de geração do SEN veio diminuindo consideravelmente, e como consequência existe um incremento na afetação ao serviço, que superou os 1.100 MW em algumas ocasiões no mês de agosto.
Reiterou que devido a que nosso equipamento térmico tem uma idade média de 35 anos, requer de um constante balanço entre a recuperação de potência e a ocorrência de importantes avarias e limitações em cada um dos blocos.
A esse respeito, precisou, «existe um programa de intervenções até findar o ano, o qual permitirá deter a diminuição da capacidade de potência disponível, até chegar a um momento em que seja conseguido um ponto de equilíbrio, para incorporar e ir crescendo em nova potência».
Informou que até dezembro estão planejadas manutenções leves e parciais a blocos da geração térmica. Nos próximos meses serão efetuadas no terceiro e quarto blocos da termelétrica Antonio Maceo, em Santiago de Cuba; e no quarto bloco da usina Carlos Manuel de Céspedes, em Cienfuegos.
Entretanto, precisou, em setembro será feita uma manutenção leve à usina Antonio Guiteras, com a que se pretende atingir a potência de 270 mw.
Disse que, a partir de um financiamento outorgado ao país, prevê-se um incremento da disponibilidade da geração distribuída até finalizar o ano. A energia gerada por motores de fuel oil estará no entorno dos 118 MW, e pelos motores de diesel nos 80 MW.
Também se prevê, através de uma modalidade de investimento estrangeiro, a geração mediante motores de fuel oil em Mariel e Moa, que incorporaria ao sistema 276 MW, entre setembro e dezembro.
Referido à incorporação de potência nova, o diretor adjunto da UNE fundamentou que consiste na instalação de 240 MW de geração móvel, também com a participação do investimento estrangeiro, que deve estar disponível antes de findar o ano.
Além do mais, vai se trabalhar nos três projetos de energia renovável que têm perspectivas de culminação ao finalizar o ano 2022, dois deles também com capital de fora.
Estimou, então, terminar o ano com uma capacidade de geração superior à previsão da demanda, embora os valores de reserva não seriam suficientes para enfrentar a saída de um bloco grande.
«Por essas razões, continua sendo necessário o reforço da estratégia de poupança, desenhada para enfrentar a contingência energética nos próximos meses», sublinhou Elaine Moreno Carnet, vice-chefa da secretaria do ministério de Energia e Mineração, que também, indicou as medidas que se potenciam para impulsionar em todos os setores da economia nacional o uso racional da energia, embora esta poupança não reduza completamente os níveis de afetação.