
«Muito obrigados pelo seu tempo, por aceitar este convite e este encontro, por estar em Cuba»
Foi o que disse o primeiro-secretário do Comitê Central do Partido Comunista e presidente da República, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, a empresários norte-americanos e cubano-americanos, com os quais manteve uma troca cordial.
Recebidos no emblemático Salão Portocarrero, o presidente disse aos que participam desde terça-feira, 25 de outubro, de um fórum empresarial entre Cuba e os Estados Unidos — organizado pela Câmara de Comércio e pelo grupo Focus Cuba — que era necessário compartilhar com eles um conjunto de razões sobre a realidade da Ilha, porque «vocês optaram por trabalhar connosco; (...) estão entre os que querem construir pontes e não muros».
O chefe de Estado se referiu a seus interlocutores como homens e mulheres com os quais os problemas podem ser superados juntos e progredir.
Em um ambiente descontraído, o presidente disse aos convidados que se sente muito satisfeito porque «vocês estão presentes aqui hoje, em Cuba, participando da Conferência Empresarial Cuba-Estados Unidos», e que «sua participação, em um momento tão complexo quanto aquele em que vivemos tem muito significado».
Sobre as razões subjacentes a esta importância, Díaz-Canel explicou que expressam o desejo de fortalecer as relações comerciais e empresariais entre os dois países, e enalteceu a singularidade de que «neste grupo também há compatriotas cubanos que, vivendo fora da Pátria, querem participar do desenvolvimento do nosso país».
«Reuniões como esta»— enfatizou o presidente —«nas quais temos muita fé, também nos ajudam a ratificar conceitos que temos defendido: em primeiro lugar, que estamos abertos à cooperação com o mundo, porque acreditamos que cooperação e interrelação empresarial em nível internacional é um caminho para o nosso desenvolvimento».

«Em segundo lugar, ratifica que estamos abertos a fortalecer, estreitar o diálogo e as relações com qualquer país do mundo; e em particular com os Estados Unidos».
«O que acontece»— enfatizou o presidente —«é que tem que ser um diálogo com respeito; em que nossa soberania e integridade não sejam atacadas; que não existam posições unilaterais de força. Se isso for respeitado, pode haver esse diálogo, esse fortalecimento de relações, independentemente das diferenças ideológicas que tenhamos».
O chefe de Estado expressou que, «repetidamente, propusemos ao Governo dos Estados Unidos, através dos canais que pudemos utilizar, que estamos abertos ao diálogo e essa conversação, sem condições, e com a possibilidade de cobrir todas as questões possíveis".
Isso ficou explícito para os homens de negócios amigos. «Queria que vocês, que estão dispostos a nos visitar, fazer negócios com Cuba, ver como podemos ter relações comerciais, conheçamas nossas posições».
Referiu-se a outras trocas semelhantes: «Conheci alguns de vocês quando estivemos nas Nações Unidas, em Nova York, há alguns anos; conhecemos outros através de outras visitas que fizeram a Cuba, com quem compartilhamos neste mesmo lugar».
Ressaltou que, «sistematicamente e pessoalmente — além do que fazem outras pessoas do Governo e do Estado cubanos — tem apoiado as trocas sempre que o lado norte-americano concordar, sempre que os interlocutores o desejarem,ainda que não se sintam pressionados. Quando for o caso,atendemos a todas as delegações norte-americanas que visitam o país».
CUBA E SUA VONTADE DE SUPERAR AS ADVERSIDADES
Aos empresários norte-americanos e cubano-americanos que estiveram no Palácio da Revolução, em 26 de outubro, o presidente Díaz-Canel lhes disse que, tal como chegaram ao Salão Portocarrero, também se realizaram, em todos estes anos, intercâmbios «com artistas, intelectuais, cientistas, empresários de diversos setores, e homens e mulheres do setor dos negócios».
«Vocês sabem que estamos em um momento extremamente complexo. Tradicionalmente se fala em bloqueio, mas agora não é o bloqueio de todos esses anos que se passaram. Desde o segundo semestre de 2019, sofremos com o bloqueio intensificado. Foram aplicadas mais de 243 medidas do governo Trump, que o governo Biden manteve sem nenhuma variação».
Afirmou que nesta política começaram a dar «alguns passos na direção, diríamos correta, nos últimos tempos, mas não vão além de alguns anúncios que ainda não se concretizaram fundamentalmente».
O presidente refletiu que «essas medidas realmente nos colocaram em uma situação muito complexa, porque nossas principais fontes de financiamento foram cortadas, e o ponto final dessas medidas foi quando, nove dias antes de Trump deixar a presidência, ele colocou Cuba em uma lista de países que supostamente apoiam o terrorismo, o que é completamente falso e irracional.
O presidente argumentou que «estar nessa lista limita um país, especialmente um país como o nosso, de forma avassaladora, porque desde o início todos os bancos se recusam a trabalhar (com a nação estigmatizada); perdem-se todas as possibilidades de crédito; você não pode exportar moeda estrangeira para o exterior; você não pode operar com contas cubanas em bancos no exterior; e superar esses problemas dá muito trabalho».
Díaz-Canel não deixou de referir que «a política dos EUA em tempos de pandemia foi muito cruel. A intensificação dessas medidas, e a manutenção delas pela atual administração dos Estados Unidos, foi justamente no momento em que a pandemia entrou em Cuba».
Denunciou que «o Governo dos Estados Unidos tentou por todos os meios impedir que Cuba tivesse acesso às vacinas, aos medicamentos de que precisávamos».E lembrou que, quando houve uma avaria em«nossa usina de oxigênio medicinal, dos Estados Unidos, fizeram o possível para que as entidades, empresas às quais fomos comprar oxigênio na América Latina, não nos vendessem o oxigênio».
«Quando precisávamos» — explicou Díaz-Canel —«ampliar os serviços de nossas unidades de tratamento intensivo, eles nos negaram e bloquearam a possível compra de ventiladores pulmonares; mas isso não nos impediu».
Nesse momento da explicação, o presidente se referiu a um episódio transcendental: a liderança do país pediu a seus cientistas que alcançassem a soberania, com vacinas próprias, diante da epidemia de Covid-19.
O anfitrião salientou que aquele chamado «acabou se tornando em três vacinas já reconhecidas, e duas vacinas candidatas, e talvez começamos tarde a vacinação, porque tivemos que desenvolver nossas próprias vacinas, tivemos que realizar testes clínicos, tivemos que realizar estudos de emergência para pudermos testar nossas vacinas».
«Quando vacinamos mais de 60% da nossa população, em outubro de 2021, o número de casos e, claro, de mortes começaram a cair imediatamente».
«Nesses meses» — sublinhou — «Cuba tornou-se o país que mais vacinou a sua população. Hoje estamos entre os dois países que têm mais doses de vacinação por habitante; mais de 90% da população é vacinada com calendário completo — neste indicador ocupamos a quinta ou sexta colocação no mundo — e fomos os primeiros a imunizar crianças com mais de dois anos».
O chefe de Estado explicou que «nos últimos seis meses quase não tivemos mortes — três mortes em seis meses — e mal temos casos diários. A letalidade de Cuba nesta doença é de 0,77 (ou seja, a proporção de óbitos por pacientes); um número bem abaixo do mundial, que é de 1,35; e bem abaixo das Américas, que é de 1,7».
Em uma conversa franca, Díaz-Canel acrescentou: «Talvez vocês podem perguntar: E por que ele está nos contando essa história? Estou falando de uma ideia fundamental».
E nesse ponto de sua reflexão retornou à «situação muito complexa» que o país caribenho vive, e por isso mesmo lhes falou de «resistência criativa, que não é apenas resistir, mas avançar e nos desenvolver em meio da adversidade».
Então o presidente se referiu a essa batalha como uma «experiência muito recente, como uma filosofia com a qual estamos enfrentando todos os problemas que temos hoje».