ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
A insatisfação, recalcou o presidente cubano, «é um motor que mexe as energias revolucionárias, porque faz abalar a vergonha» Foto: Estudios Revolución

 Redescubrir o «alento mítico» da Revolução, e a partir dele se levantar; reencontrar os caminhos lendários e o heroísmo que fizeram viver episódios como os de Playa Girón, ou como a luta contra os bandidos; mergulhar na épica de uma vertigem que, devido à sua humanidade merece ser contada, cantada e, naturalmente, continuar fazendo».

 A essa bela tarefa convocou o primeiro-secretário do Comitê Central do Partido Comunista e presidente da República de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, ao encerrar, no sábado, 16 de dezembro, a 7ª sessão plenária do Comitê Central do Partido.

 «Desenvolvamos as forças produtivas e também as forças espirituais da Revolução», disse o chefe de Estado, que, ainda, definiu que nesse rumo é que vão os caminhos de fortalecer o orgulho de sermos cubanas e cubanos.

 O presidente dedicou as primeiras palavras à projeção da Ilha maior das

Antillas na arena internacional, especialmente neste ano. Destacou «a fortaleza da política exterior da Revolução Cubana», sustentada, essencialmente, no heroísmo do povo e com fortes raízes na trajetória e no legado do Comandante-em-chefe Fidel Castro Ruz.

 «O desempenho e o exemplo de Cuba em nível planetário» – refletiu o dignatário – «levou à bancarrota o isolamento a que o imperialismo pretendeu submeter o país caribenho». Não deixou de se referir ao papel da Ilha à frente do Grupo dos 77 mais a China, na qualidade de presidente pro tempore.

 Em sua intervenção, denunciou o genocídio que se vem perpetrando contra o

povo palestino, e lembrou a crueldade do bloqueio imperial contra Cuba. O impacto que esse cerco representa para a economia e a sociedade cubanas «é muito duro», sentenciou.

 «Mas não nos vamos deixar abrumar, nem agobiar, desunir nem desmobilizar», enfatizou Diaz-Canel, pelo qual fez um apelo a continuar sendo otimistas, a não abrir mão «da confiança na vitória», e ter a certeza de que os cubanos vão superar seus desafios com trabalho, talento e criatividade próprias; «isto é, com resistência criativa».

 Nesse combate de resistir e vencer, o presidente cubano evocou Fidel e

Raúl, e a escola – aprendida deles – da «correção oportuna». Díaz-Canel fez questão de lembrar o ano 2000, quando o Comandante-em-chefe «nos convocó a mudar tudo aquilo que devia ser mudado», e fez referência ao ano de 2005, quando Fidel advertiu, a partir da Aula Magna da Universidade de Havana, que a Revolução podia se autodestruir.

 Quanto a preceitos legados pelo líder histórico da Revolução Cubana, o chefe de Estado enfatizou: «Suas ideias sobre a importância da retificação constante dentro do processo revolucionário transcendeu no tempo». Nesse sentido, destacou o valor da «observância crítica», por parte dos revolucionários, com relação às causas que pudessem atentar contra um processo emancipador sempre ameaçado.

 Díaz-Canel falou em «corrigir tudo aquilo que se afaste do espírito da Revolução», e de saber criar soluções novas para todos os problemas.

UMA SESSÃO PLENÁRIA IMPORTANTE E ESTRATÉGICA

 O presidente qualificou a 7ª sessão plenária como um encontro bom e importante. Disse que «importante», atendendo ao «caráter estratégico» do encontro: «Aqui discutimos – enunciou – os problemas fundamentais do país neste momento». E refletiu sobre por quê o encontro foi bom: «porque se discutiu sem complacência e com un aproveitamento bastante ótimo do tempo».

 Valorizou que «durante estes dois dias temos falado de esforços que ainda não se traduzem em soluções; de medidas que não frutificaram, e de previsões que não foram cumpridas», e compartilhou una reflexão que faz evocar outras dessas tantas reflexões na Cuba de hoje: «Por que pudemos desenvolver um investimento da envergadura dos sistemas de canais para irrigação Este-Oeste, do município de Mayarí, em Holguín, e não conseguimos que esse investimento se traduzisse em maior produção de alimentos?

 «Nunca devemos esquecer – disse – que o que o povo espera são resultados, e a cada um de nós, mulheres e homens do Partido, que também somos o povo, nos corresponde isso que tão graficamente definia Tapia (o vice-primeiro-ministro Jorge Luis Tapia Fonseca) em boa expressão cubana: pôr comida no prato das pessoas. E não só isso, mas muito mais».

 A insatisfação, recalcou, «é um motor que mexe as energias revolucionárias, porque faz abalar a vergonha». E destacou a transcendência de caminhar com o povo, dentro dele, de ir ao coração dos bairros, ali onde as pesoas ainda não perderam a esperança. Afirmou que em meio do povo é que «se consegue ativar plenamente a participação, sem a qual não é possível o socialismo».

PERANTE TUDO, A FÓRMULA É TRABALHAR

 O primeiro-secretário do Comitê Central do Partido disse aos delegados da 7ª sessão plenária que, «com a crueza que o momento exige, Alejandro Gil (vice-primeiro-ministro e titular da Economia e Planejamento) reconheceu que as medidas adotadas para conter a inflação não foram efetivas». O presidente sublinhou que, «para enfrentar esse e outros complexos problemas associados à macroeconomia, estão sendo elaboradas ações que deverão ser implementadas em 2024».

 «A pergunta que diariamente nos formulamos» – disse o presidente – «é o que vamos fazer e como vamos fazer. Primeiramente, a fórmula é trabalhar, fazê-lo bem». E lembrou que nenhuma medida resolverá por sí só todos os problemas, e que – nessa sorte de obra coletiva – «ninguém tem a verdade absoluta».

 Em alusão a uma ideia que já o primeiro-ministro, Manuel Marrero Cruz, tinha expresso na reunião plenária, o chefe de Estado refletiu: «Trabalhamos em um

cenário de economia de guerra. Com decisões consensuadas, com trabalho

coletivo, com paixão e energia, todos somos convocados a reverter a situação

atual».

 «Se cada medida dos inimigos declarados de nossa independência é uma bomba silenciosa que busca derrubar os muros de nossa resistência; cada resposta de Cuba deve estar norteada a desativá-las, uma a uma, com o talento e a dignidade dos cubanos».

 «Estaríamos nos rendendo antecipadamente» – ressaltou – «se vemos essa guerra como uma desgraça insuperável. Devemos vê-la como foi vista em seus respectivos tempos pelos próceres e os líderes históricos: como a oportunidade de crescer e superar-nos nós mesmos, enquanto o adversário fica nu, em sua  maldade, perante o mundo».

 Relativamente ao valor que reveste em um tempo como este o trabalho político e ideológico, o presidente referiu-se a um desafio indubitável: esse trabalho ideológico deve gerar emoções e sentimentos, e tem que ser feito de modo muito especial com as novas gerações, as quais se comunican a través de códigos muito próprios, diferentes dos anteriores.

PLANO CONTRA PLANO

 «Daqui a poucos dias» – expressou Díaz-Canel – «estará reunida a Assembleia Nacional. Esperam por nós novas análises e mais debates relacionados com as decisões aqui anunciadas».

 «Nas vésperas do 65º aniversário da Revolução Cubana, sua dirigência política, sua militância comunista, seus filhos patriotas e revolucionários, somos convocados a agir juntos em prol de um objetivo comum: salvar a Pátria, a Revolução, o socialismo e vencer».

 A seguir, o chefe de Estado denunciou que a contrarrevolução promove ações que buscam romper a estabilidade do país, e que tais afãs provêm de mentes doentias, desesperadas e impotentes. «Aqueles que tentam provocar danos, se sentem alentados pela política imperial que procura a asfixia econômica da Ilha», asseverou o presidente.

 Advertiu que «a contrarrevolução não pode esperar magnanimidade nem generosidade da Revolução: sobre ela, cairá todo o peso da lei».

 Já no fim de suas palavras no encerramento, Díaz-Canel evocou José Martí, «inspirador e guía da Geração de seu centenário, que trouxe até aqui a

Revolução vitoriosa, cujas bandeiras hoje nos honra levantar».

 O presidente citou o Apóstolo: «Nosso inimigo obedece a um plano: ao plano

de espezinhar-nos, dispersar-nos, dividir-nos, afogar-nos. Por isso, nós nos norteamos por outro plano: mostrarmo-nos em toda nossa altura, apertar-nos, juntar-nos, driblá-lo (…) Plano contra plano. Sem plano de resistência não se pode vencer um plano de ataque».

 Após essa frase, o presidente cubano acrescentou: «E todos nós juntos, com nosso povo, faremos isso». E então proferiu um brado de «Pátria ou Morte, Venceremos»; e outro brado de «Viva Cuba Livre».