ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Photo: Osval

Na semana passada, eu estava lendo no jornal Granma a notícia sobre o vazamento de uma estratégia de inteligência dos EUA contra Cuba, com o objetivo de distorcer nossas finanças.
 A primeira fase dessa guerra econômica, que tem como fim destruir a Revolução, consistiu em limitar ao máximo a entrada de moeda estrangeira no país. A segunda inclui o uso de plataformas como El Toque para estimular a inflação.
 A nota argumenta que procedimentos semelhantes foram realizados por esse país na Nicarágua, Zimbábue, Argentina (Dólar Blue via Telegram) e Venezuela (Dólar Today via web).
 Afirma que «o denominador comum das tentativas é o uso de redes sociais digitais como Facebook, WhatsApp e Telegram, nas quais indivíduos anônimos e desconhecidos colocam preço na moeda livremente conversível, em um círculo fechado e de muito difícil acesso».
 Em suma, é algo que agora está confirmado, mas que, particularmente, não me surpreende. Há um ano e meio, em setembro de 2022, escrevi um artigo no qual argumentei sobre o método distorcido usado pelo El Toque para «calcular» suas taxas de câmbio.
 De acordo com esse meio de comunicação, financiado pelo governo dos EUA, as taxas são calculadas com base em dados «confiáveis» do mercado informal e, em seguida, usando a média de compra e venda de moeda estrangeira em grupos de redes sociais e sites de anúncios classificados.
 Fiz então algumas perguntas: Quem são essas pessoas que administram os grupos de vendas informais em que o pessoal do El Toque confia tanto? Há alguma familiaridade ou um pacto comercial oculto entre eles?
 Quanto ao uso da mediana como método de cálculo, também levantei uma questão: como podemos chegar ao valor central das ofertas ordenadas por magnitude, se apenas os preços «indicativos» são levados em consideração nesse cálculo, sem levar em conta os volumes reais de vendas gerados por eles?
 Isso é algo que não resiste a uma análise moderadamente séria. Nem esses dados são confiáveis – que, além disso, podem ser manipulados com o uso de perfis falsos – nem a técnica que eles dizem usar pode ser utilizada, pelo menos com um mínimo de rigor científico.
 É claro que em nosso país temos uma inflação alta causada pelo excesso de dinheiro em circulação sem o devido suporte de oferta.
 Entretanto, há um grande segmento dessas taxas cujo aumento não parece se dever a esse fator.
 Em setembro de 2022, o dólar estava sendo negociado a 150 pesoss, enquanto o salário médio estava próximo de 4.000 copas. Hoje, o salário médio cresceu apenas 15% em relação àquela data, mas as taxas de câmbio subiram 213%.
 Sei que outras variáveis têm impacto no balanço patrimonial, mas, em nosso país, os salários são a principal fonte de liquidez monetária.
 Em minha página do Facebook, publiquei os dados acima e isso gerou um debate. Algumas vozes apontaram que o dinheiro havia sido emitido para cobrir o déficit fiscal e sugeriram reduzir o tamanho do orçamento nacional.
 Essa visão, além de inverter a questão, leva a conclusões muito perigosas. Em termos nominais, os orçamentos estão cada vez mais apertados hoje, enquanto em termos reais a situação é terrível, pois não permitem mais operações adequadas.
 Quanto ao déficit fiscal, já apontamos as distorções na política tributária em artigos anteriores.   
 O aumento das taxas de câmbio informais serviu como «justificativa» para aumentar os preços de varejo de produtos e serviços, e isso significa que hoje um hospital precisa investir muito mais para garantir a alimentação dos pacientes, manter os equipamentos de ar-condicionado ou pintar as enfermarias, para dar alguns exemplos básicos.
 O que vamos fazer com museus, galerias de arte, teatros, cinemas e outras instituições culturais e patrimoniais, se a espiral inflacionária mal permite mantê-los? Renunciamos à cultura como um direito do povo? Privatizamos a saúde e a educação?
 Obviamente, não é nisso que a grande maioria dos eleitores está apostando no referendo constitucional de 2019. Se é uma guerra que está sendo travada contra nós, teremos de agir de acordo com esse cenário.