ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Photo: Ricardo López Hevia

Quem não conhece as tempestades – aquelas tempestades que Camilo Cienfuegos nunca temeu, pelo contrário: agradeceu, enfrentou e venceu – nunca entenderá por que todo dia 28 de outubro Cuba transforma as ondas de seu mar, rios, riachos, lagoas, reservatórios e qualquer corpo de água ao alcance de crianças, jovens e adultos em um roseiral florido...
 Não tenho referência a uma tradição semelhante, por meio da qual gerações completas levam à realidade virtual e virtuosa o reencontro com um desses filhos, modestamente sublimes e verdadeiramente ilustres, que um povo gera para que ele nunca morra... É o que acontece com a homenagem ao comandante guerrilheiro Camilo Cienfuegos Gorriarán.
 A imprensa da época, os livros da posteridade e a dor eterna registram que isso aconteceu a bordo de um avião leve Cessna 310, enquanto voava de Camagüey para Havana, depois de neutralizar, com nenhuma outra arma além de sua presença e grandeza humana, uma conspiração contra a Revolução nascente, liderada pelo traidor Hubert Matos.
 Em que lugar abençoado, na terra ou no mar, o pequeno avião vermelho e branco poderia ter pousado? Nunca se soube. Mais de dez dias de buscas incansáveis e milimétricas por parte de um povo consternado e inteiro não produziram a menor evidência.
 O carismático homem de mil anedotas e mil batalhas, braço direito de Fidel e confidente de confiança (Estou indo bem, Camilo?), tinha apenas 27 anos quando seu misterioso desaparecimento assumiu a forma incerta da morte.
 Como de costume, a língua do inimigo aproveitou essa infeliz oportunidade para tecer, na ponta de uma agulha viperina, falácias de todos os tipos que o tempo se encarregou de transformar em poeira e nada.
 Para aqueles que não entendem as tempestades vencidas pelos valores do peito, um exercício magnífico seria perguntar a si mesmos com que arma ou por meio de que mecanismo de pressão milhões de cubanos saem todo dia 28 de outubro para depositar flores para o Herói de Yaguajay: a cidade em cuja captura talvez suas mais brilhantes habilidades táticas e estratégicas de guerrilha tenham atingido o auge, ou por que razão aqueles que nasceram e ainda vão nascer continuam adorando a sua figura lendária.
 Procure no próprio Camilo – e em sua humilde família – o principal motivo, desde quando odiava os maus-tratos quando criança; ou quando, ainda muito jovem, já se envolvia em protestos justos contra o poder autoritário, ou quando foi à universidade manifestar-se contra o golpe de Estado do ditador Fulgencio Batista....
 Não foi apenas por vontade da história, mas também por vontade própria, que Camilo foi o último homem escolhido por Fidel para participar da ousada expedição do iate Granma e que, sem querer, terminou a não menos intrépida invasão rumo ao Ocidente entre as primeiras e mais importantes figuras do épico.
 Quando mais sentirmos «sapato apertado», quando pareça que tudo está escuro ou que não há saída, é bom ir com calma até a margem. A lembrança do herói sorridente, com um chapéu de abas largas, nos dirá que não há derrota enquanto houver otimismo, convicção e uma causa justa.