ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
Photo: Juvenal Balán

No limiar de um novo calendário, os traços de 2024, um ano de desafios, estão começando a ser estampados no tipo de livro em permanente construção que é a nossa história nacional.

Da escassez de alimentos à crise energética, Cuba enfrentou adversidades nos últimos 12 meses que teriam desanimado muitos, em qualquer lugar do mundo; no entanto, o povo se levantou repetidas vezes, como parte dos esforços para se reinventar em meio a um contexto de resistência.

A política de cerco econômico, comercial e financeiro que os EUA impuseram à Ilha por mais de seis décadas é a principal causa dos problemas enfrentados pela nação, uma situação que não passou despercebida pela comunidade internacional, que mais uma vez reafirmou seu forte apoio à Ilha ao aprovar, pela 32ª vez, uma resolução exigindo o fim do bloqueio, com danos quantificáveis de mais de US$ 1.499,71 bilhões.

 ELETRICIDADE, O GRANDE DESAFIO

A crise energética foi a consequência mais óbvia das dificuldades que o país enfrenta para garantir um fornecimento estável de combustível, investimentos no setor e os ciclos de reparo e manutenção necessários nas usinas termoelétricas.

Levantar os postes de alta tensão derrubados pelos ventos foi uma façanha após a passagem do furacão Rafael. Photo: José Manuel Correa

Por três vezes, por diferentes motivos, o Sistema Elétrico Nacional (SEN) foi desconectado durante o último trimestre de 2024, o que significou a paralisação de muitas atividades da vida nacional e um compromisso heroico dos trabalhadores do setor elétrico, que trabalharam incansavelmente na difícil tarefa de restaurar o serviço para toda a nação.

Entretanto, nem tudo foram más notícias. O anúncio da instalação, até 2028, de 92 parques solares fotovoltaicos em Cuba, com capacidade para gerar 2.000 megawatts (MW) de energia (mais de 20 MW cada), deu ao povo a esperança de melhores condições em curto prazo. Isso significa que não será mais necessário importar 750.000 toneladas de combustível.

Além disso, o poço de petróleo mais longo de Cuba, Varadero 1012, foi concluído, o que foi um marco.

A FORÇA DA NATUREZA

A natureza também não nos deu trégua. O furacão Oscar, em outubro, permaneceu parado por mais de 20 horas na área de Guantánamo, causando graves inundações devido às fortes chuvas, perda de vidas e necessidades básicas em uma região tradicionalmente afetada pela seca.

Esses impactos acrescentaram desafios fundamentais à recuperação de quatro municípios do país que já apresentavam desafios significativos de desenvolvimento, como o impacto, em outubro de 2016, do furacão Mathew.

Pouco menos de um mês depois, no início de novembro, o furacão Rafael atravessou a província de Artemisa com uma tempestade de categoria 3, destruindo milhares de casas e causando danos significativos à infraestrutura elétrica e à agricultura. Ao mesmo tempo, os danos afetaram o bombeamento de água das fontes de abastecimento localizadas em Mayabeque e Artemisa.

A solidariedade internacional foi notável e imediata. Além das remessas de solidariedade das províncias que não foram afetadas para as mais atingidas, houve também remessas de recursos essenciais e doações financeiras do sistema das Nações Unidas e de países como Venezuela, Rússia, China, México, entre outros.

 NÃO PERDER O QUE FOI CONQUISTADO

Levantar os postes de alta tensão derrubados pelos ventos foi uma façanha após a passagem do furacão Rafael. Photo: Estúdios Revolución

Apesar das dificuldades, o ano também trouxe vitórias. Os atletas cubanos se tornaram embaixadores de um espírito indomável nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Com um total de nove medalhas, incluindo duas de ouro, uma de prata e seis de bronze, a delegação cubana ficou em 32º lugar no quadro de medalhas.

Também foram tomadas decisões importantes na esfera social. Uma delas foi o anúncio do governo de uma extensão de três meses dos benefícios de maternidade.

Além disso, apesar de sua instabilidade, a garantia da cesta básica familiar continuou sendo uma prioridade, apesar de todas as limitações, já que a importação de recursos se tornou uma verdadeira odisseia, devido à perseguição financeira dos Estados Unidos.

 
A ESPERANÇA DO TURISMO

Para o ano de 2025, a previsão é de 2,6 milhões de chegadas de visitantes estrangeiros, o que significa um aumento de 18% em relação à estimativa para o calendário que acabou de terminar, de acordo com Juan Carlos García Granda, ministro do Turismo.

Enfatizou a necessidade de aperfeiçoar um esquema de financiamento fechado e garantir a conformidade com os padrões em todo o sistema de turismo do país.
O principal destino continua sendo Matanzas, seguido por Havana, as chaves de Villa Clara e Ciego de Avila, e Holguín.

Do lado positivo, o comércio eletrônico no setor está consolidado, e continua havendo progresso para completar o uso de todos os canais de pagamento eletrônico, «sob o princípio de que o processo bancário é uma premissa fundamental para a prestação de um serviço de qualidade», acrescentou.

O CENÁRIO ECONÔMICO É COMPLEXO, MAS NÃO PODEMOS DESISTIR DE SEGUIR EM FRENTE

As complexidades da economia cubana continuam concentrando as preocupações do governo e do povo, com destaque para a não conformidade na produção de bens e serviços e nas exportações, bem como a apresentação das estimativas com as quais a economia cubana fechará em 2024.

Miguel Díaz-Canel Bermúdez, primeiro-secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e presidente da República, destacou na última sessão do Parlamento cubano a importância da discreta diminuição do déficit orçamentário estimado para o final de 2024, no contexto de uma economia de guerra.

Esse resultado apoia o Programa de Estabilização Macroeconômica do país, com uma redução da taxa de inflação que, embora não influencie diretamente a diminuição dos preços, ajuda positivamente na elaboração do Orçamento do Estado para 2025.

A esse respeito, Díaz-Canel comentou que o resultado foi possível porque o país passou da contemplação dos fatos econômicos para a ação diante dos altos níveis de evasão fiscal e outras questões que têm um impacto negativo na dinâmica econômica do país.

No entanto, observou que ainda há muito trabalho a ser feito, pois ainda há altos níveis de subdeclaração, indisciplina no pagamento de multas e impostos, entre outros problemas e ilegalidades.

O presidente disse que o plano orçamentário para 2025, além de reduzir o déficit orçamentário, concentrará os investimentos nos problemas mais complexos que a nação enfrenta, incluindo o processo de transformação de energia para fontes renováveis.

A esse respeito, ele disse que, na medida em que houver progresso na redução gradual do uso de combustível para a geração de eletricidade, será possível reativar a economia com mais produção de bens e serviços.

CUBA PREVÊ CRESCIMENTO DE 1 % DO PIB ATÉ 2025

Joaquín Alonso Vázquez, ministro da Economia e Planejamento, destacou que este ano houve uma recuperação produtiva limitada como resultado do déficit cambial, dos efeitos sobre a disponibilidade de eletricidade e combustível, juntamente com o impacto negativo dos furacões e terremotos, que continuaram influenciando os desequilíbrios macroeconômicos internos e a inflação, entre outros fatores.

Ressaltou que os indicadores de exportação de bens e serviços não foram atingidos, nem foi possível alcançar a meta estabelecida para o turismo, o que teve um impacto negativo sobre a capacidade de ganho da economia.

No caso da agricultura, que é outro setor fundamental para o desenvolvimento nacional, acrescentou que a produção de alimentos, legumes e outras culturas ficou aquém do que foi planejado para o ano, enquanto a colheita de açúcar também não atingiu o valor prometido.

Alonso Vázquez também apontou o impacto negativo da redução na geração de eletricidade devido a um déficit tanto na capacidade de geração quanto na disponibilidade de combustível, limitando assim os resultados da produção.

Abordou os efeitos sobre os processos de investimento, devido à disponibilidade limitada de recursos essenciais para a construção, como aço e cimento.

No entanto, o ministro destacou que, com vistas a 2025, todas as capacidades da economia nacional foram revisadas e, com base nesse processo, o planejamento para o próximo ano começou com o preceito de gerenciar a crise atual, mitigar os impactos da guerra econômica e avançar mesmo nessas condições, mobilizando todas as reservas possíveis.

Para isso, planeja-se uma taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 1%, e estabelece-se como prioridade a necessidade de gerar novos recursos, impulsionar os itens exportáveis e agregar valor aos atuais, bem como promover as exportações baseadas em conhecimento e alta tecnologia, recuperar os serviços de turismo e impulsionar outros serviços profissionais, juntamente com o fluxo de investimento estrangeiro direto.

Hoje, ao fazermos uma retrospectiva do ano que está chegando ao fim, fica claro que Cuba não é apenas uma nação marcada por seus desafios, mas também por sua capacidade de superá-los.

O caminho a seguir continuará sendo complexo, especialmente marcado pela ascensão à presidência dos EUA de Donald Trump, cujo legado contra Cuba durante seu mandato anterior foi fundamental para a situação que a ilha está sofrendo hoje. Diante disso, o espírito indomável do povo cubano continuará a brilhar aos olhos do mundo, nunca se curvando àqueles que tentam impor seus ditames sobre como o mundo deve funcionar.

 

SÃO PRIORIDADES PARA O PRÓXIMO ANO:

  -  Fortalecer o trabalho político-ideológico.
  -  Consolidar a defesa da pátria.
  -  Preservação da ordem interna e combate ao crime.
  -  A recuperação do Sistema Elétrico Nacional.
   - Implementação do novo mecanismo de alocação de divisas, bem como de esquemas de financiamento fechados para o setor de exportação.
 -   Reorganização do mercado de câmbio.
  -  O aprimoramento da empresa estatal socialista e das unidades orçamentárias.
  -  O gerenciamento e a organização da participação do setor não-estatal na vida econômica e social do país.
  -  Produção nacional, incluindo a expansão e a consolidação do fornecimento de bens e serviços estatais.
  -  Proteção de pessoas vulneráveis e subsídio a pessoas em vez de produtos.
   - Ações destinadas a reduzir as desigualdades sociais.

 (Fonte: Discurso do primeiro-ministro na 9ª Sessão Plenária do Comitê Central do Partido)