Hoje é o dia dos eletricitários, «os conhecidos e os desconhecidos»
Photo: José Manuel Correa
Esta capa do jornal vai pensando em nomes específicos, mas que muito bem poderiam representar muitas pessoas.
Poderia pensar, por exemplo, em Ramón, um sujeito careca, com tom e costumes de camponês, aposentado das Forças Armadas Revolucionárias (FARs), que resolve as «bobagens da eletricidade» ao bairro todo. Desde o blecaute até instalar uma lâmpada nova. Se o equipamento velhote tem que funcionar, até os painéis solares recém-chegados ao bairro.
Em cada lar vai entrando Ramón, com seus olhos preclaros e um olhar entre carinhoso e espetador. «A eletricidade é uma só», diria a algum engenheiro que o queira contrariar, porque se alguma coisa concorre contra um título universitário, a partir de que o mundo tem universidades, é a experiência.
Estou pensando, ainda, em Ronaldo, um engenheiro elétrico, já na casa dos 50 anos, que é parecido com Juan Carlos, um cara que gerencia hospitais tanto na calma quanto em meio da tempestade. Mas Ronaldo, o engenheiro, não está à frente de hospitais mas sim do pessoal da «alta tensão».
Vimo-lo um dia, após a passagem do furacão Rafael, pensando em como erguer imensas torres metálicas de 45 metros de altura, e nos falou do furacão Ian, ou mais bem dos dias que chegaram depois, quando sua esposa estava no hospital e seu filho prestes a nascer, e alguém o ameaçou com uma sanção na empresa, caso não deixasse o desastre após o furacão em Pinar del Rio, e fosse para o hospital, para conhecer seu filho.
As pessoas não os olham meio com raiva, quando chegam aos bairros, para tirar a eletricidade?
«Não, porque as pessoas sabem que nós não tiramos o serviço, mais bem o restabelecemos».
Estou pensando, também, em Yunier, que nunca obteve cem pontos nos testes de Matemática, nem nos de História, nem de Espanhol, e sempre lhe disseram que era burro, porém, já com dez anos, sabia como fazer a instalação elétrica de uma casa, ou coisas que ninguém sabe ou imagina, como, por exemplo que, às vezes, as luzes não estão acesas porque há cupins na caixa de distribuição».
Ou em Yunier, que namorou a esposa atual, depois de lhe reparar uma panela elétrica de pressão pela qual ninguém teria dado um tostão; que quando as moedas de vinte centavos deixaram de ter uso, ele começou a utilizá-las para reparar panelas elétricas de cozer arroz; que em uma ocasião ensinou a um primo mais novo o que era um interruptor sofisticado, para que ele impressionasse a professora de Física, apesar de que nunca tinha conseguido aprender nem a mais mínima fórmula.
Estou pensando em Quintín, o eletricitário de Majagua, e no Bola, o qual conserta e inventa soluções para uma pequena hidrelétrica que gera eletricidade para mais os lares de mais de 500 pessoas, que moram perto de um rio, no mais inacessível da montanha, em Guantánamo.
Pensando, aliás, naqueles que sabem a diferença entre geração e capacidade de geração, naqueles que, como Lídice, apostam nestes dias a gerar mais um megawatt, pelo menos mais um, embora tenham que tirá-lo de qualquer lado, até do Sol.
Esta capa do jornal vai pensando naquele «eletricitário» famoso, que sofre todos os dias perante as câmeras da televisão, e que o povo de Cuba já aprendeu a identificar pelo diminutivo.
E esta capa é dedicada, sobretudo, ao «eletricitário desconhecido», do qual nos lembramos quando está chegando o furacão e depois, após a passagem da «fúria» coletiva, continua trabalhando colado a um poste; aquele que resolve a tempestade cotidiana que é parecida com a lâmpada comunitária ou «chegou o apagão»; ou até o velhote da casa do lado que sempre guarda um cabo para aquele dia qualquer ou provável em que você mesmo esteja precisando e que seja uma salvação em meio da noite.
E acontece que hoje 14 de janeiro é o dia de todos eles.
Esse é um projeto que proporciona soberania tecnológica, uma vez que, em caso de obsolescência, quebra ou bloqueio, soluções rápidas podem ser fornecidas, pois se trata de uma interface desenvolvida no país