
A história de Cuba pode oferecer, quantos desejarmos, para as gerações futuras, inúmeros exemplos de onde beber (hoje, amanhã, sempre) para nunca nos ajoelharmos submissamente.
Lá estão o cacique Hatuey, inflexível perante as chamas da fogueira; um adolescente chamado José Martí, mais duro do que os maus-tratos da prisão nas pedreiras; Carlos Manuel de Céspedes, afirmando que Oscar, seu filho vilmente assassinado, não era seu único filho, porque todos os cubanos que morreram pela liberdade eram seus; Máximo Gómez, idêntico diante da crueldade com que seu adorado Panchito foi assassinado; Julio Antonio Mella, transformado em um gigante... enquanto seu coração fingia parar; Abel Santamaría, olhando para o futuro com mais visão e dignidade do que aqueles que arrancaram seus olhos para que ele traísse...
O dia 24 de fevereiro também é um marco para todo e qualquer dia do calendário.
O ano de 1895. Se os verdadeiros homens duros (José Martí, Máximo Gómez ou Antonio Maceo...) tivessem ficado «tontos» em face da desunião que pôs fim à Guerra dos Dez Anos (1868-1978), ou com o golpe que significou o confisco pelos Estados Unidos de três navios com armas e suprimentos para reiniciar a Guerra Necessária em 1895 contra a metrópole espanhola em Cuba, a história seria uma vergonha.
Mas José Martí já havia fundado o Partido Revolucionário Cubano - PRC (justamente para unir, como seu jornal Patria) e, em uma demonstração de discrição e inteligência, enviou a ordem para o levante na Ilha.
A Espanha deve ter ficado atônita. Não se tratava apenas de Baire. O Grito (Grito maiúsculo) abalou muitos lugares, especialmente no leste de Cuba, incluindo alguns em Matanzas e Las Villas. Quem ousaria dizer que tudo estava perdido?
Semanas depois, como fazem os grandes, Martí e Gómez desembarcaram em Playita de Cajobabo, na noite escura, remando em um barco. Aquele que discursa deve liderar. Uma bela lição para quem lidera... pelo menos em Cuba.
É claro que aquele 24 de fevereiro é perfeito para nós hoje. Não para nos levantarmos contra nós mesmos (por todas as calamidades que o ódio visceral à política dos Estados Unidos nos impõe, sem ignorar o que não fizemos bem), mas contra tudo o que sutil ou abertamente procura nos dividir, nos separar, nos enfraquecer, nos confrontar como se não fôssemos todos irmãos, uma só família, sob o mesmo teto e no mesmo pátio.
Para se vingar do Grito de Baire, Valeriano Weyler, governador espanhol da Ilha na época, aplicou uma brutal reconcentração humana, em campos que poderiam muito bem ser o embrião daqueles projetados mais tarde por Adolf Hitler. Doença, fome, sofrimento extremo, morte... nada disso foi capaz de quebrar o cubano, muito pelo contrário. Obrigados à história, com certeza.
Seria uma superficialidade imperdoável subestimar a situação muito complexa pela qual estamos passando hoje, em meio à «reconcentração» (isolamento, asfixia) que o império continua tentando nos impor.
Minha pergunta é se vamos desistir, deixar que nossos joelhos se dobrem sob os efeitos da falta de combustível, da obsolescência tecnológica ou da insuficiente capacidade de geração, com os consequentes apagões, a escassez de alimentos como nunca antes, os preços que desrespeitam os salários honestos e tantas outras adversidades, inclusive os privilégios dos que muitos querem desfrutar, sem suar a camisa ou contribuir.
Não seria sensato, lógico, saudável ou justo com nossa própria história nem com aquele divino 24 de fevereiro, data escolhida muitos anos depois (em 1976) para proclamar a Constituição da República de Cuba e para endossar, no país todo, em 2019, a Carta Magna que hoje nos abriga.







