ÓRGÃO OFICIAL DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DE CUBA
A repressão aos embarques de combustível para Cuba reduziu o portfólio de fornecedores estrangeiros. Foto: Charge de Lema

«Imagino um país muito próspero, onde possamos nos desenvolver e onde todos os jovens aspirem a realizar seus projetos de vida», afirma sem hesitar quando questionada sobre como seria uma Cuba sem bloqueio. Em seguida, interrompe a conversa e exemplifica por que essa política cruel, extraterritorial e economicamente sufocante «afeta mais a população».

 Dayana Beyra Fernández, diretora da unidade de negócios da empresa de Engenharia e Projetos do Petróleo, está sentada em um modesto escritório. Atrás dela, há um busto de José Martí, duas bandeiras cubanas, um retrato de Fidel e outro de Che Guevara. E diz: «Até que alguém experimente em primeira mão a realidade do bloqueio imposto pelos Estados Unidos, não compreenderá completamente as verdadeiras dimensões desta política desumana, porque é uma maneira muito cruel de atacar um povo!»

 Na primeira vez que Dayana se envolveu no descarregamento de um navio de gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás não pôde ser transferido pelos gasodutos do cais da refinaria Ñico López até a joint venture que o recebe e o embala em pequenos cilindros, porque esses gasodutos atravessavam o território da antiga Esso Standard, que havia sido nacionalizada pelo Governo Revolucionário e que os EUA consideram em disputa.

 Embora essa alegação seja ilegítima, se a empresa concordasse em descarregar o gás por essas linhas, poderia se expor a sanções da Casa Branca.

 «Mas o gás precisava ser descarregado e, portanto, tivemos que investir em uma linha exclusiva e cara para GLP, que não passasse por essas terras, para que a empresa concordasse em operar o navio».

 Foi então que ela viu pela primeira vez que «o bloqueio é um assunto muito sério», porque as empresas estrangeiras têm medo de serem sancionadas.

 Anos mais tarde, quando trabalhava como tecnóloga de processos na usina de craqueamento catalítico, a única do gênero em Cuba e que fornecia a maior parte do gás liquefeito necessário para Havana e parte do oeste do país, presenciou outra proibição:

 «Os brasileiros que nos venderam o catalisador fecharam o contrato de repente porque uma empresa norte-americana havia comprado 50% das ações da usina».

 Ela lembra que tiveram que «correr» para encontrar um catalisador semelhante: um seletivo que permitisse obter combustíveis como gasolina e GLP a partir de um produto de menor valor.

 E o esforço, para não provocar uma paragem na produção da usina, foi enorme.

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Apagões, transporte, combustível... qualidade de vida. Dayana fala muito sobre tudo o que aflige os cubanos.

 Ela aproveita para dizer que todos os dias se depara com casos em que técnicos estrangeiros chegam ao país para implementar tecnologias necessárias para as termelétricas, mas vão embora «assim que pisam no aeroporto cubano», pressionados pelas restrições impostas do exterior.

Além disso, comenta, «há negação de crédito ou acesso a peças de reposição, mesmo que tenhamos dinheiro, porque elas contêm componentes norte-americanos. Por isso tem sido muito difícil manter as termelétricas funcionando».

 Ela também menciona que tem colegas que foram diretamente sancionados por terem a audácia de administrar empresas de comércio exterior, responsáveis pelo transporte de combustível para Cuba. «E, no entanto, eles, com muita coragem, continuam buscando alternativas e trabalhando para a estatal cubana».

 Esse cerco, que agrava as limitações financeiras, pode ser ilustrado por um exemplo simples: as transações financeiras que foram devolvidas aos bancos da Ilha, como se o dinheiro cubano não valesse nada.

 «Que meios vamos usar para levar o dinheiro ao fornecedor?», pergunta Dayana, sabendo que este é um dos mistérios para qualquer cubano.

 «A vida fica muito mais cara quando temos que realizar múltiplas conversões cambiais para adquirir um produto necessário, e isso poderia ser resolvido comprando diretamente de um fornecedor», explica.

 Dayana, que também é deputada na Assembleia Nacional do Poder Popular pelo município de Regla, na capital, mantém a mesma tenacidade de sempre: a mesma tenacidade que demonstra sempre que defende Cuba e o setor petrolífero.

 Para ela, a União Cubana de Petróleo (Cupet) está constantemente driblando o bloqueio, porque, caso contrário, "«o combustível não seria capaz de entrar no país. Está se tornando muito difícil. É por isso que devemos continuar unindo pessoas e países que apoiam a justa causa de acabar com essa política hostil dos EUA».

 «E se conseguimos sobreviver apesar dessas dificuldades que enfrentamos, com esse cerco econômico e financeiro, como seríamos sem o bloqueio?».

 «Acredito que poderíamos ter o país próspero que devemos ao povo. Uma Cuba sem bloqueio seria a que desejamos: com condições de vida superiores, com os programas da Revolução em sua melhor forma, com crianças mais felizes...»

A perseguição aos embarques de combustível para Cuba, incluindo companhias de navegação, seguradoras, resseguradoras, bancos, pessoas físicas e governos, reduziu a carteira de fornecedores estrangeiros; e os que permanecem aumentaram consideravelmente os preços, com base no risco-país.

NAS USINAS TERMOELÉTRICAS

 Desde 10 de janeiro de 2024, a usina termelétrica Ernesto Guevara (CTE) não recebeu peças de reposição para suas bombas, pois o fornecedor italiano, C.R. Technology Systems, foi adquirido pela Trillium Flow Technologies, que realiza compras dos EUA. A falta de autorização do OFAC para as licenças legais resultou na não conclusão do contrato.

 As usinas termelétricas Ernesto Guevara, 10 de Octubre e Máximo Gómez utilizam atuadores eletro-hidráulicos da Voith em suas turbinas modernizadas. Fornecedores tradicionais, como Real Control e Energo Control, relataram que, devido à Lei Helms-Burton, não podem vender esses equipamentos para Cuba.

 A Taichi HD Cuba foi solicitada a fornecer um novo sistema de excitação AVR VCS-6000 para a usina Ttermelétrica Carlos Manuel de Céspedes (CTE), e respondeu que a Mitsubishi Generator Corp. é a empresa adequada para lidar com o assunto. Mas elea não pode enviar uma cotação devido às rígidas sanções dos EUA, e isso não pode ser alterado.

 NA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO, O BLOQUEIO EM NÚMEROS

• 496.075.620 dólares em danos ao setor da Energia e Mineração (março 2025 – Maio 2025).

• 5.980 dólares foi o custo médio de um contêiner de 20 pés com recursos para a indústria petroleira, trazido da China em 2024.

• 3.920 dólares foi o custo de um contêiner trazido do Canadá.

• 2.590 o custo do contêiner trazido da Europa.

• 800-1000 seria o custo de Houston ao porto de Mariel, em condições normais, segundo a época do ano.

• 1.014.298 dólares Cuba teria poupado em 2024.

• 138.028 toneladas menos de petróleo produziu a indústria nacional, em 2024, devido à carência de recursos materiais e de financiamento.